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A base do amor verdadeiro é a doação recíproca

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Clarissa Oliveira - publicado em 14/02/14
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Todo aquele que busca um amor verdadeiro precisa estar disposto a viver a dinâmica da doação de si mesmo ao outroConfira a entrevista exclusiva com o Pe. Vincenzo Marcucci, responsável pelo serviço de consultoria familiar "Família Nova" de Fermo, Itália. Falamos sobre amor verdadeiro, família, relacionamento, casamento, maturidade e atitude recíproca de doação, necessária para viver um matrimônio real.

O que é o amor verdadeiro?  

Muitas vezes chamamos de "amor verdadeiro" algo que na verdade não o é, porque o confundimos com a paixão.
 
O amor verdadeiro é saber se doar ao outro. Ou seja, é uma doação recíproca, especialmente na vida de casal. Pode ser também uma doação na qual não existe essa reciprocidade. Por exemplo, uma doação dos pais a um filho; é possível  que este filho não corresponda ao amor dos pais.
 
Mas o amor verdadeiro é aquele que fala de doação, é aquele que sabe combinar também o sacrifício de si com o bem e a felicidade do outro. Amar é querer o bem e a felicidade do outro e trabalhar, empenhar-se para realizar isso. Podemos comparar o verdadeiro amor a uma flecha que parte de nós e vai ao outro. Pode retornar a nós se existe uma correspondência e pode também não retornar.

Por que o verdadeiro amor nos leva ao casamento?
 
O casamento deveria ser baseado no amor verdadeiro, ou seja, em um amor de doação recíproca. Se não existe isso, não existe casamento, não pode ser casamento. Infelizmente, muitos casamentos não nascem do amor verdadeiro porque talvez a pessoa doe amor a outras coisas, ou seja, para viver uma realidade de amor verdadeiro, é necessário uma maturidade humana, pessoal.
 
Se a pessoa não adquiriu esta maturidade em seu processo de crescimento, dificilmente será capaz de amar e de fazer outra pessoa feliz. Geralmente, nascemos narcisistas, individualistas. Depois, com o tempo, nós nos abrimos ao outro e este abrir-se ao outro, mesmo que seja natural ao homem, este entrar em relação com o outro, é uma realidade que se educa, é um processo de crescimento e muitas vezes um processo que não existe.
 
Uma pessoa é adulta na idade, mas ainda criança, ainda adolescente e incapaz de amar verdadeiramente. A crise de muitos casais se encontra exatamente aqui: possivelmente a pessoa não cresceu o suficiente para amar. É um processo desafiador e uma realidade a se cultivar todos os dias. Não é que se adquire uma vez para sempre; é um caminho contínuo.
 
Quais são os problemas mais frequentes dos casais?

Uma das maiores dificuldades é a incapacidade de comunicação. Pelos modelos recebidos na família, na educação ou na sociedade, as pessoas não são pré-dispostas à comunicação. Elas lutam para aprender a se comunicar.
 
Um dos aspectos formativos para um casal é a arte da comunicação. É um compromisso não indiferente e é necessário uma escola para isso, é preciso ter uma educação e, às vezes, as famílias, mesmo com boas intenções, não educam neste ponto. A vida conjugal está na capacidade de relacionar-se, deparar-se com os conflitos e resolvê-los juntos, buscar continuamente mediações, porque a vida é infinitamente complexa.

Como enfrentar as crises conjugais? É algo fisiológico? Quando se casa, existem crises que levam ao crescimento?
 
A crise do casal pode ser uma crise de crescimento. É uma crise fisiológica e não pode não ser, porque, quando se casa, a pessoa é movida pela força da atração, da paixão, pela atração que sente pelo outro, por tantos e tantos motivos e, com o tempo, se aprende a amar por aquilo que se é.
 
Ou seja, quando existe essa passagem da paixão ao amor, existe uma crise de crescimento, uma crise de mudança.
 
Como todas as crises, pode ser uma crise de ruptura ou uma crise de crescimento. Infelizmente, muitas vezes esta crise é interpretada como crise de ruptura e depois, quando se pede ajuda, por exemplo, a um advogado, vira conflito, o outro se torna um adversário. Ou seja, é lógico que a crise se aprofunda.
 
Se, ao invés disso, quando a crise chega, o casal busca ajuda, aí sim é possível fazer com que entenda que a crise pode ser de crescimento e dela pode nascer um matrimônio mais verdadeiro, concreto, baseado no amor verdadeiro de doação ao outro. A crise se torna providencial.

O que é uma verdadeira família?

Primeiro se constrói o casal, depois se passa à família e o casal se alarga. É um processo natural passar de casal à família quando as pessoas são maduras. Quando o amor amadurece, ele se torna procriativo, ou seja, o casal se torna fecundo.
 
Se este filho não vem, pode-se adotar um. Contudo, existe sempre uma fecundidade, que se desenvolve no casal, no confronto entre os dois, até que esta fecundidade se expanda.  O casal precisa desta fecundidade para ser casal; do contrário, fecha-aw em si mesmo e, de um narcisismo individual, torna-se um narcisismo de casal.
 
Mas a fecundidade tem sempre este processo, é a consequência de um amor verdadeiro, de um amor profundo, de um amor que se torna responsável, generoso. Porém, é deve existir sempre este amor e a capacidade de se doar ao mundo externo, no âmbito eclesial e social, aceitando e interpretando o desejo de Deus de dar um filho à Igreja, à sociedade. Aí sim passa a ser uma família.
 
O modelo para a família cristã é a família de Deus, a família da Santíssima Trindade, ou seja, um modelo muito alto. O casamento é um sacramento, um encontro com Cristo que dura a vida toda.

Qual é o papel da oração em família?
 
Uma característica fundamental do casal e da família é a comunicação, porque em família se ama de várias formas, tudo unido à comunicação. É lógico que a comunicação com Deus é uma comunicação importante, a família precisa dela, porque Deus é o modelo da vida em família. Ele é o modelo de escuta, de disposição, de acolhimento. Deus é o modelo do amor.