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Nova Guerra Fria? Uma entrevista com o filho de Nikita Kruschev

WEB Interview with Sergei KHRUSHCHEV AP Photo M Spencer Green – pt

AP Photo/M Spencer Green

William Van Ornum - Aleteia Vaticano - publicado em 22/07/14

Sergei Kruschev conversa sobre a Crimeia, o avião da Malaysia Airlines e as possibilidades de agravamento ou solução do conflito

“É uma situação muito perigosa”, afirmou Sergei Kruschev, refletindo sobre o que vem acontecendo na Ucrânia. “O Ocidente controla o governo de Kiev, e a Rússia controla os rebeldes do leste da Ucrânia. É muito difícil controlar isso, porque eles são todos ucranianos e estão lutando uns contra os outros”.

As palavras de Sergei Kruschev são importantes por várias razões.

Talvez ele seja o último sobrevivente do grupo participante da Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962: ele viu em primeira mão os líderes russos e americanos resolverem aquele problema mortal. Como jovem engenheiro de mísseis e confidente do pai, Sergei estava no centro de controle russo quando o presidente Kennedy e Nikita Kruschev encontraram um jeito de resolver a crise que chegou perto de desatar uma guerra de proporções inimagináveis.

Depois que a União Soviética se desmanchou, Sergei Kruschev se tornou cidadão norte-americano e, com doutorado em História, foi trabalhar como professor na Universidade de Brown. Escreveu livros altamente elogiados, como “Nikita Kruschev e a criação de uma superpotência”. É autor, também, de vários volumes de memórias do pai. Os escritos do próprio Nikita que serviram de base para as memórias escritas pelo filho foram contrabandeados da Rússia logo depois que Kruschev deixou o poder.

Em uma entrevista concedida a mim neste domingo, eu perguntei a Sergei Kruschev se existe alguma forma de as partes em conflito na Ucrânia ou na Crimeia chegarem neste momento a algum tipo de acordo (recordemos que Nikita Kruschev retirou os mísseis de Cuba graças à pouco divulgada promessa que o presidente Kennedy havia feito de retirar os mísseis norte-americanos da Turquia).

“Não. Com certeza, não”, respondeu Sergei Kruschev.

“A crise dos mísseis de Cuba envolvia um território que ficava longe da Rússia e dos Estados Unidos. Agora está envolvido o próprio território da Rússia. Você tem os americanos controlando Kiev e a Rússia controlando os rebeldes do leste da Ucrânia, mas é um controle muito limitado, porque eles são todos ucranianos e estão lutando uns contra os outros. Eles não vão fazer tudo o que você quiser que eles façam. Eles fazem o que eles querem. Eu acho que a Rússia e os Estados Unidos deveriam trabalhar juntos para tentar acalmar aquele país. Agora estamos trabalhando em lados opostos e isso é um sinal muito ruim”.

É uma guerra civil e tem havido guerras civis em todos os lugares, observou Sergei. “As guerras civis são muito destruidoras. Na Rússia houve uma guerra civil entre 1918 e 1921. Foi muito destruidora”.

Depois da queda do avião da Malaysia Airlines, houve uma breve calmaria no conflito: talvez um sinal construtivo de que o aniversário de 100 anos da Primeira Guerra Mundial esteja fazendo todos refletirem em vez de agirem precipitadamente. Ainda assim, Kruschev acredita que a derrubada do avião malaio não seja um divisor de águas no conflito, porque os dois lados estão tentando usar o caso em seu próprio favor.

“Não sabemos se os rebeldes têm esses mísseis. Então, não podemos dizer quem foi que fez aquilo”, afirmou.

Quando perguntado sobre a personalidade do atual e do anterior presidente dos EUA, Sergei Kruschev respondeu:

“Eu acho que precisamos [eleger] o presidente certo, porque o último, George W. Bush, nos trouxe os problemas da guerra. Agora Obama traz outros tipos de problemas. Precisamos de alguém que pense: ‘Quais são os interesses dos Estados Unidos? O que é que nós temos que fazer?’. E não querer punir Putin ou os líderes de quaisquer outros países. O que nós temos que fazer é pensar na prosperidade dos Estados Unidos. Este é o nosso problema, porque a maioria dos nossos presidentes pensam em como punir outros líderes em vez de gerar prosperidade para o nosso povo”.

Sergei Kruschev acredita na dinâmica entre os líderes europeus, particularmente entre os da Alemanha e da Grã-Bretanha, a quem vê como mais pragmáticos quanto aos interesses dos próprios países. Eles estão tentando não ser muito pró-Rússia nem muito pró-EUA, considera Kruschev. Eles são pró-Europa e estão tentando se comportar da maneira que acham melhor para os seus países.

Kruschev afirma que o interesse da Rússia na Crimeia não se baseia nas possíveis reservas de petróleo nem no fato de haver ali um porto militar. A Crimeia é vista como um lugar ligado ao orgulho russo.

Há uma história de 2.500 anos envolvendo a Crimeia e a Ucrânia. “Não é simples”, diz Kruschev. “É bem complicado, tão complicado quanto qualquer outro lugar do mundo. Se você entende isso, você vence. Se você entende o que aconteceu no passado. Eu acho que os americanos não entendem a situação da Europa, especialmente a da Europa do Leste. Eles tentam enxergar tudo de um jeito simples, mas é muito complicado”.

Apesar dessa complexidade, Sergei Kruschev interpreta o que está acontecendo na Crimeia desta forma: “A Crimeia é território russo. As pessoas votaram [no plebiscito] para fazer parte da Rússia. E fim da história”.

Enquanto conversávamos, eu descobri que os nossos pais tinham histórias e interesses semelhantes (eu tive o privilégio de conversar com Sergei Kruschev sobre o seu pai para a revista America). Os dois eram fascinados pela agricultura e pela ciência que existe por trás dela. Os dois queriam ser engenheiros profissionais, mas não puderam realizar esse desejo por causa das circunstâncias em que cresceram: no caso de Nikita Kruschev, a pobreza; no do meu pai, o orfanato.

O que torna a “relação” entre os nossos pais estranhamente cativante é que o meu pai se sentava na frente da televisão e “falava” com Kruschev quando ele aparecia na tela, fazendo ameaças e dizendo coisas como “Os seus filhos vão crescer sob o comunismo!”.

É uma pena que eles nunca tenham conhecido um ao outro. Eu acho que eles poderiam ter sido amigos. Para mim, é uma grande bênção, hoje, desfrutar das conversas com o Dr. Sergei Kruschev, filho de Nikita.

Tags:
ConflitosEuropaGuerraMundo
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