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Uma receita de 2.500 anos para virar um jogo de 7×1 (2ª Parte)

Brazilian national team – pt

© NELSON ALMEIDA / AFP

BRAZIL, Sao Paulo : Brazilian national team players poses before the start of a friendly football match against Serbia in preparation for FIFA World Cup Brazil 2014, at Morumbi stadium in Sao Paulo, Brazil, on June 06, 2014. AFP PHOTO / Nelson ALMEIDA

E. Chitolina - publicado em 15/07/14

6 pontos de reflexão para um país que quer a glória - e não só no futebol

Este artigo é a segunda parte de uma proposta de 6 pontos a revisarmos sobre nós mesmos, como país e como seleção.

1. CONVOCAÇÃO

Somos um país que, no geral, tem dificuldades graves para convocar. No caso desta seleção, o próprio Scolari se reconheceu parcialmente culpado por suas escolhas inoportunas. Ele chegou a afirmar a um grupo de jornalistas que, se pudesse voltar atrás, não teria convocado um dos jogadores (jogadores que, aliás, como se não estivessem dando indícios suficientes de instabilidade emocional, devem ter se sentido particularmente “motivados” depois de ouvirem uma declaração dessas).

O fato é que vimos jogadores ocupando posições inadequadas ao seu perfil. Vimos posições críticas confiadas aos pés de jogadores ineficientes. Vimos sentada no banco de reservas, tão folgada quanto alguns jogadores assistindo ao jogo de pleno campo, uma pesada incerteza sobre quem substituiria os titulares mais visados caso fosse necessário acionar um plano B que parecia não existir.

Acontece que a convocação da seleção foi uma fotocópia autenticada da convocação que fazemos recorrentemente de todos os nossos representantes como nação.

De dois em dois anos, convocamos o time que vai nos representar na prefeitura ou na capital do Estado e nos palácios de Brasília. Todas as vezes, escalamos jogadores que mal conhecemos (e cujos cartolas negligenciamos mais ainda). Em pouco tempo, nos esquecemos dos convocados que nós próprios chamamos para posições menos midiáticas, como vereadores, deputados e senadores. Há jogadores que só descobrimos que estão no time quando alguma câmera impertinente os flagra cometendo faltas clamorosas e aplicando goleadas indiferentes contra a própria rede. Ainda assim, nos limitamos a balançar a cabeça e a compartilhar montagens engraçadinhas no Facebook, mas pouquíssimo ou nada fazemos de efetivo para tirá-los de campo.

É verdade que, a exemplo da seleção de futebol, não temos uma abundância de excelentes aspirantes que possam ser convocados com elevadas taxas de consenso. Mas é por isso mesmo que a convocação tem que ser ainda mais minuciosamente pensada: os nomes e seus currículos completos precisam ser avaliados duas, três, várias vezes, seja para entrar, seja para ficar definitivamente de fora. Inclusive os mais óbvios. Inclusive os menos óbvios. Tão importante quanto: é preciso ouvir pareceres diversos e ponderar todos os prós e contras com imparcialidade. Sem apegos a ideias unilaterais nem rejeições prévias escoradas em antipatias. Sem clubismos nem partidarismos doentios. Sem visões viciadas por anos de ideologia inquestionada. Por que, afinal, não ouviríamos todos os lados? Por medo de admitir que estamos nos enganando?

O nosso direito de criticar a convocação de Scolari nós já exercemos, com grande razão (e, admitamos, com alguns exageros também). E o nosso dever de preparar a fundo a mais importante das convocações brasileiras, no dia 5 de outubro, vamos deixar para quando?

2. ESCALAÇÃO

Uma vez convocados os jogadores, é preciso escalar quem entra em cada partida, em quais posições e com que diretrizes. Por motivos históricos questionáveis, nós, como país, convocamos, mas não escalamos. Os próprios convocados se escalam, com direito, inclusive, a levar a campo convidados VIP que sequer fizeram parte das listas de aspirantes à convocação.

Apesar disso, podemos vetar as escalações infelizes mediante a boa e velha boca no trombone.

Nas raras vezes em que levantamos a voz como país unido, alguma coisa começamos a conseguir mudar (e mudaríamos mais se convocássemos representantes verdadeiramente democráticos e dispostos a nos ouvir). O problema é que desistimos muito rápido e voltamos a deixar que a escalação nos seja empurrada goela abaixo, a troco de migalhas de pão e descontos no ingresso do circo. Pior ainda: em vez de reafirmar com veemência que discordamos da escalação; em vez de apontar estatísticas, números e demonstrações concretas de que ela é inadequada; em vez de apresentar propostas construtivas, práticas e realistas de alternativas mais eficazes, preferimos bater boca entre nós mesmos e criticar aqueles dentre nós que pelo menos se dispõem a tentar, tachando-os de “comunas” ou de “reaças”, de “coxinhas” ou “idiotas úteis”, ou de quaisquer outros rótulos pejorativos e preguiçosos que escancaram os nossos próprios rancores ideológicos, a nossa indisposição ao diálogo racional e a nossa falta de propostas realmente claras.

O que podemos fazer para melhorar a escalação do Brasil quando a sua ineficácia é denunciada pelos seus próprios resultados?

Algumas experiências que funcionam no empreendedorismo:

  • Ouvir. Precisamos entender, por um lado, os motivos de quem escalou e, por outro, o que há de questionável nesses motivos.
  • Julgar. Analisar com objetividade a força real dos argumentos pró e contra a escalação. Importante: julgam-se atos, não pessoas (e, a propósito, não se xingar: xingar é um gesto que diz mais sobre nós mesmos do que sobre aqueles a quem xingamos).
  • Planejar. Tendo ouvido e julgado, traçar soluções reais para aprimorar a escalação, seja via ajustes, substituições ou até mesmo cortes.
  • Agir. Seis minutos de inação podem ser irrecuperavelmente punidos com quatro gols destruidores.

Escalação é dinâmica, não estática, e deve ser decidida por e para resultados. Pode-se até “intuir que” isto ou aquilo, mas é apenas contra fatos que não existem argumentos.

No próximo artigo, discutiremos os pontos 3 e 4: Excelência Técnica e Inteligência Tática. Acesse aqui.

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