Às vezes, só precisamos de um simples ato de coragem
Viajei de Atlanta para Bentonville, várias semanas atrás, a negócios. No portão de embarque, praticando o meu habitual passatempo de observar as pessoas, notei uma mulher muito animada que parecia estar fazendo tudo o que havia de possível para chamar a atenção de um homem. Notei que os dois usavam aliança (e a dela com um diamante enorme). Mas não pareciam casados um com o outro.
Quando embarquei, quis o destino que eles estivessem sentados nos assentos 7A e 7B. O meu era o 7C, do outro lado do corredor. Uma senhora se aproximou deles, dizendo que o assento 7B era o dela. O homem que ocupava a poltrona ofereceu a ela o seu bilhete de primeira classe. “Você se importa? Nós gostaríamos de tratar de alguns negócios“. Ela aceitou a troca e o “show” começou.
Eu estava em choque com a sensualidade explícita que a mulher do 7A usava para “capturar” a atenção do homem do 7B. Ela não falou muita coisa que valesse a pena: sua linguagem era corporal. Ela jogava os longos cabelos de maneira a ter certeza de que eles caíssem em cima do homem. Ela levantou o apoio de braço do assento para que não ficasse nada no meio deles. Ela usava um vestido de praia solto, com uma pequena jaqueta por cima: o toque de “visual de negócios”, suponho. Ela se remexia com frequência para garantir que o decote se abrisse. Ela puxava o vestido para cima, também com frequência, chegando, uma vez, a apontar marcas de nascença nas coxas.
Notei que o homem do 7B estava desconfortável e hesitante no início, mexendo com os dedos na aliança de casamento. Comecei a rezar para que ele se mantivesse forte. Querendo muito fazer alguma coisa, eu rasguei um pedaço de papel e escrevi nele o seguinte bilhete:
“Não destrua o seu casamento por causa de alguém que não respeita você. Ontem ela estava com outro, hoje com você, amanhã com mais outro. Sua esposa e seus filhos merecem mais de você!”
Depois, por causa da determinação com que a mulher agia, escrevi um título no bilhete:
“É uma armadilha”.
À medida que o voo ia avançando, o homem ia perdendo o controle. Não demorou muito para eu ver a mão dele sobre a coxa dela. Ela disse: “Eu já sei o que nós temos que fazer hoje à noite: vamos sair para dançar“.
As minhas orações corriam agora em alta velocidade… Passamos então por uma providencial turbulência que deixou a todos em estado de alerta. Aproveitei para olhar diretamente para ele e fiz apenas um comentário sobre a turbulência: “Nossa!”. Poucos minutos depois desse primeiro contato, puxei uma conversa:
– Reparei que a sua aliança é incomum. É prata ou platina?
– Platina. Mas faz algum tempo que não limpo…
– Ainda está linda! Você está indo para Bentonville a negócios? (Ele fez que sim com a cabeça). Você vai sempre?
– Vou, vou toda semana.
– Então você deve conhecer bem a cidade. Você sabe me dizer onde é isso?
Foi aí que passei para ele o bilhete que eu tinha escrito.
Eu achei que ele ia ler o título, virar a cara ou me dizer que não era da minha conta. Mas ele pegou o bilhete, leu tudo com atenção e, ao levantar a cabeça, me disse: “Obrigado“.
A mulher do 7A notou que ele tinha recuado. Se os olhares pudessem matar, eu estaria sepultada!
Quando estávamos saindo do avião, ele me disse novamente: “Obrigado. Mesmo“. Respondi: “De nada! Boa sorte para você“. E seguimos cada um o seu caminho.
Esta situação que eu descrevi é fruto não só da luxúria e da carne, mas também do desejo de poder e de controle. As mulheres não ficam paradas num cantinho do ringue dos predadores. E os homens também são formidáveis nas suas caçadas. O sexo virou um esporte de rua. Se todo mundo faz, então deve estar tudo certo. E não bastou achar que tudo isso é “normal”: o sexo foi transformado em “competição”, para aumentar a diversão. Mas os custos dessa “diversão” estão sendo completamente desconsiderados.