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Do ponto de vista moral, fumar é pecado?

Fumare è peccato? – pt

© DucDigital/Creative Commons

Toscana Oggi - publicado em 09/09/14

Os especialistas respondem à pergunta de um leitor

Tenho o vício de fumar há muitos anos e não consigo deixar o cigarro, talvez por falta de convicção. Há alguns dias, uma pessoa me disse que fumar é pecado porque prejudica nosso corpo e traz o risco de doenças graves. No entanto, meu antigo pároco fumava. Então, fumar é pecado ou não?

Resposta de Gianni Cioli, professor de teologia moral:

A pergunta do leitor não é tão simples como pode parecer à primeira vista. Não tenho constância de que a teologia moral no passado, quando estava tendencialmente centrada nos atos para estabelecer com exatidão o que era pecado ou não, tenha se questionado seriamente sobre a questão de pecabilidade do ato de fumar.

Pelo que vi, as únicas questões relacionadas ao uso do tabaco que se encontram nos velhos manuais escritos em latim se referiam ao jejum eucarístico: se mastigar, cheirar ou fumartabaco poderia comprometer o jejum previsto para poder comungar e, em geral, parecia que não (cf. Alfonso Maria De Liguori, Opere morali; D. M. Prummer, Vademecum theologiae moralis).

A falta de atenção ao tabaco como problema moral por parte dos manuais de teologia pós-tridentina se deve, em boa parte, ao fato de que, durante séculos, nos quais se espalhou o costume de fumar, não se tinha ainda a consciência de que o tabaco pode ser prejudicial.

Pelo contrário, inclusive se pensava que fumar fazia bem: por exemplo, meu avô contava que, quando era soldado, era convidado a fumar como medida profilática contra possíveis infecções nas vias respiratórias.

Durante o século XX, a experiência clínica e a pesquisa científica demonstraram, no entanto, que, na realidade, fumar prejudica gravemente a saúde (de quem fuma e dos outros), sobretudo quando a pessoa fuma muito.

Estudos recentes confirmam que a fumaça do cigarro é particularmente prejudicial em certas condições, como os ambientes fechados e os automóveis. Por isso, em muitos países, surgiram leis particularmente restritivas com relação ao cigarro.

Com base nisso, os textos de ética médica (P. Chaurchard, Farmaci, psicofarmaci e morale) e manuais recentes de bioética (L. Ciccone, Bioetica. Storia, principi, questioni) sublinharam que o abuso do tabaco pode constituir uma grave incorreção moral.

Voltando à pergunta do leitor, mais que no âmbito do pecado, eu gostaria de abordar a questão no âmbito do dever moral, também em linha com a renovação da teologia moral dos últimos 50 anos, que tiraram o acento dos limites entre o lícito e o ilícito para colocá-lo na reflexão sobre as atitudes que encarnam melhor a caridade (cf. Optatam totius 16). O pecado implica, acima de tudo, um envolvimento da pessoa que parece problemático vincular a priori a um determinado ato moral.

Não é, portanto, o caso de considerar que quem fuma comete sempre um pecado; no entanto, se é verdade que o cigarro pode prejudicar gravemente a saúde, acho que o bom senso (e sobretudo o senso de caridade) são suficientes para colocar-nos diante de uma série de deveres que não podem ser deixados de lado.

O primeiro é o dever de não prejudicar a saúde dos outros e, portanto, evitar fumar sobretudo nos lugares privados onde há muitas pessoas, especialmente crianças.

O segundo dever é o de não prejudicar a própria saúde e cuidar-se, e isso, se é verdade que a fumaça do cigarro é nociva, comportará o dever de não começar a fumar; se já se é fumante, o de tentar seriamente deixar o cigarro, talvez gradualmente se isso facilitar as coisas, ou fumar menos, evitando, em todo caso, lugares e situações nas quais fumar pode ser mais nocivo, como em casa ou no carro.

A estes deveres poderíamos acrescentar o de afastar-se de qualquer dependência (por conseguinte, do
cigarro, claramente uma dependência nociva), para ser cada vez mais livres para crescer humanamente e na vida espiritual.

Paradoxalmente, pode acontecer de um fumante já não ser considerado responsável e, portanto, não se pode imputar-lhe culpa se fuma demais, porque a dependência limita sua liberdade de escolha; mas também é verdade que todos nós temos a responsabilidade de prevenir as dependências e podemos ser responsáveis pelas nossas faltas de plena liberdade.

Dito isso, também é preciso levar em consideração que não se pode exigir sempre esta responsabilidade de quem começou a fumar muito jovem, sem plena consciência, talvez com a ilusão de sentir-se grande, e que caiu na dependência.

Não podemos esquecer o fato de que, para quem tem o costume, o cigarro pode ser percebido coo um apoio irrenunciável para enfrentar momentos delicados de concentração no estudo e no trabalho, como acontece com o café. Trata-se certamente de condicionamentos falsos dos quais a pessoa pode se libertar com vontade, paciência e terapias adequadas (certamente vale a pena fazê-lo e se deve tentar), mas também é verdade que livrar-se da necessidade de fumar não parece imediatamente fácil.

Mais que ao confessor, eu diria que a pessoa precisaria ir ao médico para decidir, com ele, a melhor maneira de parar de fumar: se é preferível, por exemplo, uma decisão drástica ou gradual e com que terapias.

Com relação a isso, não pretendo relativizar o valor terapêutico da oração e dos sacramentos, porque, na antropologia autenticamente cristã, não há dualismo entre espírito e corpo.

Em conclusão, não nego que, em determinadas circunstâncias, a decisão de fumar possa constituir um pecado, mas não acho que podemos generalizar, gerando sentimento de culpa e favorecendo neuroses em quem já tem problemas.

Considero, no entanto, que se pode propor, com coerência e bom senso, um dever que poderíamos resumir em uma única frase: fumar menos é bom, parar de fumar é melhor, e não começar é melhor ainda.

(Artigo publicado originalmente por Toscana Oggi)

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