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Papa Francisco e a mídia: quem ganhou o primeiro round?

Pope Francis and the Media Round 1 Who Won Rolling Stone – pt

Rolling Stone

James V. Schall, S.J. - publicado em 15/03/14

Se a mídia conseguir implantar o suposto “espírito do papa Francisco” no lugar daquilo que ele realmente diz, ela vencerá

É de se perguntar se os cardeais que elegeram Jorge Bergoglio como papa depois da renúncia de Bento XVI estão satisfeitos com a escolha. Se bem que, decisão tomada, o que eles pensem agora sobre isto faz pouca diferença.

Muitos bispos e cardeais parecem ter optado por um papa "pastoral", não intelectual. E este é o papa que eles conseguiram. É claro que João Paulo II era tanto um papa intelectual quanto pastoral. Bento XVI, que foi simplesmente a mente mais privilegiada do nosso tempo, era muito mais pastoral do que em geral se reconhece.

O papa argentino quer conhecer e abraçar todo mundo. Ele é impaciente com os burocratas, do clero e de fora. Ele prefere ônibus e bicicletas. Ele gosta de viver em comunidade. Ele acena. E, pelo que eu vejo, o papa Francisco gosta de ser papa. Dizem que um dos papas renascentistas disse ao seu irmão: “Deus nos deu o papado: vamos desfrutá-lo!”. Há algo desse espírito leve no papa Francisco. Ele mostra poucos sinais de tristeza ou de ter que arcar com o peso do cargo. Acho que ele disse, numa entrevista recente, que não tem problemas para dormir à noite.

Uma das piadas que correm por aí é que o próximo papa será um franciscano que adotará o nome de Inácio. Obviamente, o papa Francisco fala constantemente da pobreza. No início, ele não parecia ter muitas pistas sobre o que causa a pobreza nem sobre as soluções para ela. Mas, apesar do que diz sobre o capitalismo, ele parece entender a necessidade do trabalho, do mercado, da inovação e de uma economia que funcione, como a verdadeira solução para os problemas da pobreza.

Em alguns aspectos, o papa Francisco fala como um utópico impaciente. Ele critica os líderes mundiais por não terem resolvido tudo ontem. Ele quer soluções para a pobreza já. Na verdade, a quantidade de gente no mundo que conseguiu sair da pobreza nas últimas décadas é impressionante. O papa se mostra ciente disso, mas ainda parece subestimar os problemas do pecado, da ganância e da corrupção que, em todos os lugares, são as principais causas da pobreza.

Até onde eu consigo julgar, o mais grave problema que o papa enfrenta é de relações públicas. Ele é assim mesmo: desde o início, ele tem feito declarações públicas sobre compaixão e bondade que fazem parecer que ele está prestes a mudar a doutrina católica básica em questões como casamento, aborto, divórcio e homossexualidade, as áreas em que a fé mais precisa do apoio dele. O efeito destas observações amplamente citadas tem sido o surgimento de um grande número de seguidores que têm certeza de que tais mudanças ocorrerão em breve. Perceba o papa ou não, o fato é que, quando ele reafirma a sua adesão às posições ortodoxas, isso nunca é relatado pela mídia mundial.

Os meios de comunicação sabem que influenciam por imagem e repetição. Tudo o que o papa diz e que pode ser interpretado como aceitação dessas aberrações é transmitido para o mundo todo. Mas tudo o que o papa diz para negar essa visão é largamente ignorado. Eu não me arriscaria a afirmar se o papa sabe ou não que as suas palavras estão sendo manipuladas.

De qualquer forma, o que grande parte da mídia está fazendo é criar um “espírito de mudança radical do papa Francisco”. Se a mídia conseguir implantar este suposto “espírito do papa Francisco” no lugar daquilo que ele realmente diz, a mídia vencerá a batalha. E quando o papa disser qualquer coisa "ortodoxa", a mídia o acusará de descumprir as suas próprias promessas. Ele será então pintado pela mídia mundial como um hipócrita confuso.

No decorrer de um ano, um papa aprende muitas coisas. Apesar das promessas de ação em várias frentes, temos visto muito pouca "ação" real deste papa. Se isto significa que ele é cauteloso ou que precisa de tempo para analisar o panorama completo, é difícil dizer. Teria sido imprudente, sem dúvida, o papa correr e mudar tudo antes de ter uma visão abrangente, e, para ter essa visão, eu duvido que um ano seja suficiente.

Embora o papa pareça ter boa saúde, ele não pode, nessa idade, contar com muitos anos de força pela frente. Ele tem que pensar no resultado que deseja legar com o seu papado. Ele quer que todos amem a Deus e se comportem em consequência. Seus críticos e admiradores gostariam que ele fosse um pouco mais cuidadoso. Ele foi eleito papa para governar a Igreja, ensinar e santificar. Para conseguir esta última meta, ele não pode ignorar as duas primeiras, que constituem a unidade do seu ministério.

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