Mas essas meninas, depois de adultas, conseguem voltar a relacionar a sexualidade com a afetividade?
Bianchi: Sim, quando elas notam o vazio existencial dos relacionamentos em que o amigo clássico não é mais suficiente. Elas querem uma relação mais intensa e significativa, e acontece que aí elas "se agarram" ao rapaz por quem se apaixonam. Mas o problema é que, se aquele sentimento não é correspondido, essas meninas aceitam e concordam com tudo o que os rapazes querem. Vou dar um exemplo: eu conversei com meninas que foram agredidas pelos, digamos assim, “namorados”, e elas me diziam que estavam contentes. Quando eu perguntava por quê, elas respondiam: "Se ele me bate, quer dizer que ele se importa comigo". Estamos saindo completamente dos limites do bom senso. A questão nem é tanto denunciar um fator relacionado com uma idade ou com um evento: o panorama, o conjunto, é que é pesado. Estamos diante de meninas que, aos 13 anos de idade, “precisam” perder a virgindade, que fazem atividades sexuais como se fosse um tipo de ginástica, que se entregam com uma facilidade incrível. Quando aparecem aqueles casos de meninas se prostituindo, eu me pergunto como é que os adultos ainda se espantam. Se o roubo, para mim, não é roubo, é claro eu vou questionar quando me prenderem: "O que foi que eu fiz?". E as meninas, que são mais sinceras que os meninos, dizem abertamente: "Eu fiz isso porque eu queria dinheiro, porque eu queria uma vida boa". Ou seja, elas não estavam desesperadas. Muito pelo contrário: aquilo era “normal”.