Esta é a primeira vez que a Rússia mostra claramente sua vontade de diminuir a tensão
As tropas russas recuaram a pelo menos 10 quilômetros da fronteira com a Ucrânia, um gesto simbólico para acalmar a tensão, a cinco dias da eleição presidencial fundamental para o futuro do país.
Várias vezes anunciada pelo Kremlin, a retirada dos soldados mobilizados ao longo da fronteira nunca havia sido confirmada pela Aliança Atlântica e os Estados Unidos. Esta é a primeira vez que a Rússia mostra claramente sua vontade de diminuir a tensão.
Após sobrevoar 820 km de fronteira, os guardas da fronteira constataram a movimentação, que acontece no momento em que o homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, maior empregador da região leste, mergulhada em uma insurreição armada pró-russa, faz um apelo aos ucranianos por uma oposição aos separatistas.
A posição firme do oligarca em favor da unidade da Ucrânia constitui uma derrota para os separatistas e uma possível virada na crise.
Dez quilômetros
"Nós podemos dizer que as tropas russas estão agora a pelo menos 10 quilômetros da fronteira. Sobre o que acontece para além (desses 10 km), não sou eu que devo responder", mas os russos, declarou Sergui Astakhov, comandante da Guarda de Fronteira.
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou na segunda-feira que suas tropas retornassem aos seus quartéis, mas nem a Otan nem os Estados Unidos confirmaram a retirada.
Nesta terça-feira, o ministério da Defesa russo indicou que as tropas estavam na fase de preparativos para a partida.
Acusada por Kiev de apoiar a rebelião armada, a Moscou havia mobilizado 40.000 soldados perto da fronteira ucraniana, como parte de manobras militares.
A demonstração de força alimentou na Ucrânia, Europa e Estados Unidos o temor de uma invasão da Ucrânia, após a anexação em março da península da Crimeia.
O anúncio da retirada das tropas russas ocorre em meio a confrontos esporádicos entre insurgentes armados e soldados ucranianos nas regiões separatistas da Lugansk e Donetsk, no leste.
Akhmetov contra os separatistas
A ação de Rinat Akhmetov pode representar um ponto de inflexão na crise ucraniana, já que o oligarca — dono de um vasto conglomerado de carvão e aço — é extremamente influente no leste do país.
Ele pediu nesta terça-feira a todos os seus funcionários que protestem pacificamente contra os separatistas pró-Rússia do leste do país, a cinco dias das eleições presidenciais.
"Peço a todos os meus funcionários de Donbass (sudeste da Ucrânia) que protestem pacificamente diante das empresas nas quais trabalham", afirma o bilionário ucraniano em um comunicado do grupo System Capital Management (SCM).
"As pessoas estão cansadas de viver com medo e terror. Estão cansadas de sair às ruas e de serem vítimas de tiros. Pessoas caminham com armas e lança-granadas. As cidades são cenários de atos de vandalismo e de saques", destacou Akhmetov, que segundo a revista Forbes tem uma fortuna de 12,2 bilhões de dólares.
As manifestações diante das fábricas, minas e empresas de energia do empresário deveriam começar por volta do meio-dia na cidade portuária de Mariupol, em Donetsk, assim como em várias cidades do leste da Ucrânia.
Akhmetov se envolveu nos últimos dias na defesa de seus funcionários e de seus complexos industriais contra os separatistas.
Milícias não armadas, recrutadas entre os funcionários de Akhmetov, foram criadas para ajudar a restaurar a ordem na cidade de 500.000 habitantes.
Ao posicionar-se como um homem de paz, o empresário pediu às autoridades de Kiev o fim da operação militar "antiterrorista" iniciada em 13 de abril para retomar o leste do país, ao mesmo tempo em que pediu aos ativistas pró-Rússia que desistissem da independência e negociassem com Kiev.