Entrevista com Frei Pierbattista Pizzaballa, atual custódio da Terra Santa
Frei Pierbattista Pizzaballa, desde maio de 2004, é o custódio da Terra Santa. Nesta entrevista, ele conta um pouco dos preparativos e expectativas para a visita do Papa Francisco à Terra Santa.
Como a comunidade cristã local está se preparando para a chegada do Papa Francisco?
Está se preparando em dois níveis. O primeiro é o mais visível: são os preparativos técnicos, práticos, diplomáticos, as infraestruturas. Tudo isto requer muito trabalho. E sobre isto preciso dizer que a comunidade cristã está ajudando também com a contribuição econômica. Todas as comunidades fizeram uma coleta para ajudar. Outro aspecto, seguramente mais importante, é o da oração nas paróquias, nos grupos paroquiais, nas missas, nas comunidades religiosas. Uma oração não só para o sucesso da visita, mas também a fim de que esta possa trazer frutos na vida da Igreja.
O Papa, sucessor de Pedro, se encontrará nos lugares onde tudo teve início. Qual é a mensagem para a Igreja universal?
Creio que já o gesto em si de ir a Jerusalém é importante. Jerusalém, onde tudo começou. Não será somente o Papa em Jerusalém, estará também o patriarca de Constantinopla, que é o ponto de referência, o chefe da Igreja oriental. Os dois pulmões da Igreja, o ocidental e o oriental, se unem em Jerusalém, creio que isto seja muito significativo. Jerusalém nos chama às origens, à raíz, à beleza e à pureza do Evangelho e do Cristianismo, que nos séculos a história feriu e dividiu. Todos voltarem a Jerusalém significa olhar com saudade aquela unidade à qual todos devemos nos orientar e sobretudo olhar para Jesus como fonte e origem da nossa fé.
É o segundo Pontífice que o senhor encontra desde que é o custódio. Qual efeito lhe fez o encontro com Bento XVI? E agora, o que espera com Francisco?
Esta é a minha terceira visita papal. Encontrei Bento XVI na Terra Santa e em Cipro, e agora Francisco novamente na Terra Santa. Ou seja, três visita todas muito diferentes. Conhecer os papas de perto nos permite conhecer um aspecto da humildade deles que nem sempre é conhecido. A serenidade, a disponibilidade, a simplicidade do papa emérito Bento XVI me impressionou muito em Jerusalém, mas sobretudo em Cipro. Também sua fragilidade, de um ponto de vista humano, mas vivida sempre com muita serenidade. O Papa Francisco, que já encontrei e que conhecia antes de se tornar papa, sempre me impressionou com sua simplicidade, franqueza e amabilidade. É muito simples e muito acessível, se vê também nos gestos que agora se tornaram de domínio público. É uma pessoa que ninguém poderá colocar esquemas fixos, porque é muito livre e exprime esta liberdade com muita franqueza e penso que isto faz bem a toda a Igreja.
Por que o Papa Francisco é tão livre? Qual é a origem desta sua grande liberdade?
A liberdade existe dentro. Liberdade que nasce naturalmente de uma serenidade humana sua, depois também do relacionamento com Jesus, com o Senhor, que é forte e funda as suas certezas, a sua fé, as suas relações. Todo o resto se torna secundário quando as suas certezas são fortes. O resto não prevalece sobre sua pessoa.
Fala-se muito do relacionamento diplomático entre o Vaticano e o Oriente Médio. Como a visita poderá contribuir positivamente aos relacionamentos institucionais entre Israel e a Santa Sé? Qual impacto pode ter sobre o processo de paz?
É muito difícil responder a esta pergunta agora. Somente depois da visita se poderá fazer um balanço. Digamos que o Papa Francisco não é um diplomata. Falávamos há pouco de sua liberdade e um diplomata não pode ser sempre livre como o Papa Francisco é em público. O sentido e o caráter da visita é antes de tudo espiritual e pastoral e não diplomático. Acredito que, contudo, a visita do Papa será de encorajamento, antes de tudo pela comunidade cristã, e escutaremos seguramente também os seus convites, diretos a todas as partes na causa, a se encontrarem e se falarem. Não creio que se poderá obter mais do que isto. A paz não pode ser levada unicamente pelo Papa. A paz não pode ser levada por alguém de fora. As pessoas de fora, o Papa em particular, podem ajudar, mas a paz se deve construir aqui.