"Esse é um desastre humanitário. As igrejas foram ocupadas, suas cruzes foram removidas", e mais de 1.500 manuscritos foram queimados
Os jihadistas do Estado Islâmico (EI) invadiram nesta quinta-feira Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, o que provocou a fuga de milhares de pessoas, enquanto o Conselho de Segurança da ONU anunciava uma reunião de emergência sobre a situação.
De acordo com o patriarca caldeu Louis Sako, 100 mil cristãos foram obrigados a abandonar suas casas "com nada além de suas roupas", após a tomada de Qaraqosh e de outras cidades na região de Mossul (norte) pelos combatentes do EI.
Entre as localidades ocupadas estão Tal Kayf, Bartela e Karamlesh, que foram "esvaziadas de seus habitantes", denunciou o bispo Joseph Thomas, arcebispo caldeu de Kirkuk e de Sulaymaniyah.
"Esse é um desastre humanitário. As igrejas foram ocupadas, suas cruzes foram removidas", e mais de 1.500 manuscritos foram queimados, ressaltou Sako.
"Hoje fazemos um apelo com muita dor e tristeza ao Conselho de Segurança da ONU, à União Europeia (UE)e às organizações humanitárias, para que ajudem essas pessoas em perigo", insistiu o patriarca que teme um "genocídio" da população cristã iraquiana.
Em Roma, o papa Francisco fez nesta quinta-feira um apelo urgente à comunidade internacional para proteger a população do norte do Iraque.
O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, afirmou que o pontífice "se une aos apelos urgentes dos bispos" da região pela paz e pediu à comunidade internacional que proteja e garanta a ajuda necessária às pessoas em fuga.
Pouco depois, diplomatas indicaram que o Conselho de Segurança da ONU teria uma reunião de emergência sobre a situação no Iraque. A reunião, a pedido da França, estava prevista para começar às 17h30 local (18h30 de Brasília) a portas fechadas.
– Sem resistência –
Em Qaraqosh, os jihadistas ocuparam a cidade após a retirada das forças curdas, explicaram moradores dessa localidade cristã de 50 mil habitantes.
Qaraqosh fica entre Mossul, segunda maior cidade do país nas mãos do EI, e Erbil, a capital da região autônoma do Curdistão.
No norte de Mossul, em Tal Kayf, onde viviam muitos cristãos e membros da minoria xiita de Chabak, os jihadistas "chegaram pouco depois da meia-noite" e "não encontraram resistência alguma", relatou Boutros Sargon, um habitante contactado por telefone em Erbil, após fugir durante a noite.
Esse novo êxodo supera por sua amplitude a dos cristãos expulsos de Mossul em julho, enquanto a comunidade cristã no Iraque diminuiu mais de metade desde 2003 e está estimada atualmente em 400 mil pessoas.
Em um comunicado, o EI saudou "uma nova libertação na província de Nínive (de onde Mossul é a capital), que servirá como uma lição aos curdos profanos".
Esse avanço do IE deixa os jihadistas a apenas 20 km das fronteiras oficiais do Curdistão iraquiano e a apenas 40 km de Erbil.
Liderados pelo EI, que já havia se estabelecido na Síria, insurgentes sunitas lançaram em junho uma ofensiva relâmpago no norte do Iraque, ocupando grandes faixas de território.
Aproveitando-se da retirada do Exército, as forças curdas, de longe mais bem treinadas e organizadas, tomaram posições fora de suas fronteiras oficiais, ampliando informalmente o Curdistão em 40%. Elas têm recuado desde o final de julho.
Nesta quinta-feira, no entanto, os peshmerga asseguraram que repeliram um ataque jihadista contra a represa de Mossul, uma infraestrutura que lhe permite controlar o acesso à água e à energia elétrica em toda a região.
E as forças curdas se uniram ao Exército iraquiano e às milícias xiitas para realizar uma operação conjunta para libertar Amerli, uma cidade turcomana sob cerco há quase dois meses pelos jihadistas e localizada 160 km ao norte de Bagdá.