Em apenas um ano de pontificado, como pode ter aumentado tanto o nível de interesse da sociedade pela Igreja Católica?
Por ocasião do primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para América Latina, pronunciou algumas palavras ontem, dia 18, no auditório Pio X. Confira, a seguir, alguns trechos da sua intervenção:
Primeiro ano do Papa Francisco: surpresa de Deus
Já se passou um ano desde que Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco, sucedeu Bento XVI, primeiro papa a renunciar por escolha pessoal, plenamente livre e ponderada. Com esta surpresa imensa que inaugura uma virada do papado na nossa época, Francisco correspondeu multiplicando as surpresas, mostrando ter compreendido bem os gestos históricos de seu venerável antecessor.
Sobretudo na escolha do nome, Francisco, que anuncia uma reforma da Igreja, não é tão convencional. Surpresa do continente de proveniência, América Latina, o “fim do mundo”, onde abundam as “periferias existenciais” que, para o Papa latino-americano, indicam um lugar espiritual que exige o vigor da missão da Igreja.
Surpresa do título por ele preferido, "Bispo de Roma", para colocar o acento numa colegialidade episcopal de forte potencialidade ecumênica. Surpresa de sua residência, não ao interno do Palácio Apostólico, mas no meio das pessoas e próximo daqueles que passam. Surpresa do seu estilo, muito espontâneo, que acumula simpatia e alegria da parte dos fiéis – que constituem a base do povo de Deus – e favorece a familiaridade.
Surpresa dos seus gestos, que exprimem a sua vontade de comportar-se como uma pessoa normal: pagar a conta no hotel, carregar a mala, visitar os santuários para confiar-se à Virgem Maria, ligar para os amigos, ou até para pessoas necessitadas que ele escolhe dia após dia.
A pergunta que não quer calar no final do primeiro ano de pontificado de Francisco é: em apenas um ano de pontificado, como pode ter aumentado tanto o nível de interesse da sociedade pela Igreja Católica? Como pode a estima geral pelo Papa Francisco constituir um salto qualitativo para evangelização, uma espécie de salto inesperado, do qual os observadores, dentro e fora da comunidade eclesial, mantêm comentários sem fim?
O Papa Francisco não tem estratégias de comunicação, ele é uma estratégia! Não construiu um plano para atuar por um ano como fruto de uma perfeita programação e de um tipo de magia na realização. Pelo contrário. O cardeal Bergoglio não pensava em ser eleito e esperava, sim, que voltaria a Buenos Aires, próximo das ovelhas que a ele haviam sido confiadas e das quais possui verdadeiramente o cheiro.
Eis, sem dúvida a primeira chave do seu sucesso. O Papa Francisco foi pego de surpresa e não se perguntou como entrar em um papel de pastor universal determinado. Em plena simplicidade e autenticidade, ele continuou a ser bispo, o bispo de Roma, depois de ser bispo de Buenos Aires.
Fazendo assim, iniciou a reforma da Igreja com a reforma do ministério petrino, dando a ele um caráter mais imediata e diretamente pastoral, abolindo as distâncias criadas e mantidas pelos costumes seculares impostos pelas monarquias deste mundo. Daí a sua paixão pela evangelização dos pobres e os seus contínuos apelos por uma conversão pastoral que transmita a todos os batizados a consciência da identidade missionária.
Francisco iniciou a reforma da Igreja com sua própria casa e, mais ainda, consigo mesmo. Contam que, em Buenos Aires, nos momentos em que era fotografado, em ocasiões como uma cerimônia de Crisma, precisava se esforçar para sorrir, porque sempre foi bastante sóbrio. Que mudança, agora que seu sorriso radiante se tornou sua marca registrada! É um detalhe, mas que revela um estado de ânimo e uma alegria interior que sabe se comunicar.