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Família e conflitos: a contribuição da Igreja na ONU

Silvano Maria Tomasi – pt

AFP PHOTO / UN PHOTO / JEAN-MARC FERRE

SWITZERLAND, MONTREUX : Monseigneur Silvano Maria Tomasi, the Permanent Observer of the Holy See to the United Nations Office in Geneva, speaks during the so-called Geneva II peace talks conference dedicated to the ongoing conflict in Syria, on January 22, 2014, in Montreux . Representatives of Syrian President Bashar al-Assad, a deeply divided opposition, world powers and regional bodies started a long-delayed peace conference aimed at bringing an end to a nearly three-year civil war. AFP PHOTO / UN PHOTO / JEAN-MARC FERRE == RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / UN PHOTO / JEAN-MARC FERRE" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS

Anna Pelleri - publicado em 01/09/14

Entrevista com Dom Silvano Tomasi, observador da Santa Sé nas Nações Unidas em Genebra

Guerras, crises humanitárias, família, pedofilia, vida, desenvolvimento, os tempos efervescentes do debate internacional são muitos e de grande complexidade. Pergunta-se como responder às exigências do mundo, quais são as estratégias mais adequadas, as leis corretas, até que ponto se pode encontrar um rumo. E ainda qual seria o papel dos vários agentes, entre os quais se encontra a Igreja. Pastores e uma companhia para o homem antes de tudo, como ensina o Papa Francisco através dos seus gestos, mas também um sujeito internacional que participa dos processos decisivos como nas Nações Unidas.

A Aleteia pediu a Dom Silvano Tomasi, observador da Santa Sé nas Nações Unidas em Genebra, que explique a posição da Comunidade Internacional a respeito dos dois grandes temas: família e conflitos. Assim como o papel da Igreja nesse contexto.

Qual é a posição da Santa Sé, perante a comunidade internacional, sobre a família? Por que não é uma posição ultrapassada? Como o senhor avalia a recente revolução do Conselho de direitos humanos da ONU sobre a família?

O Conselho de direitos humanos das Nações Unidas aprovou em junho uma resolução um pouco particular onde se fala da proteção da família. A importância desta resolução foi dada pelo fato de que existiam pedidos da parte de alguns países, da União Europeia de maneira particular, para não inserir tanta proteção “à família”, mas “às famílias”. Ou seja, proteger os indivíduos que em uma combinação ou em outra criam comunidade. Estaríamos falando de indivíduos do mesmo sexo ou da mesma vontade de acentuar não tanto no conceito de família, mas sobre o indivíduo, que pode se associar com um parceiro do mesmo sexo ou de sexo diferente. O fato de que a maioria dos membros do Conselho tenha votado a favor da resolução assim como foi apresentada foi um passo importante, porque criou um precedente: na discussão do tema da família, deve-se colocar em consideração a tradição jurídica das Nações Unidas a partir da declaração universal dos direitos do homem de 1948. Esta é um pouco a base de todas as convenções e tratados internacionais onde, no elenco dos direitos, menciona-se também o direito à família. A interpretação do conceito de família se refaz, desta maneira, no texto inicial dos documentos do segundo século após a guerra. Neste sentido é importante e podemos sustentar este tipo de resolução. O conceito de família que se encontra nos documentos importantes, nas convenções, nos tratados dos anos 60 e 70, refletem substancialmente a tradição judaico-cristã. Por isso a interpretação deve ser dada no contexto onde foram feitos tais pactos internacionais e onde a ideia de família é aquela do casamento de um homem e uma mulher, em vista da procriação dos filhos.

A contribuição que nós cristãos damos à sociedade internacional, sustentando o conceito de família como a natureza a apresenta, é de olhar o futuro com otimismo, porque a continuidade da família humana depende do casamento entre um homem e uma mulher. Desta maneira queremos respeitar a ordem da natureza e ao mesmo tempo apoiar a sociedade no seu caminho para o futuro.

Como agente internacional, a Igreja é chamada a apresentar uma posição política e estratégica sobre as crises internacionais. Esta combina com a modalidade escolhida pelo Papa de ser uma presença que, além das estratégias, faz companhia às pessoas que vivem tais situações de guerra e de crise?

Se olharmos ao nosso redor, neste momento vemos que muitos focos de violência, guerra, conflito, ao redor do mundo: do norte da Nigéria, ao sul do Sudão; na República Centro Africana, no Congo, para estar na África; e sobretudo hoje os meios de comunicação ressaltam as guerras na Síria, no 
Iraque e entre israelenses e palestinos, no Oriente Médio. A responsabilidade da comunidade internacional, através das estruturas que são dadas, ou seja, as Nações Unidas e o Conselho de Segurança, é voltar a uma convivência pacífica e uma situação de segurança nas diversas regiões do mundo. Ou seja, a tentativa de estudar e refletir juntos sobre como contribuir, de fato, e de maneira concreta e específica, com a paz, é o tema de tudo aquilo que está seguindo adiante no contexto internacional da ONU.

Nós, cristãos, damos uma contribuição direta neste sentido: sabemos que a violência não leva a nenhum bem, destrói e coloca as premissas para perpetuar outros atos de violência em resposta a injustiças ou ofensas sofridas. Esta contribuição da comunidade cristã é expressa de maneira particular pelo Papa Francisco, que mostra com os seus apelos, com seus gestos simbólicos, com o encontro com Abu Mazen e Peres, que a única estrada razoável é do diálogo e da paz. Ao mesmo tempo, quando existem riscos de genocídio e violações sistemáticas dos direitos fundamentais das pessoas, e não existem soluções, ou sanções, ou diálogos que são aceitos, a Comunidade Internacional tem a obrigação de agir através dos meios que considera adequados para obter um bem maior, superando o mal que é combatido. A presença dos cristãos nestes focos de violência, como ajuda humanitária e testemunho da vontade de dialogar, de criar pontes e paz, é um valor inestimável, mesmo se coloca em risco tais pessoas. Mas é ali, onde existe risco e perigo, que o valor deste testemunho torna-se ainda mais precioso.

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