Felizmente, Marx não estava sozinho. Havia outra voz clamando no deserto social. Era a voz do papa Leão XIII. Como muitos outros, ele viu o mal óbvio do capitalismo, que é a alienação da propriedade, mas também viu que a cura proposta por Marx seria pior do que a doença.
Assim, em maio de 1891, ele lançou a grande encíclica Rerum Novarum, na qual condena firmemente tanto o capitalismo quanto o socialismo, corrigindo os erros que ambos tinham cometido a propósito da ideia de propriedade privada.
Primeiro, o papa notou as tristes condições causadas pelo capitalismo desenfreado:
“A contratação de mão de obra e a condução do comércio estão concentradas na mão de relativamente poucos; deste modo, um número pequeno de homens muito ricos pode impor à massas dos trabalhadores pobres um jugo pouco melhor que o da própria escravidão” (3).
A seguir, ele condenou a solução marxista:
“Para remediar tais erros, os socialistas, trabalhando sobre a inveja que o pobre tem do rico, esforçam-se para acabar com a propriedade privada e afirmam que as posses individuais devem tornar-se propriedade comum de todos. Mas as suas afirmações são tão claramente impotentes para acabar com a controvérsia que, com elas, o trabalhador seria dos primeiros a sofrer” (4).
Por fim, ele propôs a verdadeira solução, oposta tanto ao capitalismo quanto ao socialismo:
“A propriedade privada deve ser considerada sagrada e inviolável. A lei, portanto, deve favorecer a propriedade e adotar como política a de levar o maior número possível de pessoas a se tornarem proprietárias” (46).
O capitalismo tinha concentrado a riqueza em grau extremo. O socialismo procurava apenas completar o trabalho, transferindo a propriedade já concentrada para o governo. Leão XIII argumentou numa direção oposta a ambos: na direção da propriedade real para o trabalhador e para a sua família.
A constatação de que o socialismo representa uma concentração perigosa da propriedade fora das mãos das famílias é coisa clara nos dias de hoje: não preciso insistir neste ponto. No entanto, a constatação de que o capitalismo faz exatamente a mesma coisa é considerada praticamente uma “heresia moderna”, em especial nos círculos conservadores: portanto, esta tese exigirá argumentação. É esta argumentação que eu pretendo apresentar na próxima semana.