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Vaticano: os guardiões secretos, mas pouco discretos, da Basílica de São Pedro

Vatican The Secret but Not so Quiet Guardians of St Peters Javier Garcia – pt

Javier Garcia

Carly Andrews - Aleteia Vaticano - publicado em 23/03/14

Existem vigilantes no coração da Igreja que talvez você nunca imaginasse...

Imagine a cena: túmulo do beato João Paulo II, Basílica de São Pedro, missa de manhã cedo.

O ambiente era perfeito: o sacerdote, meu amigo, celebrava e dava uma homilia arrebatadora, o sol fluía suavemente, em cascatas de ouro sobre os grandes pilares de mármore. Eram 7h30 da manhã: as hordas de turistas ainda não tinha inundado a cripta da basílica. Tudo era calmo e tranquilo…

Eu então me levantei para receber o Santíssimo Sacramento, justo em frente à tumba. Voltei para o meu lugar, me sentei e fiz as minhas orações em calma contemplação pós- comunhão, quando, de repente… 

Eis que, completamente do nada, uma idosa senhora italiana alçou-se na plenitude da sua pouca estatura, cheia de ardorosa indignação! Como todas as pequenas senhoras idosas da Itália, no calor do fim do verão, ela estava enrolada em várias camadas de roupa, como se 30 graus de temperatura não fossem quente o suficiente; seu rosto apresentava as marcas de muitos agradáveis verões italianos, mas, sob o elegante chapéu, ela se mostrava graciosa em sua indignada compostura.

No mais genuíno estilo romano, ela gritou "Aô!!!", com as mãos gesticulando descontroladamente. O objeto de sua fúria era um pobre rapaz que tinha recém-recebido a Eucaristia nas mãos e cometido o terrível erro de ir retornando pelo corredor sem ainda ter colocado a hóstia na boca.

"Ma mettilo in boca!" [Coloque-o na boca!], bradou ela em alta voz, com aquele ardente olhar de mamma fixo no rosto perplexo do jovem. O pobre homem rapidamente colocou a Eucaristia na boca e se sentou, sentindo-se, imagino eu, injustamente brutalizado.

A idosa senhora, satisfeita com a missão cumprida, deu um pequeno gemido de aceitação e sentou-se contente, voltando para a sua oração.

Com toda a probabilidade, o jovem teria a intenção de receber a Eucaristia naquele mesmo segundo. Já o gesto da senhora, de se levantar e gritar com quem está prestes a comungar, não é coisa que a maioria das pessoas concordaria em chamar de comportamento adequado durante a missa, mas o que eu notei foi que aquela velhinha italiana, mesmo com certa falta de finesse, tinha assumido uma sagrada missão toda dela…

Ela estava protegendo o seu amado Cristo, em uma basílica por onde milhares de turistas passam todo dia, no coração pulsante da Igreja, sobre a própria rocha em que a Igreja foi levantada: São Pedro. A senhora se sentava durante a missa e mantinha o olho em cada pessoa que recebia o corpo de Jesus, certificando-se de que elas o receberiam devidamente.

De certa forma, ela me recordou o pequeno São Tarcísio, jovem do século III acusado de levar a Eucaristia para os cristãos presos. Ele foi pego no flagra por um grupo de gente violenta. Em vez de entregar o seu Cristo a um destino terrível, ele manteve as mãos firmes em torno da Eucaristia e ofereceu a si próprio ao destino cruel. São Tarcísio foi espancado até a morte.

Quanto amor, quanta reverência por Cristo! A ideia de ver Jesus sendo levado embora e usado para algum fim perverso levou cada um deles a agir do jeito que agiram: o pequeno santo, entregando a própria vida; a velhinha italiana a se levantar em viva guarda e a dar um grito retumbante durante a missa…

São Pedro pode ter seus guardas suíços, mas Cristo, em São Pedro, conta com as pequenas senhoras idosas italianas. E elas montam guarda sem dificuldades; um pouco ruidosamente, em todo caso…

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