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“Estamos transformando a imaturidade normal em um transtorno mental”

Personas espirituales pero no religiosas, más propensas a la depresión – pt

© Corinne MERCIER/CIRIC

Cope - publicado em 10/09/14

Um dos pais da psiquiatria moderna alerta: “Remédio demais pode ser prejudicial à sua saúde”

Allen Frances é um dos pais da psiquiatria moderna, diretor durante anos do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o livro de referência da psiquiatria mundial. Agora, ele lamenta o rumo que está tomando o tratamento de muitas doenças e aponta com firmeza a indústria farmacêutica como responsável.

O que é normal?

“Quando um país passa por problemas econômicos, faz parte da condição humana que as pessoas se sintam tristes, preocupadas, que tenham incertezas sobre seu futuro. Isso não é um transtorno mental”, explicou Frances, para quem há um culpado claro: “A indústria farmacêutica gastou bilhões de dólares tentando convencer médicos, pacientes, pais e professores de que os problemas da vida diária são transtornos mentais devidos a um desequilíbrio químico fácil de diagnosticar. Venderam a doença psiquiátrica como um meio de vender comprimidos”.

Em sua opinião, estes problemas da vida diária melhoram com o passar do tempo, a resistência humana, o apoio de amigos e da família, a redução do estresse e a psicoterapia.

“Estes problemas são interpretados erroneamente como transtornos psiquiátricos pelos próprios médicos de atenção primária, depois de ter visto o paciente durante sete minutos, sem conhecer nada sobre ele, sem saber nada de psiquiatria, muito influenciados pelos comerciais dos laboratórios e sob pressão do próprio paciente”, disse.

Além disso, “a maneira mais fácil de dispensar o paciente é prescrevendo-lhe um remédio”. Fácil, esclarece ele, “a curto prazo, mas muitas vezes prejudicial ou desnecessário a longo prazo”.

É o caso o processo de luto. “Somos mamíferos: amamos, temos ataduras. O preço do amor é sentir um luto profundo quando perdemos um ente querido. É algo normal, não só para os humanos, mas também para golfinhos, elefantes, chimpanzés… Não deveríamos esperar eliminá-lo com uma solução superficial, como um comprimido, já que isso reduz a dignidade do amor do ser humano.”

Frances afirma que apenas 5% da população parede de uma doença psiquiátrica grave. “Há milhões de pessoas que não têm um transtorno psiquiátrico real e são etiquetadas erroneamente, tratadas em excesso. Isso é ruim para elas e para esses 5% que realmente precisa de tratamento, porque não recebem cuidado suficiente em apoio social.”

Nessa linha, Frances alerta os pais sobre a importância de proteger os filhos do diagnóstico e tratamento exagerados. “A tendência atual é apressar-se em diagnosticar as crianças”, comenta.

Por outro lado, os pequenos também são mais difíceis de diagnosticar. “Mudam de mês a mês, respondem muito aos agentes de estresse externos e têm diferentes níveis de desenvolvimento. Se uma criança é a mais nova da sala de aula, é provável que seja diagnosticada como se tivesse déficit de atenção. Transformamos a imaturidade normal em transtorno mental.”

Por isso, Frances adverte sobre o risco de tratar as crianças com remédios dos quais não precisam e dos quais e desconhecem os efeitos colaterais a longo prazo, em especial em um cérebro tão jovem.

Solução?

“A melhor proteção contra a medicina comercial é um consumidor informado”, afirma o psiquiatra. Também adverte sobre a necessidade de exercer um controle sobre a indústria farmacêutica. “Têm um poder enorme sobre os políticos e uma grande riqueza para difundir informação enganosa”.

No entanto, explica, “as grandes empresas de cigarro estavam na mesma situação de poder há 25 anos e, quando pudemos frear sua publicidade, pudemos domá-las. É preciso que haja uma mudança no comportamento dos médios, na expectativa do paciente e o mais importante: frear o marketing das empresas farmacêuticas, começando a fazer propagando da mensagem contrária: remédio demais é prejudicial à saúde.

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