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É possível viver sem acreditar em nada?

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© Antonio Campos Ruiz

Aleteia Vaticano - publicado em 13/05/14

Fazemos muitos “atos de fé” cotidianamente, mesmo sem perceber

“A incredulidade é essencialmente contrária à natureza humana”, disse São Tomás de Aquino. Mas será que é possível viver sem ?

Analisemos nossa vida cotidiana para entender se é possível viver sem acreditar em algo ou em alguém.

Um ato tão simples e cotidiano como usar um elevador exige “” pois… sabemos exatamente como o elevador funciona? Sabemos quem o construiu? Sabemos se ele foi revisado ultimamente? A maioria das pessoas responderia negativamente a estas perguntas; no entanto, elas usam “inconscientemente” o elevador todos os dias.

Muitos atos da nossa vida cotidiana – sobretudo nesta era tecnológica – são aceitos por nós com certa confiança “cega” na ciência, e mais ainda quando tal confiança parece suficientemente confirmada pela experiência comum.

Segundo Ratzinger, “vivemos em uma rede de não conhecimentos, dos quais, o entanto, nos fiamos devido às experiências geralmente positivas (de outros)”. Em outras palavras, confiamos em outros e em seus conhecimentos e participamos do saber de outros, porque não é nosso.

É por isso que confiamos em que, ao usar o celular, ele não vai explodir, ou que, ao pegar um avião, este vai voar ao invés de cair; não é por termos o conhecimento de “como” funciona, mas porque sabemos e confiamos em que há alguém que sabe e que – baseados em seu conhecimento do “como” – chegamos a ter ou usar esse aparelho.

É inevitável: ninguém pode saber tudo nem dominar absolutamente com seu próprio saber aquilo em que nossa vida se baseia. É por isso que podemos afirmar que a – entendida como confiança no outro – é indispensável para nossa vida cotidiana.

Sem , simplesmente não nos moveríamos, não entraríamos o carro, não usaríamos o celular nem o computador. Sem esta confiança, nada funcionaria, pois todos teriam de começar “do zero”, do princípio.

No sentido mais profundo: a vida humana seria impossível se não houvesse confiança no outro e nos outros, já que uma pessoa não pode fiar-se unicamente da própria experiência nem unicamente dos próprios conhecimentos.

Mas, visto de outro ângulo, a denota, de certa forma, uma “ignorância”, e conhecer seria melhor. Existe, então, o desejo natural de passar, na medida do possível, da ignorância ao saber, a um conhecer justo e significativo, pelo menos no campo da ciência.

No entanto, precisamos aceitar que não poderemos conhecer tudo e, portanto, somos obrigados a participar da comum compreensão e domínio deste mundo, que, ainda sendo vastos, não são totais. Em suma, em uma sociedade sem confiança, não se pode viver. A confiança é a base de toda sociedade humana.

Nesta mesma linha, podemos então afirmar que não é necessário compreender como funciona a lei da gravidade para acreditar nela: nós a experimentamos diariamente, inclusive sem percebermos, como quando caminhamos ou por meio de uma queda (neste caso, percebemos que não podemos ignorá-la, ainda que não conheçamos nem compreendamos sua explicação científica).

Esta “natural”, segundo Ratzinger, é composta por três elementos fundamentais e inegáveis:

1. Refere-se sempre a alguém que “conhece”, ou seja, pressupõe o conhecimento real de pessoas qualificadas e dignas de confiança, que nos dizem que as coisas são assim.

2. A confiança de muitos, que baseiam o uso cotidiano das coisas na solidez do “saber” que há dentro delas. Ou seja, há uma ordem e uma “racionalidade” nas coisas, da qual eu não participo conscientemente, mas sei que existe.

3. Há certa verificação pessoal desse “saber de outros” mediante a experiência de cada dia.

Estes três elementos fazem que nossa confiança
seja irracional. Um bom exemplo para ilustrar estes três elementos aplicados à nossa vida cotidiana é a eletricidade: muitos de nós não podem demonstrar cientificamente a existência e as propriedades físicas da eletricidade, mas a lâmpada acesa ao lado da minha cama me diz que é real; que, ainda que eu não seja um daqueles que “conhecem” como a eletricidade funciona exatamente, não ajo com uma completamente irracional, mas minha “natural” nas propriedades físicas da eletricidade está baseada em uma experiência, em uma corroboração pessoal.

Todo o anterior faz referência, como já foi dito, a uma “natural”, da qual muitos não são conscientes. Mas quem aceita livremente que isso é real, que é preciso ter certa “natural” para vier, pode aceitar então, sem maiores dificuldades, que não é irracional acreditar em “algo”, ou melhor, em “Alguém” que não está sujeito às leis “naturais”, se é que esta – que podemos chamar de sobrenatural – possui os três elementos mencionados anteriormente: confiança em alguém digno dela; confiança em outros muitos que, por sua própria experiência, verificam que é assim; e em nossa experiência pessoal.

Este passo, muito mais difícil para aqueles que buscam comprovar tudo mediante o método científico e para os que acham que a realidade se limita àquilo que posso perceber por meio dos sentidos, requer um assentimento humilde da razão, que se reconhece incapaz de conhecer tudo e, portanto, aceita que existe uma realidade “imperceptível”, mas que é tanto ou mais real do que posso perceber com os sentidos. Esta é a realidade sobrenatural e, para vê-la e conhecê-la, é necessário ter tal sobrenatural.

(Artigo de Juan Fernando Sardi, publicado originalmente pelo Centro de Estudios Católicos)

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