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O alcorão realmente ordena e justifica a decapitação?

Steven Sotloff being held by ISIS – pt

AP

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Pe. Dwight Longenecker - publicado em 05/09/14

Um debate dentro do próprio islã

As decapitações dos reféns norte-americanos Steven Sotloff e James Foley por extremistas do grupo fanático Estado Islâmico não são incidentes isolados. Do norte do Iraque e da Síria, o grupo tem colocado na internet uma série de vídeos terríveis mostrando pilhas de cabeças decepadas, cabeças espetadas em cercas, adolescentes decapitando prisioneiros e até mesmo crianças rindo e carregando cabeças decepadas pelas ruas.

O jornalista Douglas Murray, escrevendo na revista britânica “The Spectator”, argumentou recentemente que a decapitação é uma prática ordenada pelo alcorão. Ele cita a passagem 8,12 do livro sagrado muçulmano, que diz: "[Quando] vosso Senhor revelou aos anjos: Eu estou convosco. Confirmai, pois, aqueles que creem. Infundirei o terror no coração dos incrédulos. Decepai-lhes a cabeça e batei em cada um dos seus dedos".

O texto certamente leva a entender que o alcorão promove a decapitação dos incrédulos e que essa violência seria um mandamento divino, voltado a inspirar o terror. Tentando entender um pouco melhor o islã e dar aos muçulmanos o benefício da dúvida, eu fiz uma pesquisa on-line em busca de alguma explicação islâmica para esta passagem.

Afinal de contas, também poderiam ser extraídos das escrituras cristãs alguns mandamentos bastante violentos feitos por Deus. É o caso da passagem de I Samuel 15,3, em que Deus ordena ao rei Saul matar os amalequitas: "Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhes pertence, sem nada poupar: matarás homens e mulheres, crianças e bebês, bois e ovelhas, camelos e jumentos". Até mesmo algumas palavras do próprio Jesus podem ser tiradas de contexto, como quando Ele diz: "Eu não vim trazer a paz, e sim a espada".

Será que a passagem condenatória do alcorão foi tirada de contexto?

A explicação dos apologetas muçulmanos é que o pano de fundo desse mandamento é uma situação real de batalha. Na batalha de Badr, do ano de 624, os guerreiros muçulmanos foram chamados a defender o seu povo. Os apologetas muçulmanos argumentam que generalizar o que é dito nesse versículo e afirmar que o islã ordena a decapitação é tão injusto quanto usar a passagem de I Samuel 15,3 para dizer que o cristianismo ordena o genocídio, ou que o cristianismo é uma religião intrinsecamente bárbara e violenta.

Parece um argumento justo. O versículo condenatório do alcorão, assim como o da bíblia, tem um contexto histórico particular em que os guerreiros apelavam à revelação divina para justificar os seus atos de genocídio e de violência.

A questão, porém, é que hoje não há cristãos exterminando aldeias inteiras, mas há muçulmanos fazendo exatamente isso e evocando a religião como justificativa. Na Nigéria, o grupo terrorista islâmico Boko Haram tem um longo e pavoroso histórico de ataques selvagens cometidos em nome do fanatismo religioso. O mesmo acontece na Síria e no norte do Iraque, onde o grupo terrorista Estado Islâmico vem evacuando povoados, assassinado os seus habitantes, vendendo mulheres como escravas e incendiando igrejas e templos. Jesus até pode ter dito “Eu não vim trazer a paz, e sim a espada”, mas todos entendem que Ele não quis dizer isso literalmente, assim como tampouco quis dizer literalmente que devemos “nascer de novo” ou “virar crianças”, expressões metafóricas cujo sentido Ele próprio teve que explicar a Nicodemos (cf. João, capítulo 3).

Uma dificuldade da passagem 8, 12 do alcorão é que é dito aos soldados que eles devem usar a espada literalmente e sem piedade. Os guerreiros do Estado Islâmico, de fato, ao decapitarem pessoas que eles considerem infieis, alegam fazê-lo por obediência direta a esta passagem das suas escrituras.

Os muçulmanos moderados ficam tão consternados com esse fanatismo quanto um cristão que ouvisse falar em genocídios cometidos por obediência a I Samuel 15,3.

A passagem 8,12 do alcorão não ordena que os muçulmanos decapitem pessoas a seu bel-prazer; os muçulmanos fanáticos é que estão usando essas palavras, fora de contexto, para justificar a sua violência e terror abomináveis.

Eles deveriam, em vez disso, ouvir os seus mestres moderados e sábios. Muitos líderes muçulmanos já se manifestaram claramente contra os bárbaros do Estado Islâmico. Além de ouvi-los, os fundamentalistas deveriam prestar atenção também a outras passagens do mesmo alcorão, que dizem, por exemplo: "Em verdade, Deus ordena a justiça e a realização do bem aos outros e proíbe a indecência, o mal manifesto e a transgressão injusta" (cf. alcorão 16,91).

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