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É possível perdoar a si mesmo?

Forgiveness Is a Way of Life Gabriela Camerotti – pt

Gabriela Camerotti

Novena.it - publicado em 05/08/14

Trata-se de um comportamento interior de acolhimento da misericórdia de Deus?

Questão 

Em um seminário de oração e catequese do qual participei recentemente, falou-se da importância do perdão e do ato de perdoar os outros. Isso depende inicialmente de uma atitude por vontade da pessoa, que com a ajuda da graça, pode nos consentir chegar a um perdão “completo” das pessoas que ferimos e nos feriram.

No curso desse seminário foi citada a necessidade de perdoar não apenas os outros, mas a também a si mesmo. Todavia Pedro (Mt 18,21), na famosa pergunta, refere-se ao “irmão” que peca contra ele, não a si mesmo.

Pergunto se encontra fundamento na Escritura o perdão a si mesmo, muitas vezes usado também em âmbito psicológico. É possível perdoar a si mesmo? Trata-se de um comportamento interior de acolhimento da misericórdia de Deus?

Resposta do sacerdote

O perdão diante do comportamento humano é um ato interessante. Mas é uma ação que se volta ao outro. Na Bíblia não se encontra o perdão a si mesmo, mas antes, o perdão é um ato de Deus: “Ao Senhor, que é nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão…” (Dn 9,9), e como Deus é o modelo supremo, também o homem deve perdoar. No Novo Testamento o conceito de perdão está presente mais de 140 vezes e sempre indica o perdão de alguma ofensa recebida do outro.

A citação de Daniel sugere a junção de duas palavras: misericórdia e perdão. De maneira similar, o perdão humano segue um ato de misericórdia. Tendo unido os dois conceitos, o perdão deriva sempre de uma participação no estado miserável do outro, resultado da culpa cometida. O erro, o pecado, a ofensa, ou como queira chamar, torna quem o comete um mesquinho, um miserável, portanto, passivel de culpa e julgamento. Mas é preciso cuidado com julgar os outros. O próprio Jesus diz: não vim para julgar, mas para salvar (cf. Jo 3,16.21). E a própria compaixão ou misericórdia suspende o juízo sobre o outro e adentra no seu pobre compartilhamento do pecado. Este ato tem uma força enorme porque invoca a solidariedade entre os homens, enquanto Deus primeiramente é solidário com as misérias humanas. Deus se deixa comover pela situação humana e suspende o seu absoluto e legítimo juízo de condenação para dar o perdão. Se refletimos sobre estas coisas, compreendemos a grandeza moral, espiritual, humana que habita o homem quando perdoa o seu ofensor. Em outros termos: quando sou ofendido, tenho direito de julgar o outro, mas com a força do coração comovido, reconheço a sua deplorável situação, entro no seu problema e o perdoo.

A misericórdia é ver no irmão que o bem que ele é como ser humano é maior do que suas más ações. Parece este ser verdadeiramente o gesto de Deus.

Agora, não teria sentido “perdoar a si mesmo”. Mas com isso queremos dizer que, apesar do mal que fizemos, dentro de nós permanece uma larga parte de bem. Contra o desespero interior, não se pode deixar morrer dentro de nós o anseio pelo bem e a esperança de um retorno à vida de graça em Deus.

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