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É possível adivinhar o futuro?

The world’s most famous physicist tells his own story – pt

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Pe. Henry Vargas Holguín - publicado em 20/08/14

Uma reflexão sobre o dom da profecia para responder à pergunta de um leitor da Aleteia

Toda pessoa, com o Batismo, recebe a graça santificante, a vida sobrenatural.

Dentro da graça santificante, Deus concede a graça habitual e outras graças chamadas de graças atuais (Catecismo, n. 2000), que são auxílios sobrenaturais transitórios, ou seja, dados em cada caso, e que não são necessários para evitar o mal e fazer o bem com relação à salvação (Denzinger 797 s.).

Com a vida sobrenatural, recebemos, além disso, as graças sacramentais (as que recebemos nos sacramentos) e as graças especiais (carismas), como o dom da profecia, o discernimento de espíritos, o dom de milagres ou de línguas (1 Cor 12, 10), bem como as graças de estado, que acompanham o exercício das responsabilidades da vida cristã e dos ministérios na Igreja.

O dom da profecia é também a irrupção de Deus na vida do receptor, para comunicar uma revelação (aprofundamento de uma verdade revelada) e/ou a comunicação da sua vontade.

A última profecia reconhecida pela Igreja como divinamente inspirada é o último livro do Novo Testamento: o Apocalipse. A plenitude da Revelação se dá com a vinda de Cristo; portanto, não há nada para acrescentar a ela.

Cristo pronunciou muitas profecias, tais como a negação de Pedro, a destruição do templo, a própria paixão, morte e ressurreição, a situação dos apóstolos quando foram detidos diante dos reis, e as grandes obras que eles fariam em nome de Jesus.

Depois da vinda de Cristo, não é preciso esperar nenhuma revelação nova com relação à situação fundamental da humanidade no que diz respeito à salvação.

De fato, nele e por ele, Deus revelou plenamente seu desígnio universal de amor. Esta revelação é considerada encerrada depois da morte do último apóstolo.

As revelações privadas

Ainda há lugar, durante a fase presente da economia salvífica, para as revelações de Deus destinadas a iluminar os crentes sobre a forma de agir nas circunstâncias em que vivem e a dirigir sua ação prática, moral, espiritual e religiosa.

A estas revelações damos o nome de “privadas” ou, como fez o Concílio de Trento, revelações “especiais” ou “particulares” (Dz 1540; 1566), para diferenciá-las da revelação precedente, chamada “pública”, porque esta se dirige, mediante o ministério da Igreja, às pessoas de todos os tempos e de todos os lugares, sem distinção.

As revelações privadas se dirigem, por meio de humildes videntes – entre eles as crianças – a amplos setores da Igreja, quando não à Igreja inteira.

Temos, assim, no século XVII, as aparições do Sagrado Coração em Paray-le-Monial; depois, nos séculos XIX e XX, as aparições marianas de Salette, Lourdes, Fátima etc. É impossível mencionar todas.

Hoje, não se pode tratar a questão das revelações privadas sem fazer referência a estas aparições. Porque elas falam, mandam, instruem, confiam segredos. Tentam “guiar nossa conduta”.

Mas quando chamam a atenção sobre certas verdades da doutrina cristã, não é para acrescentar algo ao depósito da fé, e sim para fazer seu conteúdo penetrar na vida de caridade da maneira mais conveniente, ou para destacar e propor à devoção dos fiéis algum aspecto pouco conhecido ou esquecido desse depósito e, portanto, ajuda todos a cumprirem a vontade divina.

Constituem sempre um impulso e um estímulo para uma vida espiritual mais séria, mais intensa, mais fervorosa, que tenda a crescer na fé e no amor a Deus, ou a realizar obras apostólicas e de caridade.

A Igreja outorga liberdade para aceitar ou rejeitar profecias individuais, pessoais ou privadas, segundo a evidência a favor ou contra.

Precisamos ter cuidado ao admitir ou rejeitar tais profecias
e, em todos os casos, devemos tratá-las com respeito quando chegam até nós de fontes confiáveis e que estejam em consonância com a doutrina católica e suas regras morais – este é um critério fundamental.

A verdadeira prova destas profecias é o seu cumprimento. Esta e a regra anterior ajudarão a diferenciar as profecias verdadeiras das falsas.

As revelações privadas precisam ser tratadas com muito tato, sobretudo quando falam do estado das almas depois da morte, e mais ainda dos já canonizados pela Igreja.

E o segredo de condenação jamais será revelado, menos ainda dos que ainda vivem, pois, enquanto a alma permanecer nesta vida, sua salvação será possível.

As profecias ou revelações que dão a conhecer os pecados dos outros, ou que anunciam a condenação ou predestinação de almas, devem ser objeto de dúvida.

Mas o que é exatamente uma profecia?

Na teologia mística, o uso do termo “profecia” se aplica tanto às profecias da Escritura canônica (revelação pública) como às profecias pessoais (revelação privada).

O dom da profecia, entendido em sentido estrito, consiste em ter conhecimento, às vezes antecipado, de algo que Deus quer comunicar ou revelar, direta ou indiretamente (por meio da Virgem Maria ou dos santos) ou em contemplar acontecimentos ou verdades que não podem ser conhecidos à luz da razão sozinha.

Sabemos que Deus, em seu ensinamento, se manifestou a nós sob diversas formas, e deu sua Revelação por meio de diferentes e válidos meios; recordemos que Ele até mandou anjos (Êxodo 23, 20-23, Lucas 1, 28 etc.).

Receber uma mensagem ou adivinhar

Este tema tem tantos anos quanto a história da salvação; muitos de nós ouviram pessoas que garantem ter recebido mensagens, que podem ser de Nossa Senhora, de santos, de anjos ou do próprio Jesus.

Deus dá a conhecer sua vontade ao receptor do dom da profecia ou quer que saiba algo que é bom saber.

Mas o futuro não é como uma realidade paralela que já foi estabelecida desde a eternidade e que vai se materializando ou concretizando pouco a pouco, à medida em que o tempo passa, até chegar ao momento presente: neste sentido, o futuro não existe.

Deus simplesmente revela, em seu momento, ao profeta ou ao receptor da profecia, uma coisa pontual, por exemplo, que agirá de tal ou qual maneira, ou quer comunicar algo.

Então, por parte do ser humano, uma coisa é pretender adivinhar ou trazer ao presente alguma realidade futura (que é impossível), e outra, muito diferente, é a intervenção de Deus na história pessoal ou humana para agir e/ou comunicar algo relacionado ao plano de salvação traçado desde sempre.

O receptor de uma profecia que vem a saber algo simplesmente o sabe porque Deus quis que fosse assim, porque quis se comunicar assim ou o permitiu dessa maneira, mas isso não é, em absoluto, adivinhar o futuro.

O fim do mundo

Também o dia do juízo final é um segredo que jamais foi revelado. Com relação ao final da história, todos os videntes concordam em duas características principais>

1. Em primeiro lugar, todos indicam uma revolução originada desde a impiedade, constituída por uma oposição formal a Deus e à sua verdade, e manifestada na perseguição mais atroz pela qual a Igreja já passou.

2. Em segundo lugar, todos prometem para a Igreja a vitória mais esplêndida que já teve na terra.

Estas realidades, em suma, não são novas, pois Jesus já afirmou: “No mundo tereis tribulações. Mas ânimo! Eu venci o mundo” (cf. Jo 16, 33); “Eu vos disse isso para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que já vos havia dito” (cf. Jo 16, 4).

Estas profecias – as privadas – não nos iluminam mais do que as
profecias das Escrituras no que diz respeito ao juízo final, que continua sendo um segredo divino.

O que não é profecia?

A profecia não é um pensamento positivo, não é improvisar e começar a dizer a primeira coisa que vier à mente; não é uma intuição; não é ter um pressentimento ou uma sensação que chega de forma espontânea à mente; não é passar por divino algo que em teoria Deus poderia dizer, apenas para ganhar fama e título de profeta; não é experiência por conhecimento, como ocorre com o mecânico que, ao escutar um barulho no motor do carro, sabe o que lhe acontece ou acontecerá se não agir, ou com o médico que, ao constatar alguns sintomas, pode dar um diagnóstico.

A verdadeira profecia é uma mensagem de Deus destinada à comunidade ou ao indivíduo. E, ainda que não precise estar em forma bíblica, não pode ser contrária à Escritura.

Em todo caso, as revelações privadas não oferecem nenhuma contribuição para a melhoria da Revelação divina.

A Igreja, como guardiã da Revelação, tem o direito e o dever de examinar a revelação privada; e trata isso com grande cautela e reserva.

A aprovação eclesiástica, na verdade, é uma afirmação de que a revelação privada não está em contradição com a revelação universal e pública, e que pode servir para o crescimento espiritual.

O receptor do dom da profecia deverá, por via de regra, ser virtuoso e de mérito, já que todos os autores místicos concordam em que, em geral, Deus concede estes dons aos indivíduos santos.

Divisão das profecias

Em razão do objeto, existem três tipos de profecia (São Tomás de Aquino, Summa 4 II-II (b), 174:1): profecia de predestinação, profecia de presciência e profecia de cominação.

A profecia de predestinação acontece quando Deus revela o que fará e o que vê presente na eternidade e em sua decisão absoluta.

Isso inclui não somente o segredo da predestinação à graça e à glória, mas também aqueles acontecimentos que Deus decretou absolutamente que fará pelo seu poder supremo e que ocorrerão infalivelmente, por exemplo: “Eis aqui que a virgem conceberá…”.

A profecia de presciência acontece quando Deus revela algum evento que depende de uma livre decisão ou livre arbítrio e que vê presente desde a eternidade, por exemplo, a profecia de Simeão.

A profecia de cominação é sinal de admoestação divina ou de denúncia, quando Deus revela eventos futuros subordinados a acontecimentos de ordem secundária, que podem se cumprir ou não; por exemplo, Jonas e a possível destruição de Nínive e a destruição de Sodoma.

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