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A guerra dos bispos contra a pobreza

WEB Fight Poverty 004 – pt

UN Development

Mark Gordon - Aleteia Vaticano - publicado em 26/06/14

Conferência dos bispos dos EUA anuncia subvenções para o desenvolvimento humano

Para a maioria dos católicos norte-americanos, a pobreza é uma abstração, um assunto que pode ser lido ou visto nas estatísticas, mas raramente uma experiência a ser vivida em primeira mão.

Como resultado, a nossa reflexão sobre as causas e efeitos da pobreza pode ser igualmente abstrata e tende a se alinhar com as nossas inclinações ideológicas ou partidárias.

Mas o papa Francisco nos diz que isto não é suficiente. "É impossível falar da pobreza abstrata. Isso não existe! A pobreza é a carne de Jesus pobre nesta criança com fome, nesta pessoa doente, nestas estruturas sociais injustas".

A verdade das situações individuais das pessoas em situação de pobreza sempre escapa às análises fáceis e aos remédios teóricos. "Amar a Deus e ao próximo não é abstrato, mas profundamente concreto", diz o papa. "Isto significa enxergar em cada pessoa o rosto do Senhor, para servi-lo concretamente".

E a verdade estatística sobre a pobreza nos Estados Unidos é esta: em 2012, cerca de 46,5 milhões de pessoas viviam abaixo da linha de pobreza federal, o índice mais alto desde que a pobreza começou a ser mapeada pelo US Census Bureau, o instituto de recenseamento dos EUA, há 54 anos. 13% por cento de todos os homens, 15% de todos os idosos, 16% de todas as mulheres e 22% de todas as crianças, ou uma em cada cinco, vivem na pobreza no país mais rico do mundo. Entre as famílias norte-americanas, 6% das chefiadas por pai e mãe casados estão na pobreza, mas o número sobe para 30% no caso das famílias chefiadas por mães solteiras. A pobreza é mais prevalente na área rural (17%) do que nas cidades (14%) do país.

Nas últimas quatro décadas, a resposta da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) à realidade concreta da pobreza tem sido a Campanha Católica pelo Desenvolvimento Humano (CCHD). A CCHD é financiada por uma campanha anual de angariação de donativos na maioria das dioceses, no domingo anterior ao Thanksgiving Day, assim como por doações privadas. A CCHD tem uma missão dupla: "Ajudar as pessoas de baixa renda a participar das decisões que afetam a sua vida, família e comunidade" e "proporcionar educação e promover o entendimento da pobreza e das suas causas profundas".

Três programas de subsídios são administrados pela CCHD.

Os subsídios para Desenvolvimento Comunitário focam na "educação, defesa, desenvolvimento de políticas e organização" e são disponibilizados para organizações locais cujos conselhos sejam formados por pelo menos 50% de membros de baixa renda. Igualmente, os beneficiários do trabalho da organização devem incluir ao menos 50% de pessoas de baixa renda. Essas ajudas variam de 25.000 a 75.000 dólares e são renováveis ​​por até seis anos.

Os subsídios para Desenvolvimento Econômico são voltados a "empresas sociais, instituições financeiras alternativas, ativos comunitários e cooperativas de trabalhadores", além de outras instituições de desenvolvimento econômico. Os conselhos devem incluir 33% de membros de baixa renda. Os auxílios também variam de 25.000 a 75.000, mas são renováveis ​​por apenas três anos e devem incluir uma contrapartida em valor igual ao da subvenção.

Finalmente, os subsídios para Programas Estratégicos Nacionais são concedidos a grandes organizações presentes em vários Estados e que trabalham em áreas como "reforma da justiça penal, reforma da imigração, justiça econômica, justiça ambiental, preservação de um círculo de proteção em torno dos pobres e vulneráveis, justiça racial e desenvolvimento econômico equitativo". Os subsídios podem chegar a 500.000 dólares e são renováveis ​​por até cinco anos.


Todos os beneficiários das subvenções devem garantir por escrito que cumprem a Doutrina Social da Igreja e que não estão envolvidos em atividade político-partidária. Os bispos locais devem revisar e aprovar as solicitações antes de as verbas serem concedidas.

Neste mês, a USCCB anunciou que o seu subcomitê para a CCHD, presidido pelo bispo de Sacramento, dom Jaime Soto, aprovou 14 milhões de dólares em subsídios para 2014-2015. O montante inclui 10 milhões para o desenvolvimento econômico e comunitário e 4 milhões para subvenção estratégica nacional. Os beneficiários deste ano serão anunciados em julho. Entre os do ano passado, estão o Instituto para a Democracia no Trabalho, um braço da Federação Norte-Americana de Cooperativas de Trabalho, a Sociedade Nacional de São Vicente de Paulo e a rede californiana de clínicas médicas Birth Choice Health Clinics, que oferece uma gama de serviços pré e pós-natal para mulheres grávidas.

Não faz muito tempo, houve significativas controvérsias na comunidade católica quanto a alguns dos beneficiários da CCHD. A campanha foi acusada de destinar fundos a organizações que também promoviam o aborto, a contracepção e o casamento homossexual. A CCHD negou as acusações, mas surgiram preocupantes evidências de que algumas organizações que receberam fundos mantinham, de fato, agendas secundárias ou terciárias que contradiziam a doutrina católica. Desde então, a CCHD redobrou os esforços para garantir que entre as organizações beneficiadas não houvesse nenhuma em contradição com os ensinamentos da Igreja.

O papa Francisco nunca deixa de nos lembrar que a pobreza, assim como o aborto, a guerra, o tráfico sexual e outros males, é um crime contra a dignidade fundamental da pessoa humana. O apoio que os bispos norte-americanos fornecem às organizações locais que lutam contra a pobreza é um exemplo concreto de "opção preferencial da Igreja pelos pobres" e um lembrete de que o serviço aos necessitados é um caminho primário para se viver a vocação cristã.

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