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Decálogo da oração em Santo Agostinho

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Aleteia Vaticano - publicado em 28/08/14
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“Orar é amar e deixar-se amar por Deus”1. A oração é um dom de Deus, pelo qual o homem deve pedi-la como um mendigo. Seja rico, seja pobre, o homem diante de Deus sempre será um mendigo. A oração, para Santo Agostinho, parte deste preâmbulo (Homo mendicus dei: En in Ps. 29, 2, 1; Sermo 56, 9; Sermo 61,4). 

2. A oração é exercício de humildade, partindo do auto-conhecimento diante de Deus: 

— "Ó Deus, que és sempre o mesmo, faze que me conheça e que te conheça" (Sol 2,1).
— Pois: "Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes" (1Pd 5,5). 

3. A oração é obra do Espírito Santo, que clama em nosso interior (Rm 8,26) para que nos dê as palavras e a voz para orar diante de Deus. 

— "A caridade, ela mesma geme, a caridade mesma reza. E aquele que a deu a nós, não saberia fechar os ouvidos a ela. Fica tranqüilo, que a caridade suplique! Aí estão os ouvidos de Deus" (Ep. Io. tr. 6.8).
— "Deus encheu seus servos com seu Espírito para que louvassem" (En. in Ps. 144,1). 

4. A oração é um exercício de reconciliação, recolhimento interior. Há que entrar no próprio coração evitando a dispersão, para encontrar-nos com Cristo, Mestre interior. 

— "Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem" (De Vera religione 39, 72).
— "Vós, porém, éreis mais íntimo que o meu próprio íntimo e mais sublime que o ápice do meu ser" (Conf. 3, 6, 11). 

5. A oração é um exercício de amor. 

a) Orar é amar e deixar-se amar por Deus.
— Orar é: "Ao abraçar a Deus que é amor, abraças a Deus por amor" (De Trin 8, 8, 12). 

b) Orar é amar, e deixar-se transformar pelo próprio Deus na oração pelo fogo de seu amor, deixando as coisas da terra e enchendo-se de Deus: 
— "Amas a terra? Terra serás. Amas a Deus? Que direi? Serás deus. Não ouso afirmá-lo por minha conta. Escutemos as Escrituras: Eu disse sois deuses e todos sois filos do Deus Altíssimo" (Ep. Io. tr. 2, 14). 

c) Orar é amar, para esvaziar-se do amor do mundo e encher-se de Deus: 
— "Não ames o mundo! Afasta de teu coração a má dileção do mundo, para deixá-lo encher-se do amor de Deus. Tu és um vaso, mas ainda estás cheio. Derrama o que está em ti, para receberes o que não está" (Io. ep. tr. 2,9). 

d) Orar é amar, para apegar-se a Cristo esquecendo-se de tudo o mais. Todas as coisas se tornam relativas, quando a partir da oração, se ama profundamente a Cristo: 
— "Quando estiver unido a Vós com todo o meu ser, em parte nenhuma sentirei dor e trabalho. A minha vida será então verdadeiramente viva, porque estará toda cheia de Vós" (Conf. X, 28, 39). 
— "O próprio amor é a voz que louva a Deus" (En in Ps. 117,23). 

6. A oração é diálogo amoroso com Deus

a) Dialoga-se escutando e respondendo à Palavra de Deus: 
— "Tua oração é um diálogo com Deus; quando lês as Escrituras Deus te fala; quando oras, tu falas a Deus" (En in Ps. 85,7). 

b) Dialoga-se para encontrar a Deus e se lhe encontra para segui-lo buscando com maior amor. 
— "É, pois, procurando para que sua descoberta seja mais gratificante, e é encontrado para que sua procura seja feita com mais avidez" (De Trin. 15,2). 

7. A oração é o encontro com a vontade de Deus. 

a) Orar para não resistir à vontade de Deus: 
— "O que quer dizer ‘faça-se a tua vontade? Faça-se em mim de modo que não resista a tua vontade" (Sermo 56,7). 
— "O vosso servo mais fiel é aquele que não espera nem prefere ouvir aquilo que quer, mas se propõe aceitar, antes de tudo, a resposta que de Vós ouviu" (Conf. X, 26, 37). 

b) Orar para deixar minha vida nas mãos de Deus, sabendo que é ele quem me capacita para cumprir sua vontade. 
. "Dai-me o que ordenais e ordenai-me o que quiserdes" (Conf. X, 29, 40). 
. "Não rezais se não disseres esta oração (o Pai Nosso); se utilizas outra, Deus não te ouvirá, pois não é dita pelo Legislador que enviou. Portanto, é mister que, quando rezarmos, rezemos conforme essa oração; e quando a pronunciarmos, entendamos bem o que dizemos" (En in Ps. 103, s I, 19). 

8. A oração é o desejo enamorado de Deus. 

a) É parte da oração contínua. Nunca se deixa de orar se nunca se deixa de desejar a Deus. 
— "Existe outra oração interior sem interrupção, que é o desejo. Seja o que for que faças, se desejas aquele repouso (da vida eterna), não interrompes a oração. Se não queres interromper a oração, não cesse de desejar" (En in Ps. 37,14). 
— "Oramos incessantemente por meio da fé, da esperança e da caridade. Porém, em certos intervalos de horas e tempos, oramos também vocalmente ao Senhor, para nos admoestarmos com os símbolos daquelas realidades" (Epistula 130, 9, 18). 

b) A oração é o "grito do coração": 
— "Quem tem dúvidas de não ser em vão um clamor dirigido ao Senhor pelos que oram, se produzido pela voz do corpo, sem que o coração esteja orientado para deus? Se, porém, se dá no coração, mesmo silenciando a voz corporal, quando necessário seja em silencio diante de Deus, ao orarmos, temos de clamar com o coração. O grito do coração é um pensamento veemente que quando se dá na oração, expressa o grande afeto do que ora e pede, de sorte que não desconfia de conseguir o que se pede" (En in Ps. 118, s.29, 1).

 

9. Orar é sentir-se Igreja e comunidade

O cristão nunca está sozinho porque faz parte do mistério da Igreja, do Corpo de Cristo. 

— "Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, que suplique por nós, ore em nós, e a quem enderecemos nossas preces. Ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e a Ele oramos como Deus. Reconheçamos, portanto, na sua as nossas vozes, e sua voz em nós" (En in Ps. 85,1). 
— "Nós rezamos pelo gênero humano, pedimos pelo mundo inteiro, por todos os povos para que se corrijam o quanto antes e tendo já reto o coração, se encaminhem à retidão de Deus" (En in Ps. 103,13). 

10. Orar é elevar o coração a Deus
Santo Agostinho comenta continuamente as palavras da celebração da Eucaristia "corações ao alto". Por isso, orar é deixar que o coração ascenda a Deus, buscando as coisas do mundo inteiro, não as da terra, com um desejo enamorado de Deus: 
— (a oração) "É a ascensão das coisas terrestres às celestes; a busca das coisas mais elevadas, o desejo das coisas invisíveis" (Sermo 73, 2). 

(Site dos Agostinianos Recoletos)