São Tomás de Aquino explica a beleza desta virtude
Questão
Caro Padre Angelo, São Tomás de Aquino fala da caridade somente na Suma Teológica?
Obrigado
Resposta do sacerdote
Caro,
Sim, e ele fala também em outros lugares, como por exemplo no terceiro livro do Comentário às Sentenças de Pietro Lombardo. Mas eu quero relembrar também uma breve apresentação dos efeitos e das vantagens da caridade, que São Tomás escreveu.
Comentando os dois preceitos da caridade (amar a Deus e ao próximo), ele enumera quatro efeitos desta virtude, que a tornam muito agradável, aos quais acrescenta outros cinco. Exponho a síntese dos primeiros quatro (São Tomás, In duo praecepta caritatis et in decem legis praecepta expositio, nn. 1139-1154).
“1. Infunde no homem a vida espiritual (causat in eo spiritualem vitam)
É manifesto que o amado vive naturalmente no coração daquele que o ama. E por isso quem ama a Deus o possui dentro de si (qui diligit Deum, ipsum habet in se): ‘quem permanece na caridade, permanece em Deus, e Deus nele’ (1Jo 4,16).
Por seu dinamismo natural, o amor transforma o amante no amado; por isso, se amamos coisas sem valor e passageiras, tornamo-nos também nós sem valor e efêmeros, como diz o profeta Oseias: ‘tornaram-se abomináveis como aquilo que amaram’ (Os 9, 10). Se amamos a Deus, tornamo-nos divinos, porque ‘quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito’ (1Cor 6,17).
Mas como diz Santo Agostinho, ‘como a alma é a vida do corpo, assim Deus é a vida da alma’ (Confissões, X,1). E isto é obvio. De fato, digamos que o corpo vive graças à alma quando possui as atividades próprias da vida, aquilo que age e se move. Se a alma vai embora, o corpo não age e não se move mais. E assim, também a alma age virtuosae e perfeitamente quando age movida pela caridade, por meio da qual Deus habita nela. Sem caridade, porém, não age. De fato ‘quem não ama, permanece na morte’ (1Jo 3,14).
Deve-se considerar também que se uma pessoa tem todos os dons carismáticos do Espírito Santo, mas não tem a caridade, não tem a vida. O carisma das línguas, da fé e também qualquer outro carisma, sem a caridade, não comunica a vida. Um cadáver, se revestido de ouro e de pedras preciosas, permanece igualmente um cadáver. Isto é, portanto, o primeiro efeito do amor.
2. A caridade nos faz observar os mandamentos
São Gregório diz que ‘o amor de Deus nunca se encontra no ocioso; porque existe, faz coisas grandiosas. Se se recusasse a agir, não seria amor’. Ou seja, sinal evidente da caridade é a prontidão no observar os mandamentos divinos. Nós vemos, de fato, que o amante é capaz de coisas grandes e difíceis pelo amado: ‘se alguém me ama, guarda a minha palavra’ (Jo 14,23).
Gosto de lembrar que João Paulo II, na Encíclica Veritatis Splendor, parece se referir a este pensamento de São Tomás quando escreve: ‘Quem vive «segundo a carne» sente a lei de Deus como um peso, mais, como uma negação ou, pelo menos, uma restrição da própria liberdade. Ao contrário, quem é animado pelo amor e «caminha segundo o Espírito» (Gál 5, 16) e deseja servir os outros, encontra na lei de Deus o caminho fundamental e necessário para praticar o amor, livremente escolhido e vivido" (VS, 18).
3. A caridade é baluarte (praesidium) contra a adversidade
Quando uma pessoa possui a caridade, nenhum infortúnio ou dificuldade a prejudica, mas volta ao seu favor: isso porque “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8, 28). Contrariedade e dificuldade parecem suaves a quem ama, como atesta a experiência.
4. A caridade conduz à felicidade
Somente a quem possui a caridade é prometida a bênção eterna. Sem a caridade, de fato, tudo é insuficiente: “resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2Tm 4,8).