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Canonizados os novos santos, recomeçam os desafios da Cúria Romana

Pope Francis leaves after met cardinals – pt

ANDREAS SOLARO / AFP

CITE DU VATICAN, Vatican City : Pope Francis leaves after met cardinals during a second day of consistory to discuss family issues at the Vatican on February 21, 2014. After a two-day meeting with cardinals from around the world, Pope Francis will formally appoint 19 new cardinals for the first time of his pontificate on February 22. ANDREAS SOLARO / AFP

La Nuova Bussola - publicado em 30/04/14

Nova reunião do chamado "C8" retoma a reforma organizacional da Santa Sé

Por Matteo Matuzzi

Com João XXIII e João Paulo II já declarados santos, com as festas encerradas e com os peregrinos do mundo inteiro retornando para casa, o Vaticano volta a se concentrar na discussão das suas reformas estruturais. O clima de união visto neste último domingo, com o abraço duplo entre o papa reinante e papa emérito, não deve nos levar a esquecer que, entre as prioridades da agenda de Francisco, está a radical mudança da estrutura governamental da Santa Sé.

Não se trata apenas da clássica troca de nomes no topo dos dicastérios. O que está em jogo é a elaboração da nova constituição apostólica que substituirá a Pastor Bonus, promulgada por São João Paulo II em 1988. Mais ainda: pode-se esperar que, no final do caminho reformador aberto por Francisco um mês depois de ser eleito papa, o que vai parar nos arquivos do passado é o próprio modelo curial querido por Paulo VI, que enxergava na Secretaria de Estado o próprio coração do governo vaticano.

Desde anteontem e até esta quarta-feira, dia 30, volta a reunir-se o conselho dos oito cardeais consultores, coordenados pelo cardeal Oscar Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa. É a quarta vez que os cardeais escolhidos por Bergoglio, representantes de diversas áreas geográficas do planeta, vão se sentar em torno à mesa de trabalho com a presença do papa e do secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que agora é convidado fixo das discussões.

A próxima série de reuniões acontecerá no início de julho, quando é provável que se conclua o exame das várias propostas apresentadas pelas conferências episcopais locais e se passe a elaborar a nova constituição. De acordo com a hipotética agenda, o C8 será chamado a redefinir o número e as competências dos conselhos pontifícios. Eles são muitos atualmente e têm muitas funções que se sobrepõem entre si. Um exemplo concreto foi dado por Maradiaga já no verão passado, quando o hondurenho apontou duplicidade de funções entre a Propaganda Fide e o Conselho para a Nova Evangelização, instituído por Bento XVI e confiado à presidência de dom Rino Fisichella.

Este é um dos principais desafios: identificar os dicastérios que serão eliminados ou, na melhor das hipóteses, incorporados por outros. Haverá resistências consideráveis na cúria​​. Não por acaso, depois de reconfirmar quase todos os prefeitos das congregações (com a única exceção da transferência do cardeal Mauro Piacenza para o posto mais modesto de penitenciário apostólico), a passagem do papa argentino pelos pontifícios conselhos tem sido bem mais lenta.

Entre os que ainda estão sub judice, por exemplo, temos o presidente do Pontifício Conselho para a Família, dom Vincenzo Paglia. É o órgão que estará mais envolvido no próximo biênio sinodal, focado justamente nas questões de família e casamento. Aponta-se na cúria a vontade de Francisco de considerar a fusão do dicastério liderado por Paglia com o dicastério para os leigos, constituindo, assim, uma grande congregação. É uma solução não desdenhada por Maradiaga, que, no passado recente, chegou a sugerir que um organismo dessa relevância fosse guiado por um casal de leigos. Há incerteza também sobre o destino do Cor Unum, do Conselho Justiça e Paz e da Pastoral dos Migrantes e Itinerantes: são generalizadas as opiniões de que haverá fusão também neste caso.

O papa, neste ínterim, já diminui o poder da Secretaria de Estado, que vem se tornado cada vez mais uma espécie de “ministério das Relações Exteriores” e cada vez menos o órgão plenipotenciário da Santa Sé. Em especial, a secretaria tem menos poderes no campo econômico: se, por um lado, o cardeal Pietro Parolin foi incluído na comissão de cardeais com funções de supervisão do IOR , também é verdade que ele não foi apontado como seu presidente, ao contrário do que acontecia nos tempos de Sodano e Bertone.

Francisco, bem consciente das acusações feitas pelo Colégio dos Cardeais contra a gestão curial do atual camerlengo Bertone, retirou a competência econômica da “Terza Loggia”, estabelecendo uma Secretaria de Economia com funções completamente diferentes e separadas da Secretaria de Estado, a ponto de tornar supérflua a Prefeitura para os Assuntos Econômicos, outro dicastério que está sob a lupa do C8.

São estes os movimentos que tendem a redefinir os espaços de poder e de influência que alimentaram um certo mal-estar nos corredores dos sacros edifícios. Mal-estar de que, mais uma vez, o cardeal Maradiaga se tornou porta-voz. Pouco antes da Páscoa, durante um encontro com as ordens menores na Flórida, ele declarou publicamente que, entre os cardeais, já há quem agora se diga arrependido de ter votado em Bergoglio no último conclave. Não só isso: há outros monsenhores, sempre de acordo com as palavras do cardeal de Honduras, que se perguntam “onde é que esse pequeno argentino está pensando em chegar”.

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