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O Conclave de Bergoglio

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VINCENZO PINTO

IHU - publicado em 16/03/14

O que aconteceu na Sistina, entre os dias 12 à tarde e 13 de março de 2013, foi consequência dos intensos e francos debates entre os cardeais

Por Andrea Tornielli, no Vatican Insider. Tradução do Cepat

Há um ano, dia 12 de março, à tarde, o Conclave que devia eleger ao sucessor de Bento XVI, o primeiro Papa da história que renunciou por motivos de idade, começou com muita incerteza, muito maior do que a que se respirava em abril de 2005, quando os purpurados eleitores (menos dois: Joseph Ratzinger e William Wakefield Baum) enfrentavam, pela primeira vez, a experiência de um Conclave, mas contavam com um candidato cuja autoridade era universalmente reconhecida, inclusive pelos que até o final não votaram nele. Este candidato contava, desde o princípio, com um grande número de consensos: o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que seria eleito na quarta votação e escolheria o nome de Bento.

O clima de 2005 era muito diferente do clima de 2013. Há nove anos, o mundo chorava a morte de um Pontífice considerado um gigante da fé, que havia reinado durante muitos anos e que marcou as mudanças históricas do último quarto do século XX, que introduziram a Igreja no novo milênio.

Em 2013, o que imperou foram os escândalos, em particular certa gestão da Cúria Romana. Muitos dos problemas em questão tinham sido originados no Pontificado wojtyliano e Bento XVI buscou remediá-los com muita coragem (basta lembrar as normas contra a pedofilia e a transparência vaticana), mas pagava pela falta de colaboradores que estivessem à altura de sua tarefa.

O que aconteceu na Sistina, entre os dias 12 à tarde e 13 de março de 2013, foi consequência dos intensos e francos debates que os cardeais (eleitores e não eleitores) tiveram uma semana antes doConclave. Muitos, muitíssimos dos discursos cardinalícios enfatizavam a necessidade de uma clara mudança de direção na gestão de uma Cúria que parecia muito atingida pelas lutas internas e alguns grupos de poder. Inclusive, talvez, os meios de comunicação traçaram um panorama muito obscuro, porém os que de dentro do Vaticano se obstinavam a culpar os jornalistas (aqueles que viam somente o dedo que apontava o sol) tiveram uma desagradável surpresa nesse dia. Os purpurados de todo o mundo chegaram bem informados e com as ideias muito claras em relação às mudanças necessárias.

O único candidato italiano era o arcebispo de Milão, Angelo Scola, e contava com um consistente “pacote” de votos, inicialmente. Era considerado o cardeal que de alguma maneira teria sido indicado por Bento XVI à Igreja mundial, em razão de sua passagem da sede patriarcal de Veneza à Arquidiocese de Milão. No entanto, muitos purpurados estrangeiros, e inclusive alguns italianos, consideravam que a Cúria e a Itália estavam demasiado envolvidas e tinham excessivas responsabilidades nos problemas dos últimos três anos do Pontificado ratzingeriano. Por esse motivo, o apoio ao cardeal de Milão (que durante a primeira e a segunda votação obteve a maior parte dos votos) não aumentou. E, inclusive, a operação completamente curial de apostar no arcebispo de São Paulo – Brasil, Odilo Pedro Scherer, foi considerada por muitos como algo bastante míope.

Porém, não se deve pensar que as congregações gerais realizadas antes do Conclave foram marcadas apenas pelo sentimento contrário à Cúria e pelo “conventio ad excludendum” para frear os candidatos europeus ou italianos. Os purpurados dialogaram durante muito tempo sobre a vida da Igreja e sobre o seu futuro, especialmente, sobre o que era necessário naquele momento.

Duas intervenções surpreenderam aos cardeais que estavam se preparando para eleger ao sucessor de Ratzinger. A primeira foi a pronunciada pelo arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, no dia 7 de março (que foi divulgada após sua eleição pelo cardeal de Cuba); a segunda foi a do arcebispo de Manila, Luis Antonio Tagle. Dois purpurados que oferecem serviços no “fim do mundo”. Bergoglio, em particular, entusiasmou seus irmãos. Falou durante três minutos (embora tivesse à disposição cinco, como todos) e se concentrou sobre a missão, sobre uma Igreja que deixe de se concentrar sobre si mesma, que deixe de ser autorreferencial e que saia para levar aos que sofrem no corpo e no espírito a mensagem da misericórdia de um Deus próximo: “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir às periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, da injustiça, as da ignorância, da ausência de fé, as do pensamento, as de qualquer forma de miséria”.

Foi justamente nesse momento que a sua candidatura ganhou força, e muitos começaram a considerá-lo o seu candidato. Apesar do fato de que tinha 76 anos e não ser segredo que no Conclave que elegeu Ratzinger foi o segundo na votação. No dia 12 de março, no período da tarde, Bergoglio obteve surpreendentemente um número elevado de votos e ficou em terceiro lugar entre os candidatos mais conhecidos e favoritos. Uma situação que se repetiu, novamente, durante a primeira votação do dia 13 de março pela manhã.

A mudança veio com o escrutínio da segunda votação da manhã (a terceira do Conclave), quando Bergoglio deu um inesperado salto e superou os 50 votos, deixando para trás os demais candidatos. O almoço desse dia foi decisivo, assim como também foi o almoço do segundo Conclave de 1978, quando os últimos indecisos tomaram partido por Wojtyla, e como aconteceu durante o Conclave de 2005. No caso de Bergoglio, precisavam ser desmentidas duas lendas metropolitanas: a primeira era a de sua possível renúncia durante o Conclave de 2005. Renúncia inexistente, pois o arcebispo de Buenos Aires, em 2005, nunca chegou a ter um número tão significativo de votos. A segunda lenda era sobre a sua saúde e o fato de que possuía apenas um pulmão. O atual Papa sofreu uma operação pela qual lhe tiraram um pedacinho do pulmão, mas foi em inícios dos anos 1950 e continuou vivendo sem nenhum problema, inclusive com os ritmos de trabalho aos quais está acostumado.

Desse modo, na primeira votação da tarde do dia 13 de março (a quarta do Conclave), Bergoglio obteve ainda mais votos. Só lhe faltava alguns para chegar ao número de 77, a quantidade de dois terços que a Igreja considera indispensáveis (o Papa deve ser eleito como expressão de uma ampla maioria e não de uma parte). A segunda votação da tarde (a quinta do Conclave) não chegou ao escrutínio, porque um dos cardeais cometeu um erro (não se deu conta de que usou uma cédula junto com uma segunda que ficou em branco). A sexta votação foi a última, a da eleição. Superado o “quórum”, Bergoglio recebeu o abraço do cardeal que estava sentado ao seu lado, Claudio Hummes, e de suas palavras (“não se esqueça dos pobres”) recebeu a inspiração para escolher o nome de Francisco. Como primeiro gesto, o novo Papa se dirigiu até onde estava Scola e o abraçou. Uma hora depois da “fumaça branca”, apareceu pela primeira vez na sacada para a Praça São Pedro e começou um Pontificado cheio de novidades.

(IHU On Line)

Tags:
CardeaisConclavePapa Francisco
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