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Paz e alegria diante do câncer: Deus também se manifesta nele

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Alfa y Omega - publicado em 14/04/14
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Conheça o emocionante testemunho de uma mulher que descobriu na doença a mão poderosa e carinhosa de DeusBelém foi diagnosticada com câncer, mas, nesta circunstância, descobriu a mão poderosa e carinhosa de Deus, que cuidava dela, dando-lhe “uma paz imediata, e também uma alegria enorme, transbordante”. As seguintes linhas, escritas por ela , foram lidas pelo seu marido durante seu funeral.

Meu nome é Belém, sou casada e tenho quatro filhos: 21, 19, 17 e 15 anos. Sou bióloga e, ainda que tenha passado por diversos empregos, o último, até o surgimento da doença, foi o de traduzir livros para uma editora.

Quando o câncer apareceu, há 5 anos, minha vida deu um giro completo. Mas minha primeira reação, ao receber a notícia, foi a pergunta “Por quê?”, mas sobretudo “Para quê? O que queres com esta doença, Senhor?”.

Depois disso, surgiu a consciência de que minha vida estava nas mãos de Deus, a consciência de pertencer a Ele, a consciência de que Ele nunca me abandonou. Então, que se faça a sua vontade. Este abandono em suas mãos misteriosamente produziu em mim não só uma paz imediata, mas também uma alegria enorme, transbordante.

Muitas pessoas me dizem que eu estou bem porque sou forte. Mas isso não é verdade, em absoluto. Se este “estar bem” dependesse de mim, de não sei que estranha energia interna, eu já teria desistido faz tempo. Porque a incerteza sobre o futuro produz uma vertigem gigante. E só conseguimos sair dessa vertigem quando dirigimos o olhar para o lugar certo, que evidentemente não somos nós, mas Jesus.

Para mim, o verdadeiro milagre não é ser curada (claro, seria maravilhoso), mas que eu possa estar vivendo esta circunstância, que não é fácil, não só contente, mas também agradecida, porque concebo a doença como o método que Deus escolheu para me educar, o caminho que preciso percorrer para aprender quem sou eu e para que estou neste mundo.

Quem me ajuda a percorrer este caminho? Deus cuida de mim e me acompanha por meio de muitos rostos. Em primeiro lugar, por meio do meu marido, que está sempre ao meu lado, sustentando-me e ao mesmo tempo me corrigindo, com infinita paciência e carinho.

Nossa relação, nestes 5 anos, mudou muito, e para melhor. Ela se tornou mais profunda, mais verdadeira, mais essencial. Nós dois podemos dizer que, ao aceitar esta circunstância como permitida para conhecer Jesus e, portanto, como um bem para nós.

Meus filhos também me ajudam, cada um do seu jeito, porque a minha doença não os deixa indiferentes e eles precisam lidar com ela, têm necessidade de perguntar e buscar respostas. Por exemplo, meu filho mais novo me perguntou como eu posso estar cada vez mais contente, depois de tantos e tantos tratamentos. Eles acabam sendo obrigados a assumir uma postura diante deste fato, e vê-los é uma ajuda para mim. Eu me comovo com cada gesto de carinho deles. É Deus quem age neles e por meio deles.

E também meus amigos. Sou infinitamente grata a eles, que me ajudam a aprofundar nas coisas. Além disso, tenho minha família e muitos outros conhecidos, que rezam todos os dias por mim (eu sei disso, mas sempre me emociono ao ouvi-lo) e que estão dispostos a me dar seu tempo e inclusive seu dinheiro, como já fizeram no tratamento de tomoterapia.

Com tudo isso, como não desfrutar a vida? Tudo para mim se resume nesta consciência que me acompanha a cada dia e que me permite aproveitar cada instante.

In memorian

Minha amiga Belém faleceu depois de ter lutado durante 8 anos contra um câncer. Desde o dia em que ela me comunicou o diagnóstico, comecei a pedir o milagre da sua cura. Fiz isso até dois meses antes da sua morte, quando a levei ao hospital, porque o agravamento do seu estado tornava muito complicado o tratamento em sua casa.

Meu coração ainda me pedia que continuasse rezando pelo milagre, mas minha mente de médica me fez mudar minha petição: já não pedia sua cura, mas que tivesse uma boa morte. E o Senhor respondeu. Fui testemunha de um milagre tão impressionante como seria o da sua cura: o milagre da forja de uma santa.

Desde o primeiro momento, a Belém aceitou a doença como o plano que Deus tinha para a sus vida, e nunca a ouvi reclamar nem rebelar-se contra isso. Orava pela sua cura, mas estava completamente aberta à vontade do Mistério, oferecendo todo o seu sofrimento ao Pai, como Jesus em sua Paixão.

Durante os três últimos anos, nos quais ela não podia sair de casa, quando os amigos a visitavam, ela falava bem pouco da sua doença e se dedicava a estar com eles, perguntar e ouvir sobre sua vida, oferecendo a dor e os efeitos colaterais do tratamento pelos problemas e dificuldades de cada um.

Já estando no hospital, pouco a pouco ela foi se conscientizando de que a morte se aproximava. Então, abandonou-se totalmente nas mãos de Deus e surgiu outro milagre: ela estava alegre!

Como eu achava isso impressionante, acabei lhe perguntando: “Mas você não tem medo?”. E ela respondeu: “Não, não tenho medo. É o abraço do Pai que está me esperando! E meu pai e o meu irmão estarão lá para me receber também”. Então repliquei: “Mas e o seu marido, as crianças…?”. E ela disse: “O plano do Senhor é para a família inteira. O que está acontecendo é o melhor para todos. Deus cuidará deles”.

Em uma outra ocasião, pude fazer-lhe alguns pedidos para a vida eterna. Ela os acolheu com um pouco de surpresa no começo, mas depois com muita naturalidade. De fato, cada vez que alguém ia se despedir dela, além de receber a pessoa com um sorriso, ela já perguntava diretamente se a pessoa queria que ela levasse algum pedido seu para o céu.

Quando se aceita que a Encarnação é o acontecimento mais importante da história da humanidade e se vive em coerência com isso na vida cotidiana, tudo pode ser enfrentado de maneira positiva, tudo adquire significado e transforma a realidade para melhor. Inclusive pode morrer em paz e com alegria.

Obrigada, Belém, porque com você minha se consolidou. Estou repleta de certeza.

Sua amiga, C.

(Artigo publicado originalmente por Alfa y Omega d adaptado por Aleteia)