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A devota coisificação das crianças

Big Family – pt

J. Wills

Big families are fun

Cari Donaldson - publicado em 06/08/14

Os pais de famílias numerosas têm que tomar cuidado com essa tentação diabólica

Na semana passada, eu tive a alegria de participar de uma surpreendente conferência de mulheres católicas nos Estados Unidos. O evento em si já foi um bálsamo para os nervos desta mãe exausta, mas, além disso, durante o encontro, o Espírito Santo me ofereceu um lampejo incrível sobre a cruz invisível que as pessoas com problemas de fertilidade são chamadas a carregar.

Eu escrevi sobre isso no meu blog e, quando terminei, meio que fechei os olhos e fiz uma prece ao clicar em "Publicar". Afinal, quanta presunção tem que ter uma mãe de seis filhos para falar sobre a experiência de casais que enfrentam a cruz da infertilidade ou da subfertilidade? Resposta: muita.

No entanto, a manifestação que se seguiu a esse post foi algo que eu nunca tinha esperado nem visto na vida. Mulheres que antes se sentiam invisíveis nos círculos católicos compartilharam comigo, de modo comovente, a sua dor: a dor de viver uma vida de contracultura, ou seja, defendendo radicalmente a abertura à vida, mas, ao mesmo tempo, não conseguindo ter a família numerosa que seria a manifestação visível dessa contracultura.

Aquelas mulheres compartilharam comigo a angústia de, por um lado, serem elogiadas pela cultura laica por causa da sua "responsabilidade" quanto ao tamanho da própria família, e, por outro lado, de ouvirem comentários impensados de outros fiéis católicos, ​​ou, pior ainda, comentários em que esses católicos parecem questionar a sinceridade do casal em trilhar o caminho da "abertura à vida".

Seguiram-se histórias generosas, uma após a outra, e, de repente, em meio à dor que praticamente irradiava da minha tela, eu ouvi uma única palavra sussurrando no meu coração.

Coisificação.

Fiquei paralisada. Coisificação? Nós? Mas nós somos os mocinhos dessa história! É o mundo laico, a cultura da morte, a mentalidade contraceptiva que coisifica as crianças! São eles, não nós! São eles que veem as crianças como algo que pode e deve se adaptar aos nossos horários, às nossas contas bancárias e aos nossos planos quinquenais. São eles que veem as crianças como mercadoria a ser criada e destruída à vontade, compradas e vendidas em clínicas de fertilização in vitro e negociadas em acordos de sub-rogação como se fossem gado. São eles. Não somos nós! Nós não coisificamos as crianças!

Mas então… Então eu realmente prestei atenção ao que o Espírito Santo estava tentando me dizer. E eu tive que admitir que, às vezes, olhando em volta, na minha própria paróquia, me vinha o pensamento de que nós éramos a maior família que havia e que, por isso, nós tínhamos que ser a única família realmente fiel a todos os ensinamentos da Igreja, inclusive os mais exigentes. Eu tive que admitir que, às vezes, eu podia ser culpada de transformar as crianças em sinais de devoção, de enxergá-las como objetos da fidelidade dos pais a Cristo.

Perdão, irmãos e irmãs!

Eu pensei então na linguagem que os católicos praticantes usam para falar sobre o tamanho da própria família. Nós dizemos coisas como: "Eu só tenho três" ou "Nós temos só dois por enquanto". Essa não é também uma linguagem de coisificação? Não é uma linguagem que retira o caráter único de cada criança e transforma o conjunto delas numa espécie de folha de registro? É a mesma linguagem de comentários como "Bem, é um bom começo, vocês ainda são jovens!" ou "Tudo bem, vocês podem contar sempre com a alternativa da adoção!".

São palavras e noções que jogam o jogo do inimigo. De quem o diabo teria mais medo, nesta cultura cada vez mais laica, do que das pessoas que se rebelam contra a cultura da morte e contra a esterilidade de uma mentalidade contraceptiva?




Acontece que ele não se rende: se ele falhou na tentativa de nos atrair para essa cultura da morte, ele ainda tenta envenenar as nossas almas para coisificarmos os filhos desse outro modo. Ele tenta nos fazer glorificar as crianças de uma forma que beira a idolatria. Ou o fetichismo. E, a partir daí, as crianças deixam de ser importantes, deixam de ser almas originais, feitas à imagem e semelhança de Deus, para se tornar objetos que sinalizam justamente a nossa suposta resistência às ciladas do demônio.

A que isso nos leva? Eu acho que nos leva a um ponto em que a graça pode fluir. A um ponto em que nós confiamos uns nos outros o suficiente para expor as nossas feridas, a um lugar em que podemos tomar medidas adicionais para ajudar os outros a carregarem as suas cruzes. E, principalmente, a um ponto em que nós ainda conseguimos nos lembrar de que as crianças não são um número, não são um objeto que funciona como sinal de fidelidade a Cristo, mas sim criações originais, feitas por um Deus amoroso e misericordioso!

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