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Papa Francisco, como Chesterton

G. K. Chesterton – pt

Public Domain

Jorge Traslosheros - publicado em 03/09/14

A maneira inteligente como o Papa lida com a imprensa recorda o grande pensador inglês

Francisco parece um peixe na água entre os jornalistas. Em sua viagem de volta da Coreia, ele voltou a dar lições sobre como lidar com a imprensa. Sem dúvida, São Francisco de Sales já o adotou sob sua proteção e Chesterton lhe sussurra dicas valiosas. Entre suas respostas, houve duas que chamaram especialmente minha atenção.

Durante sua estadia na Coreia, Francisco usou uma fita amarela em solidariedade com os familiares das vítimas do desastre com a balsa Sewol, cujo naufrágio causou inúmeras mortes. Os parentes das vítimas cobram do governo coreano uma explicação satisfatória por meio de uma comissão independente. O Papa se reuniu com eles e inclusive batizou o pai de uma das vítimas. Já no avião, um jornalista coreano lhe perguntou se não se importava com o fato de o seu gesto poder ser “mal interpretado politicamente”.

A resposta do Papa dispensa comentários: “Quando te encontras face a face com o sofrimento humano, deves fazer aquilo que o teu coração te leva a fazer. (…) Quando tu pensas nestes homens, nestas mulheres, pais e mães que perderam os filhos, os irmãos e as irmãs, quando pensas no sofrimento tão grande de uma catástrofe, não sei como é, mas no meu coração – eu sou um sacerdote – sinto que devo aproximar-me! (…) Eu sei que a consolação que uma minha palavra poderia dar, não é um remédio, não restitui a vida àqueles que morreram; mas, naqueles momentos, a proximidade humana dá-nos força”.

O Papa comentou também que alguém lhe sugeriu que tirasse a fita amarela, porque o Papa deveria ser imparcial… “Sabe? Com o sofrimento humano, não podemos ser neutros”.

A verdade é que Jesus nunca foi neutro diante do sofrimento, muito menos indiferente. A Igreja tampouco pode sê-lo. O mais profundo e belo da sua história tem a ver com sua enorme parcialidade frente à dor, assim como aos pecados dos seus filhos com a tentação da indiferença.

E não se trata de buscar bispos clonados à imagem de Francisco, nem clérigos e leigos ensaiando sorrisos. Isso seria lamentável e atentaria contra a diversidade de carismas na Igreja. Cada um com o que Deus lhe deu e onde o colocou.

O importante é sintonizar o olhar com o Nazareno, algo que devemos reaprender cada dia na oração. Esse olhar reconhecível pela simples razão, cuja força de atração é irresistível.

Durante a entrevista, que os jornalistas centralizaram muito na pessoa do Papa, também ficou claro que Francisco se reconhece como portador de uma mensagem que não lhe pertence e que enche de alegria os que a recebem.

À pergunta sobre sua popularidade crescente, ele respondeu com um senso de humor muito jesuíta e cristão: “Interiormente, procuro pensar nos meus pecados e nos meus erros, para não me iludir, porque eu sei que isto durará pouco tempo, dois ou três anos, e depois… a casa do Pai”, disse, entre alegre e irônico.

Alguns jornalistas ocidentais, adictos do mau humor, não o entenderam e afirmaram solenemente que o Papa tinha pouco tempo de vida. Mas que descoberta, para um homem de 78 anos! Sua popularidade, acrescentou, é vivida na gratidão a Deus, porque ele se reconhece, como bispo, pastor do qual Deus se utiliza para “manifestar muitas coisas”.

Francisco mostra, com o seu testemunho, duas virtudes necessárias para anunciar o Evangelho em meio à cultura do descarte: não se pode ser neutro diante da dor e, para conseguir isso, é bom não nos levar muito a sério.

O sábio Chesterton já dizia: “Os anjos podem voar porque não levam nada a sério”.

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