O que aconteceu na Sistina, entre os dias 12 à tarde e 13 de março de 2013, foi consequência dos intensos e francos debates entre os cardeais
Por Andrea Tornielli, no Vatican Insider. Tradução do Cepat
Há um ano, dia 12 de março, à tarde, o Conclave que devia eleger ao sucessor de Bento XVI, o primeiro Papa da história que renunciou por motivos de idade, começou com muita incerteza, muito maior do que a que se respirava em abril de 2005, quando os purpurados eleitores (menos dois: Joseph Ratzinger e William Wakefield Baum) enfrentavam, pela primeira vez, a experiência de um Conclave, mas contavam com um candidato cuja autoridade era universalmente reconhecida, inclusive pelos que até o final não votaram nele. Este candidato contava, desde o princípio, com um grande número de consensos: o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que seria eleito na quarta votação e escolheria o nome de Bento.
O clima de 2005 era muito diferente do clima de 2013. Há nove anos, o mundo chorava a morte de um Pontífice considerado um gigante da fé, que havia reinado durante muitos anos e que marcou as mudanças históricas do último quarto do século XX, que introduziram a Igreja no novo milênio.
Em 2013, o que imperou foram os escândalos, em particular certa gestão da Cúria Romana. Muitos dos problemas em questão tinham sido originados no Pontificado wojtyliano e Bento XVI buscou remediá-los com muita coragem (basta lembrar as normas contra a pedofilia e a transparência vaticana), mas pagava pela falta de colaboradores que estivessem à altura de sua tarefa.
O que aconteceu na Sistina, entre os dias 12 à tarde e 13 de março de 2013, foi consequência dos intensos e francos debates que os cardeais (eleitores e não eleitores) tiveram uma semana antes doConclave. Muitos, muitíssimos dos discursos cardinalícios enfatizavam a necessidade de uma clara mudança de direção na gestão de uma Cúria que parecia muito atingida pelas lutas internas e alguns grupos de poder. Inclusive, talvez, os meios de comunicação traçaram um panorama muito obscuro, porém os que de dentro do Vaticano se obstinavam a culpar os jornalistas (aqueles que viam somente o dedo que apontava o sol) tiveram uma desagradável surpresa nesse dia. Os purpurados de todo o mundo chegaram bem informados e com as ideias muito claras em relação às mudanças necessárias.
O único candidato italiano era o arcebispo de Milão, Angelo Scola, e contava com um consistente “pacote” de votos, inicialmente. Era considerado o cardeal que de alguma maneira teria sido indicado por Bento XVI à Igreja mundial, em razão de sua passagem da sede patriarcal de Veneza à Arquidiocese de Milão. No entanto, muitos purpurados estrangeiros, e inclusive alguns italianos, consideravam que a Cúria e a Itália estavam demasiado envolvidas e tinham excessivas responsabilidades nos problemas dos últimos três anos do Pontificado ratzingeriano. Por esse motivo, o apoio ao cardeal de Milão (que durante a primeira e a segunda votação obteve a maior parte dos votos) não aumentou. E, inclusive, a operação completamente curial de apostar no arcebispo de São Paulo – Brasil, Odilo Pedro Scherer, foi considerada por muitos como algo bastante míope.
Porém, não se deve pensar que as congregações gerais realizadas antes do Conclave foram marcadas apenas pelo sentimento contrário à Cúria e pelo “conventio ad excludendum” para frear os candidatos europeus ou italianos. Os purpurados dialogaram durante muito tempo sobre a vida da Igreja e sobre o seu futuro, especialmente, sobre o que era necessário naquele momento.
Duas intervenções surpreenderam aos cardeais que estavam se preparando para eleger ao sucessor de Ratzinger. A primeira foi a pronunciada pelo arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, no dia 7 de março (que foi divulgada após sua eleição pelo cardeal de Cuba); a segunda foi a do arcebispo de Manila, Luis Antonio Tagle. Dois purpurados que oferecem serviços no “fim do mundo”. Bergoglio, em particular, entusiasmou seus irmãos. Falou durante três minutos (embora tivesse à disposição cinco, como todos) e se concentrou sobre a missão, sobre uma Igreja que deixe de se concentrar sobre si mesma, que deixe de ser autorreferencial e que saia para levar aos que sofrem no corpo e no espírito a mensagem da misericórdia de um Deus próximo: “A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir às periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, da injustiça, as da ignorância, da ausência de fé, as do pensamento, as de qualquer forma de miséria”.