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Cem anos de luz para o mundo

Pe. Alberione

Família Cristã

Família Cristã - publicado em 28/08/14

A celebrar o centenário da fundação da Família Paulista, os apóstolos da comunicação recordam as origens da obra do Pe. Alberione

A celebrar o centenário da fundação da Família Paulista, os apóstolos da comunicação recordam as origens da obra do Pe. Alberione para apontarem os caminhos do futuro. Quando se regressa ao princípio, todos os pensamentos, todas as palavras, atos e emoções voltam ao essencial. Sem omissões. Porque sem memória não há identidade.

A Família Paulista nasceu do sacrário. De uma luz que iluminou o espírito do então jovem Tiago Alberione. De uma inspiração que sentiu e pôs em prática com audácia e visão. Tinha 16 anos quando algo o interpelou a não ficar suspenso na espuma dos dias e ver para lá da linha do horizonte que o perímetro do olhar alcança.

Era a noite de 31 de dezembro de 1900. Tiago Alberione estava na Sé de Alba (norte de Itália) com outros seminaristas nessa noite de oração para acolher o novo século.

Por vontade de Leão XIII, «na noite entre dois séculos», as igrejas ficaram abertas com adoração eucarística até de manhã. Durantes essas horas de oração, há vários pensamentos que atravessam a mente do jovem Alberione. «Nenhuma indicação de metas a alcançar, de percursos… Dir-se-ia antes que fora um aviso. Um convite a manter-se preparado, a partir daquele momento e para sempre.» (O Beato Tiago Alberione, editor para Deus, Domenico Agasso)

Mais tarde, é o próprio Alberione que explica a importância do que sucedeu nessa noite de oração em Abundantes Divitiae Gratiae Suae (Riquezas abundantes da Sua Graça), um livro que escreveu na terceira pessoa para afastar de si o protagonismo: «A noite que dividiu o século passado do presente foi decisiva para a missão específica e o espírito particular em que nasceria e viveria a Família Paulista.»

Antes daquela passagem de ano, houve outros momentos que ficaram a fermentar no seu coração. O jovem seminarista tinha assistido a um congresso onde ouviu o discurso cativante de José Toniolo, um dos maiores mestres do pensamento social católico. Lera o convite do Papa para rezar pelo novo século. As indicações na Encíclica Tametsi futura de Leão XIII para relançar a Igreja numa nova evangelização, o poder da imprensa na formação da opinião pública, a necessidade de cristianizar a vida individual e todas as realidades sociais despertaram-no para a missão que levaria a cabo no futuro. Recorda Alberione: «Tanto um como outro falavam das necessidades da Igreja, dos novos meios do mal, do dever de opor imprensa a imprensa, organização a organização, de fazer o Evangelho penetrar nas massas, das questões sociais… Uma luz especial veio da Hóstia, compreendeu melhor o convite de Jesus: "Vinde a Mim todos…" Pareceu-lhe entender o coração do grande Papa, os convites da Igreja, a missão verdadeira do sacerdote. […] Sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer algo pelo Senhor e pelos homens do novo século com os quais viveria. Teve a perceção bastante clara do seu nada, e ao mesmo tempo sentiu: "Estarei convosco até ao fim dos séculos" na Eucaristia, e que em Jesus-Hóstia podia-se conseguir luz, alimento, conforto, vitória sobre o mal», escreveu em Abundantes Divitiae.

Aquele momento viria a transformar a sua vida – e a do mundo inteiro. E decidiu «fazer qualquer coisa por Deus e pelos homens do século XX».

«Pregação escrita»

Mais tarde, ele haveria também de escrever para os homens e as mulheres que são o fruto da obra que lançou: «Vocês nasceram da Hóstia, do Tabernáculo.» Foi dali que se partiu para o mundo. Foi dali que emanou o alimento que os nutriu para divulgarem com confiança e persistência o Evangelho.

Alberione foi ordenado a 29 de junho de 1907 e o seu bispo encarregou-o da direção espiritual e do ensino a seminaristas. Sentia que a sua fé deveria ser missionária e a evangelização teria de chegar a todos. Escreveu Apontamentos de teologia pastoral (1912) e A mulher associada ao zelo sacerdotal (1915). 8 de setembro de 1913 é a data em que «o bispo faz soar a hora de Deus», recorda o padre Alberione. Foi-lhe entregue o cargo de diretor do semanário diocesano
Gazetta d’Alba e abriu assim com a imprensa o caminho do apostolado.

Aquele era um tempo em que apareciam novas ideologias, havia uma difusão cada vez maior de jornais e livros, e ele enchia-se cada vez mais da certeza de que «o mundo precisa de uma evangelização nova e profunda», que era preciso sair das sacristias para ir até onde palpita a vida, pois «a imprensa e os jornais dão origem hoje aos pensamentos, aos sentimentos e ao homem; formam a opinião pública, que é o governo, o verdadeiro, o único, o absoluto soberano da sociedade que vive», é necessário «opor imprensa à imprensa», «a imprensa boa à imprensa má» (O Beato Tiago Alberione, editor para Deus, Domenico Agasso).

Para Alberione, evangelizar as massas que abandonavam a Igreja é «uma revolução radical de mentalidades», era uma forma nova de «pregação». À tradição da pregação oral, o fundador dos Paulistas juntava a «pregação escrita».

Com a imprensa, depois com o cinema, rádio, televisão, música e meios digitais, Alberione e os seus filhos e filhas espirituais colocam-se ao serviço do Evangelho de forma pioneira na Igreja.

Catorze anos depois daquela noite cheia de luz, o sacerdote continuava inquieto para fazer algo por Deus e pelos homens e mulheres do novo século. Inspirado por Jesus Caminho, Verdade e Vida, iniciou, em Alba, a Família Paulista com a fundação da Pia Sociedade de São Paulo (Paulistas). Segundo os relatos biográficos de Alberione, ele chamou dois dos seus afilhados espirituais – Desiderio Costa e Torquato Armani, a que se juntaram outros em pouco tempo – para uma casa improvisada a que deu o nome Escola Tipográfica Pequeno Operário. Estava lançada a pedra na Igreja que iria dar origem a uma nova instituição. Foi assim que se começou a impressão dos primeiros livros, se impulsionou a edição do jornal Gazzeta d’Alba e da revista Vita Pastorale. Multiplicam-se as iniciativas e as vocações para viver esta missão. O projeto começava a ganhar dimensões que superavam as expectativas e era necessário olhar para novos horizontes, outras janelas de oportunidade. Alberione pensou: «De Alba tinha-se em vista a Itália; de Roma, especialmente outras nações» (AD 114). Enviou o primeiro sacerdote, Timóteo Giaccardo, para fundar na cidade eterna uma comunidade e casa de formação em 1926. Virava-se uma nova página na história da obra paulista. Uma década depois, Alberione transferiu-se para Roma. Nessa altura, a Sociedade São Paulo já tinha cruzado o oceano. O exemplo de São Paulo no ardor missionário levava a congregação a espalhar a Boa Nova pelo mundo. Começou pelo Brasil (em 1931), Argentina, EUA, França, Espanha, Índia, Japão, Portugal e não tem parado. A Sociedade São Paulo está presente hoje em 39 nações, tendo nascido em Alba a 20 de agosto de 1914 – o mesmo dia em que morreu o Papa Pio X. Em 1927 recebeu a aprovação diocesana. A 10 de maio de 1941, Pio XII concedeu a primeira aprovação ao Estatuto, ou seja, às Constituições, que foram depois definitivamente aprovadas pela Santa Sé em 1949.

A família religiosa que fundou é constituída pela Sociedade São Paulo (1914), Filhas de São Paulo (1915), Pias Discípulas do Divino Mestre (1924), Irmãs de Jesus Bom Pastor (Pastorinhas, 1936), Irmãs do Instituto Rainha dos Apóstolos, para as vocações (1956), e os institutos agregados Jesus Sacerdote, São Gabriel Arcanjo, Nossa Senhora da Anunciação (1958), Santa Família (1960), Cooperadores Paulistas (1917). Todos estes institutos «no seu conjunto formam a Família Paulista… Possuem origem comum, espírito comum, fins convergentes» (Constituições e Diretório da Sociedade São Paulo
).

Sal e luz para o mundo

Os exemplos de Cristo Mestre e o Apóstolo Paulo estimularam o Pe. Alberione a procurar comunicar a «Boa Nova» aos homens e às mulheres dos tempos modernos: «Espalhe a Palavra divina através da imprensa: apresentai-a com o mesmo entusiasmo que Jesus Mestre manifestou ao pregá-la; com o mesmo ardor que animou São Paulo ao difundi-la; com a graça e a humildade com que Maria se tornou Mãe do Verbo Encarnado.» João Paulo II considerava Alberione o primeiro apóstolo da Nova Evangelização. Ele dizia que os que trabalhavam na obra paulista tinham de ser sal e luz para o mundo: «Não tratar somente de religião, mas falar de tudo cristãmente.»

A devoção a Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos, como Mãe que dá o Filho ao mundo, e São Paulo, como modelo para fazer-se «tudo a todos» inspira os Paulistas neste apostolado.

O Papa Paulo VI chegou a dizer que Alberione «deu à Igreja novos instrumentos para se exprimir, novos meios para dar vigor e desenvolvimento ao seu apostolado, novas capacidades e nova consciência do valor e da possibilidade da sua missão e com meios modernos» (Beato Tiago Alberione).

Depois da obra feita, o fundador deixou fisicamente os seus filhos espirituais na tarde do dia 26 de novembro de 1971. Paulo VI visitou-o e ajoelhou-se junto do leito onde estava moribundo. A ligação entre eles era especial, admiravam-se mutuamente e isso ficou ainda mais evidente num episódio que é hoje ainda lembrado por todos. O Pontífice recebeu vários membros dos institutos paulistas no dia 28 de junho de 1969, na Sala Clementina do Vaticano, numa audiência onde proferiu as seguintes palavras sobre Alberione e que sintetizam a sua vida: «Ei-lo: humilde, silencioso, incansável, sempre vigilante, sempre recolhido nos seus pensamentos, que vão da oração à ação (segundo a fórmula tradicional: ora et labora), sempre atento a perscrutar os "sinais dos tempos", ou seja, as formas mais geniais para chegar às almas; o nosso padre Alberione deu à Igreja novos instrumentos para infundir vigor e amplitude ao seu apostolado, nova capacidade e nova consciência da validade e da possibilidade da sua missão no mundo moderno e com os meios modernos.»

A sua obra ficou para a história e os homens e as mulheres de hoje continuam a escrevê-la com o foco no futuro. O Papa João Paulo II, aquando da abertura do centenário do nascimento do Pe. Alberione (4 de abril de 1884), discursou a um grupo de religiosos e religiosas, dizendo: «A Família Paulista é uma árvore, porque na multiplicidade dos seus ramos, único foi e permanece o tronco original e – o que é mais importante – única é a linfa vital que a alimenta e a faz desenvolver.» (O cooperador paulista, setembro de 1983)

Explorar novos caminhos

Volvidos 100 anos, trabalha-se para que esta seja uma árvore que continue a dar frutos. Antecipam-se novos desafios, avizinham-se as dores do crescimento e as dificuldades naturais que surgem quando se quer ir mais longe.

Os bispos portugueses publicaram em maio passado uma nota pastoral sobre o centenário da Família Paulista. Elogiaram o «carima que Deus deu à Igreja e ao mundo por meio do beato Alberione» e afirmaram que todos «são convidados a olhar para o futuro, para os homens e mulheres deste novo século, preparando-se para fazer melhor, para que também no novo "continente digital" em que vivemos brilhe a luz do Evangelho, se possa conhecer o rosto de Cristo, seja possível ouvir a sua voz e acolhê-lo como o Caminho, a Verdade e a Vida».

O futuro exige que se abram novos caminhos, atenção aos novos contextos deste tempo que é o nosso: «Sempre atenta aos sinais dos tempos, a Sociedade aceitará e fará seu qualquer outro meio mais célere e eficaz que a inteligência humana descobrir, para o maior bem dos homens.» (Constituições e Diretório da Sociedade São Paulo)

Agora que se celebram cem anos de vida, é tempo de se projetar o olhar para longe. Combater o bom combate para se chegar aos homens e às mulheres do século XXI e recorda-se de maneira especial um pensamento do beato Alberione: «A única derrota na nossa vida é desanimar diante das dificuldades, ou melhor, abandonar o combate. Para o homem: se morre combatendo, é um vencedor; se abandona o combate, é um vencido; e o lugar dos vencidos é o inferno. "Ao vencedor darei do maná escondido." Vale a pena lutar pelo saber e pela verdade.» (Pensamentos, Tiago Alberione)

Sílvia Júlio

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