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O novo filme “Godzilla” não vai decepcionar os fãs

WEB Godzilla Concept Art – pt

Courtesy of Warner Bros

David Ives - publicado em 21/05/14

Talvez você já tenha uma opinião sobre o personagem Godzilla. De qualquer forma, este filme não vai mudar a opinião de ninguém

Vamos admitir: alguns filmes são simplesmente à prova de críticas.

É o caso dos filmes do Godzilla, por exemplo. “The Big G” leva sessenta anos acumulando aparições cinematográficas, tempo suficiente para garantir o título de franquia mais longa da história do cinema (Sherlock Holmes detém o recorde em número de aparições, mas não em uma franquia contínua e única). Além disso, considere todos os desenhos animados, histórias em quadrinhos, spin-offs, comerciais de televisão e referências na cultura pop: Godzilla está em todos os lugares. Provavelmente, a única razão de não terem ilustrado a palavra “onipresente” nos dicionários com a foto dele é porque a foto não caberia na página.

A maioria das pessoas já tem alguma opinião sobre Godzilla. Se não for o seu caso e você ainda não for um fã do Rei dos Monstros, é altamente improvável que as minhas palavras sobre o novo filme de Godzilla façam você querer vê-lo. Por outro lado, se você já tem um fraco pelo grandalhão, há poucas chances de que algum comentário meu impeça você de assistir ao novo filme. Eu entendo: sou firmemente pró-Godzilla e nada me impediria de ver esta nova produção.

Levando tudo isso em conta, em vez de apresentar argumentos fúteis a favor ou contra Godzilla, eu acho que seria interessante apenas responder a algumas das perguntas que atravessam a mente das pessoas nos dias que antecedem o lançamento do filme.

Para começar: este é um filme de verdade sobre o Godzilla ou é algo parecido com aquela bobagem estrelada por Matthew Broderick em 1998? Fiquem tranquilos, G-fãs, desta vez é de verdade. Os cineastas tiveram o cuidado de respeitar os traços originais e este Godzilla é o próprio Godzilla. Um pouco mais corpulento… Afinal, ele está com 60 anos.

E quanto ao tom? É o Godzilla sério da década de 1950, o Godzilla pateta da década de 1970 ou Godzilla ativo dos anos 1990? Feliz e sabiamente, este filme evita o clima daqueles. Depois dos intrigantes créditos de abertura e de um prólogo que indica que os governos do mundo sabem coisas que não querem que o cidadão médio descubra, o filme propriamente dito começa no Japão, onde encontramos Joe Brody (Bryan Cranston) e sua esposa Sandra (Juliette Binoche) se preparando para mais um dia de trabalho na gerência de uma usina de energia nuclear. Depois que alguma coisa enorme se aproxima da usina, saindo do chão, Sandra fica presa sem que Joe possa fazer nada além de vê-la morrer, do lado de fora das portas de segurança. Com esse tipo de início, você pode afirmar, sem muitas dúvidas, que este filme pretende ser uma aventura razoavelmente sóbria. O novo Godzilla também não tem os traços sombrios do original de 1954. Há espaço para o humor, especialmente nas cenas que envolvem a cobertura da mídia sobre a aparição dos monstros gigantes.

Você disse “monstros”? Pois é. Depois da abertura, o filme salta 15 anos no tempo e chega aos dias de hoje, com Joe ainda tentando se esgueirar para dentro da área de quarentena em torno da usina, a fim de descobrir o que realmente aconteceu no dia em que sua esposa morreu. Relutantemente acompanhado pelo filho agora crescido, Ford (Aaron Taylor-Johnson), Joe encontra finalmente um meio de entrar nas instalações, descobrindo que elas não estão abandonadas como o público tinha sido levado a acreditar. Uma coalizão internacional de cientistas e soldados se estabeleceu no local para vigiar e estudar a criatura gigante que destruiu a usina anos atrás e que agora se encontra dormente. Enquanto Joe tenta explicar ao cientista responsável, Dr. Serizawa (Ken Watanabe), que ele tem motivos para acreditar que a criatura apelidada de Muto esteve enviando sinais misteriosos para outro membro da sua espécie, o monstro desperta e escapa, espalhando resíduos pela área.




Ótimo! Então Godzilla tem outras criaturas com quem lutar! Isto significa que o filme está cheio de monstros lutando com outros monstros, certo? Bom, mais ou menos. No que poderia ser um obstáculo para um bom número de espectadores, o diretor Gareth Edwards toma a decisão consciente de ser “meio tímido” com as suas criaturas durante os primeiros dois terços do filme. Depois que Muto vai até um aeroporto do Havaí e começa a destroçar o local, o Rei dos Monstros faz a sua primeira aparição em toda a sua glória régia! É uma entrada em cena espetacular, que faz o sangue do espectador ferver à espera da batalha imediata. Mas… Em vez de focar nos monstros, Edwards faz as suas câmeras seguirem as pessoas em fuga. Você vê partes da luta em andamento por cima dos ombros das pessoas ou em aparelhos de televisão à medida que as câmeras dos telejornais vão chegando. E é isso.

Espere aí: você está dizendo que não vamos ver o máximo de Godzilla num filme de Godzilla? Mais ou menos isso. Fisicamente, pelo menos, não. Isso não quer dizer que a presença dele não seja sentida ao longo do filme todo. Além disso, todos os filmes de Godzilla gastam boa parte do tempo mostrando seres humanos correndo em meio aos ataques de monstros; nenhum dos filmes consistiu unicamente em 90 minutos de monstros derrubando prédios. Mas Edwards realmente quer investir no elemento humano: por isso, mesmo quando há ataques de monstros já no início do filme, ele se concentra nas pessoas, especialmente nos personagens de Ford e da esposa Elle (Elizabeth Olsen). Infelizmente, porém, seja por culpa do material, seja por culpa dos atores, as cenas de pessoas não são tão envolventes quanto o diretor gostaria que fossem.

Então as partes sem monstros são ruins? Não, não são ruins, apenas medianas. Parte da razão disso é que é quase sempre assim nos filmes de Godzilla. Afinal, os seres humanos não são a atração principal. Mas a outra razão, creio eu, pode se dever à interpretação do caráter de Godzilla. Ao longo das décadas, Godzilla tem sido retratado como uma metáfora de muitas coisas: desastres naturais, realização do desejo das crianças e até como um avatar dos vingativos espíritos de soldados japoneses mortos na Segunda Guerra Mundial. Ele é muito versátil para um lagartão de 100 metros de altura. Sua incursão mais bem-sucedida no simbolismo, porém, veio na estreia, em 1954, quando o monstro era uma metáfora óbvia das consequências deixadas pelas bombas atômicas lançadas contra o Japão. Eu escrevi na minha resenha daquele filme: "Gojira foi o primeiro filme a abordar abertamente o fato de que, para os japoneses, a questão nuclear não era uma memória se desvanecendo, nem uma ameaça potencial, mas sim um pesadelo contínuo que já durava toda uma década. O público japonês reconheceu imediatamente a raiva, a tristeza e o sentimento de desamparo retratados no filme. É quase como se Gojira representasse alguma forma de terapia para a nação inteira, ressoando tão fortemente a ponto de receber uma indicação ao prêmio de Melhor Filme pela Academia Japonesa". Neste novo filme, Godzilla não representa algo tão pessoal para a audiência: por isso, o investimento nos personagens humanos não é tão forte.

Então, quem ou o que é o Godzilla neste novo filme? O personagem de Ken Watanabe explica que Godzilla, desta vez, não é apenas uma força da natureza, mas um agente real dela. Quando surge algo como Mutos e ameaça o equilíbrio já precário da natureza, Godzilla aparece e tenta acertar as coisas. Isso faz dele um defensor nosso, em certo sentido, mas não necessariamente um nosso herói. Ele vai machucar as pessoas que não saírem do caminho enquanto ele estiver fazendo o seu trabalho. Basicamente, existem coisas mais importantes acontecendo no mundo do que os nossos interesses humanos mesquinhos: Godzilla aparece de vez em quando para nos lembrar disso.




Então, Godzilla é apenas mais um filme niilista moderno tentando nos empurrar a teoria de que a raça humana é, em última análise, insignificante? Bom… Embora eu suponha que o filme esteja aberto a essa interpretação, também acho que há outras maneiras de entendê-lo.

Na teologia cristã, nós acreditamos que Deus criou tudo com um propósito final em mente. O universo tem um objetivo ao qual ele tende e que, por conseguinte, torna significativo tudo o que existe nele, incluindo cada pessoa individualmente. Se esse arranjo, por um lado, faz de cada uma das nossas escolhas individuais algo cosmologicamente importante, por outro lado Deus continua no controle do todo. Assim, dado que Deus tem um plano para tudo, incluindo o nosso planeta, faria sentido, num universo onde existe Mutos, que Deus colocasse uma contingência como Godzilla. Deus não deixaria o mundo ser destruído antes de cumprir a sua finalidade.

Mas, enfim, tudo isso é coisa de crítico. O que eu quero saber é: vou gostar deste filme se tudo o que eu quero é ver o Godzilla detonando? Depende inteiramente das suas expectativas. Se você só quer ver monstros caindo na pancadaria, então não, este não é o seu Godzilla. Mas se, como tantos outros espectadores, você cresceu cansado de filmes de ação inflados com cenas de destruição a ponto de só querer que tudo acabe logo, talvez você aprecie a perspectiva deste filme.

Edwards provoca tanto que, na última meia hora, você está mais do que pronto para ver as cidades sendo destruídas. E o final não decepciona. Se você é fã de Godzilla, há momentos que valem a torcida em voz alta pelo primeiro encontro dos monstros. Assim, embora algumas das ações humanas não sejam tudo o que poderiam ter sido, eu diria que, no geral, a abordagem de Edwards funciona. Pelo menos para mim.

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