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Priorizar a catequese com adultos

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Zenit - publicado em 03/03/14
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É um fato irrefutável em nossa Igreja: há sempre católicos que se afastam dela
A Segunda Semana Brasileira de Catequese foi dedicada à catequese com adultos, sendo o seu lema: COM ADULTOS, CATEQUESE ADULTA. Vários conferencistas discorreram sobre essa tema, apresentando pesquisas, sugestões e perspectivas para uma eficiente catequese com adultos.  Entre eles quero lembrar Dom Juventino Kestering que, entre tantos argumentos na sua conferência, destacou: “Muitos católicos não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento pessoal da fé, através de uma verdadeira experiência catequética. Esses católicos não sentem uma vinculação atual com a Igreja. São atraídos por outras religiões ou anônimos e sem pertença a uma comunidade” (Estudos da CNBB 84, p.265).

É um fato irrefutável em nossa Igreja: há sempre católicos que se afastam dela. Sem desprezar os vários motivos que os pesquisadores apontam, quero refletir sobre o conteúdo da catequese de algumas comunidades, sem generalizar.

CONVERSÃO E FÉ

A catequese, respeitando a pedagogia por idade, não pode ser um verniz que é aplicado apenas na superfície, há de penetrar na vida das pessoas, provocando uma conversão interior. O conteúdo há de ser algo que responda a pergunta: “vocês entenderam o que vos fiz?” (cf. Jo 13,12). O ministério catequético é sempre o de instrução acompanhado do testemunho, devendo ter clareza no conteúdo para provocar uma transformação espiritual.

Os elementos da catequese são ordenados não só para conhecer Jesus Cristo, pois os demônios também o conhecem (cf. Mc 5,7-13) e continuam sendo demônios, mas provocar uma adesão a Cristo, “num processo de conversão permanente, que dura toda a vida” (cf. Diretório Geral da Catequese, 56). Por isso, a fim de atender seus princípios, necessita de uma ordenação sistemática e orgânica para entrar na revelação que Deus faz de si mesmo, contida na Sagrada Escritura, guardada na memória da Igreja e transmitida a todos, de geração em geração. Aqui podemos perguntar: o que o catequista está transmitindo é o que foi revelado por Deus (catequese bíblica)? Há sintonia entre o catequista e o Magistério da Igreja (catequese eclesial)? O catequista vive o que transmite, frequentando os sacramentos, encarnando em si a Palavras de Deus, amando o próximo, tendo uma vida de testemunho? Para que a catequese provoque adesão permanente a Cristo é preciso que entenda a pergunta-ordem de Cristo: “Vocês entenderam? […] Como eu vos fiz, também o façais” (cf.Jo 13,12.15).

A CATEQUESE É CRISTOLÓGICA

O Pai é revelado pelo Filho. Só se chega ao Pai através do Filho: “Quem me vê, vê o Pai… eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,9-10). Então, para se chegar ao mistério revelado, que é a finalidade da catequese, ela tem que ser cristológica. Cristo é o objeto e o sujeito da catequese. “A finalidade da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo: somente ele pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade” (Catequese Hoje, n. 5).

A Catequese entra na vida de Jesus, caminha com Ele, come com Ele, bebe comEle, sofre com Ele, aprende na escola de Jesus. A catequese não é só instrução, transmissão de doutrina, mas uma experiência de vida em Cristo, por isso é entender a vida através da vida de Cristo, é ver a vida através da vida d’Ele. É muito difícil abandonar o Cristo depois de conhecê-lo por inteiro. No discurso do Pão da vida, aqueles que não conseguiram entrar no mistério de Cristo, debandaram-se; e Pedro, em nome dos que já haviam aderido totalmente a Ele, dá a resposta pela fé: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (cf. Jo 6,60-69).

Se a catequese não entrar na vida, no Reino de Deus que já está no meio de nós, e que foi pregado por Cristo, torna-se um verniz que evapora e desaparece. E poderíamos perguntar: será que muitos que deixaram a Igreja não o fizeram por falta de uma catequese fundada em Cristo?

CONCLUSÃO À TÍTULO DE REFLEXÃO

Certa ocasião, perguntei a uma jovem que ia receber o sacramento da Confirmação: você gostou da catequese? E ela respondeu: “gostei muito”. Continuei: de que você gostou mais?  E ela: “das gincanas, das dinâmicas”. Insisti: o que essas gincanas e dinâmicas transmitiram-lhe?  E a resposta: “não me lembro, mas eram muito divertidas”.

Uma catequese sem conteúdo são palavras jogadas ao vento. Não educam para a fé, facilitando o êxodo. É preciso sair de si mesmo, da individualidade do catequista, para entrar na comunidade de Cristo, seguindo-O até o Calvário.

***

Por José Barbosa de Miranda: Diácono Permanente na Arquidiocese de Brasília. Bacharel em Teologia pela PUC-Goiânia. Pós-graduado em Catequese pelo Centro Universitário Salesiano – UNISAL – São Paulo. Professor na Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília. Colaborador na formação dos  noviços do Seminário São Luiz Orione, de Brasília.

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