França: o governo se mobiliza não só para facilitar o aborto, mas para transformá-lo em um princípio intocável
Grande parte da Europa ocidental já está equipada com leis contra a homofobia: quem critica a homossexualidade corre o risco de parar na cadeia. Aliás, não é que corra o risco: vai para a cadeia mesmo, como acontece toda semana na França, na Grã-Bretanha e em outros países. Na semana passada, na Escócia, um pregador que citou a homossexualidade entre os pecados graves foi encaminhado, e não muito gentilmente, para trás das grades.
Não é só isso. Com a legislação sobre a homofobia já garantida, o lobby e as potências da Europa se perguntam agora: se é crime falar mal do "casamento" homossexual, por que é que ainda é permitido falar mal do aborto? Dois pesos e duas medidas: a ideologia homossexualista já está sendo imposta obrigatoriamente por lei; a abortista ainda não.
Para remediar essa “grave desigualdade”, quem se mexeu primeiro, como de costume, foi a França. O parlamento francês está debatendo uma lei para promover (ainda mais) a “igualdade” entre homens e mulheres e os direitos das mulheres. François Hollande declarou que isso é uma prioridade do seu mandato, o que levou os humoristas franceses a indagarem como é que o presidente entende os direitos das mulheres no caso das suas muitas companheiras, que, primeiro, foram traídas repetidamente e, depois, abandonadas sem cerimônia em troca de mulheres mais jovens.
Não há nada de humorístico, por outro lado, na nova lei contrária a quem é contra o aborto. Foram apresentadas duas mudanças excepcionalmente graves na lei francesa. A primeira altera a legislação que permite o aborto às mulheres "em situação de dificuldade". É uma evidente “folha de parreira”, já que a história francesa não relata nenhum caso –nenhum!– de mulheres que tenham tido o aborto negado por não estarem na tal "situação de dificuldade". Agora, essas palavras serão alteradas e a nova lei afirmará que o aborto é permitido às mulheres "que não desejam levar a termo a gravidez". Isso, a bem da verdade, não acarretará nenhuma consequência prática, porque o aborto na França já é permitido de fato a qualquer mulher que o pedir. Mas a mudança é decisiva do ponto de vista do princípio. O aborto não será mais considerado como a consequência de uma “dificuldade”, de um drama, mas sim como uma opção completamente normal e como um direito. Por outro lado, a mudança legislativa se baseia num parecer do Conselho Superior para a Igualdade, instituição tipicamente francesa para a qual "o aborto não deve ser considerado um problema, e sim uma solução".
A ministra dos Direitos das Mulheres, Najat Vallaud-Belkacem, foi longe o suficiente para dizer que os abortos na França podem ser, hoje, “poucos demais”. A população do país teve um aumento de 1,7 milhão de indivíduos em relação a 2006. Este aumento se deve principalmente à imigração, e o presidente Hollande promete para dentro em breve a legalização da eutanásia, que suavizaria as estatísticas sobre o “excesso de velhos”. Mas não importa: para a ministra, os 35% de mulheres francesas que já abortaram e as 220 mil crianças assassinadas pelo aborto no ano passado, em comparação com os 810 mil nascimentos, parecem “pouco demais”.