Em um claro exemplo de desinformação jornalística, que o próprio papa destaca como o maior pecado do jornalismo, uma mensagem publicada nas redes sociais deu a volta ao mundo e acabou tornando necessário um esclarecimento do porta-voz da Santa Sé.
A corrente começou quando um homem da província argentina de Santa Fé declarou, no Facebook, que tinha recebido uma ligação do Santo Padre em resposta a uma carta enviada em setembro do ano passado pela sua mulher. Ele narra que, na ligação, o papa autorizou a mulher a receber a comunhão, apesar de ela ser, sempre segundo a mensagem, uma divorciada que voltou a se casar. Depois desse relato no Facebook, a mulher conversou com vários meios de comunicação contando uma versão diferente: ela não é divorciada, mas casada com um homem divorciado.
Independentemente da veracidade ou não da ligação, o porta-voz da Santa Sé, pe. Federico Lombardi, esclareceu que “as notícias difundidas sobre o assunto e a sua amplificação midiática não têm confirmação alguma de confiabilidade e são fonte de mal-entendidos e confusão (…) É preciso evitar deduzir consequências relativas à doutrina da Igreja a partir desta circunstância”.
O que aconteceria se o papa confirmasse ou, como é mais provável, negasse ter tido uma conversa dessa índole e com esses conteúdos com aquele casal? Considerando que qualquer um pode alegar que recebeu uma ligação do papa, provavelmente seria preciso abrir um escritório de confirmação de informações por parte da Santa Sé, clonar o padre Federico Lombardi, ou, o que é mais realista, o papa teria que limitar o seu contato direto com as centenas de fiéis de todo o mundo que lhe escrevem, deixando de telefonar para elas. Além disso, supondo que a referida ligação tenha mesmo acontecido, é preciso esclarecer o seu contexto e as informações que ainda não estão explicadas sobre a situação particular daquele casal.
As declarações do papa Francisco já foram alvo de manipulação em outros casos. Em uma recente entrevista com um jornal italiano, foi interpretado que o papa Francisco teve dúvidas antes de aceitar a sua eleição, informação que depois foi desmentida.
O trabalho jornalístico
Em qualquer outra área jornalística, uma informação tão pouco exposta a qualquer tipo de verificação não teria feito esse barulho. Se alguém dissesse com absoluta convicção: “Barack Obama me ligou para me dizer que vai interceder junto ao Reino Unido para que eles entreguem as Malvinas à Argentina”, ninguém acreditaria. Em todo caso, se um jornalista desse um voto de confiança a essa pessoa, cotejaria a informação com alguma iniciativa do presidente norte-americano que desse indícios de que ele fez mesmo uma declaração desse tipo a alguma pessoa.
Mas o mais estranho, na série de desinformações que circulam, é justamente a documentação. É inegável que o papa abriu um debate sobre a pastoral familiar e sobre a realidade dos divorciados que se casaram de novo. Ele pediu, em comunhão com os outros bispos, um debate no recente sínodo de bispos. Mas como conciliar a misericórdia, própria da Igreja, com a doutrina?
A visão do papa
O papa já expôs a sua visão sobre o problema das pessoas que sofrem a impossibilidade de comungar e esclareceu que não se trata dos divorciados, mas das pessoas que, depois de passar por essa difícil situação, uniram-se a outro parceiro. Em entrevista concedida na volta da JMJ do Rio de Janeiro, o papa falou da complexidade do problema e pediu que ele seja estudado na pastoral matrimonial, privilegiando a misericórdia. Em outra entrevista, ao jornal Corriere della Sera, em março, ele abordou mais um tema polêmico, relacionado com a Humanae Vitae: “O próprio Paulo VI recomendava aos confessores muita misericórdia e atenção às situações concretas. Mas a sua genialidade foi profética, pois ele teve a coragem de ir contra a maioria, de defender a disciplina moral, de aplicar um freio cultural, de se opor ao neomalthusianismo presente e futuro. A questão não é mudar a doutrina, mas ir a fundo e assegurar que a pastoral leve em conta as situações de cada pessoa e o que essa pessoa pode fazer”.
Em numerosas ocasiões, além disso, o papa deixou claro que é “filho da Igreja”.
Mas a necessidade mais lógica é a de uma das características fundamentais que o catedrático Gabriel Galdón atribui ao jornalista: o bom senso. Não se pode informar sobre uma mudança doutrinal com base numa suposta ligação telefônica.
“Olá! Aqui é o padre Bergoglio”: a corrente da desinformação

catholicpulse
Esteban Pittaro - publicado em 28/04/14
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