A Igreja, com o Papa Francisco adiante, apresenta-se como interlocutora, mediadora, mas também como guia
Guerra e paz, Igreja e Estado, conflitos religiosos. Diplomacia, intervenções militares. Hoje são muitos os olhares que veem o que acontece no mundo. A Igreja, com o Papa Francisco adiante, apresenta-se como interlocutora, mediadora, mas também como guia. Pergunta-se qual deveria ser a tarefa de um pontífice e da Igreja diante de tais situações tão complexas e dramáticas.
Aleteia entrevistou Massimo Borghesi, professor de Filosofia Moral na Faculdade de Letras e Filosodia da Universidade de Perugia. Ele é professor de História do ateísmo na Universidade Pontifícia Urbaniana e autor de textos sobre a secularização e a relação entre as religiões e interculturalidade.
Qual tipo de intervenção armada um papa pode apoiar?
Sobre este tema houve muitas polêmicas da parte daqueles que pressionavam até que o Papa fizesse uma declaração explícita, e daqueles que resistiam. O Papa reiterou com muita clareza a posição tradicional. A doutrina social da Igreja, assim como o Catecismo, falam claramente: uma guerra é lícita quando é uma guerra de defesa. Ou seja, quando estamos diante de uma invasão e, neste caso, também a expulsão de todo um povo do próprio território com assassinatos, atos de barbaridade, conversões forçadas, entre outras, a Igreja sempre professou o direito legítimo de defesa.
Podemos portanto falar de “guerra justa”?
Neste caso se pode falar de “guerra justa”, mesmo se o termo não é propriamente correto enquanto cada guerra, mesmo a mais “justa”, pode se manchar inevitavelmente de crimes. Existe, porém, este direito de resistência que não pode ser armado. Faz-se problemática sobre o fato de que o Papa tenha dito que não é preciso bombardear, mas estas são questões mais técnicas: existem diversas maneiras de conduzir uma guerra e, em todo caso, o Papa não excluiu, mas pediu uma intervenção armada. A decisão das modalidades com as quais conduzir tal intervenção não depende do Papa, mas da Comunidade Internacional.
É uma política “do mal menor”?
A política do mal menor é sempre uma política calculada e refletida, trata-se – na intervenção bélica – de não causar um mal maior em relação à ofensa sofrida. É necessário, neste caso, uma reflexão sobre conveniência, ou os motivos que possam legitimar a intervenção; neste caso, parece-se que existem todos, porque estamos diante de uma realidade que envolve diretamente os cristãos no Iraque, e não somente eles: de fato, o Papa foi muito claro ao dizer que o problema se relaciona aos cristãos, muçulmanos, yazidis, todos os perseguidos pelo Estado Islâmico (EI), que constitui a ponta extrema do radicalismo islâmico, que não pode ser identificado, como muitos fazem no Ocidente, com o islã. Uma identidade que constituiria o melhor presente para o EI, levantado com a bandeira do inteiro islã.
O Papa, assim como os representantes das Igrejas locais hoje particularmente em dificuldade como na Terra Santa, Padre Pier Battista Pizzaballa, atuam em ação pastoral, de presença e aproximação entre os homens. Como conciliar esta modalidade com aquela mais política da Santa Sé como o ato internacional?
A posição de Pizzaballa está profundamente em sintonia com a operada pela Santa Sé. Ele é um ótimo pastor enquanto se move ao interno de uma grande sensibilidade pastoral como custódio da Tessa Santa e ao mesmo tempo é também de fim diplomático. Sobre o plano internacional esta é a posição da Santa Sé, a qual evita, propositalmente, ficar de maneira rígida nas divisões que atravessam a cena de hoje. Com isso a Igreja se opõe ao maniqueísmo que volta a marcar o contexto mundial evitando de dar uma legitimação às ideologias teopolíticas, fonte de intolerância e violência.