A nova sede do clube San Lorenzo de Almagro, o time do coração do Papa, receberá o nome do Santo Padre
A volta do time San Lorenzode Almagro ao bairro de Boedo era esperada há algum tempo. Isso supôs o titânico esforço de milhares de sócios e simpatizantes, sim, mas era um cenário possível. O que ninguém podia imaginar há dois anos – ninguém – era que o novo estádio de futebol receberia o nome de um papa. A comissão diretiva do clube decidiu que o futuro estádio deve ter o nome do seu mais ilustre torcedor.
Um tuíte foi suficiente para impor uma marca que acompanhará a história do esporte mais popular do mundo: “O San Lorenzo terá sua sede no Papa Francisco, em Boedo, Argentina”. O “Papa Francisco”, o estádio, será construído em um terreno recuperado graças à contribuição de milhares de sócios que compraram simbolicamente os metros quadrados necessários para pagar a rede de supermercados proprietária do local.
A ferida por ter deixado o lugar ficou sempre aberta. Entre as inúmeras histórias que restavam, estava a da família Bergoglio. Mario José jogava basquete lá e levava seus filhos para diversas atividades – entre eles, Jorge Mario, que depois foi seminarista, padre e bispo.
Outro padre importante na história do clube
O San Lorenzo foi fundado no início do século XX pelo padre salesiano Lorenzo Massa. Este não foi canonizado nem o nome se refere a ele, apesar de já terem querido honrá-lo dessa maneira. Trata-se de uma homenagem tanto ao mártir São Lourenço como à localidade argentina na qual ocorreu o batismo de fogo do general José de San Martín, libertador da América. Mas a relação do clube com a fé, cujos primeiros encontros foram no oratório de Santo Antônio cedido pelo Pe. Massa, não acaba por aqui.
Em 1995, o San Lorenzo levava mais de 20 anos sem campeonatos. Alguns nem o consideravam mais como um dos grandes times da Argentina. Ao ganhar o campeonato local, mais de 10 mil torcedores peregrinaram a Luján para cumprir uma promessa e agradecer à padroeira da Argentina pela vitória. Quem encabeçou esta peregrinação foi o apresentador televisivo Marcelo Tinelli, hoje vice-presidente da instituição.
Já naquela época, havia voltado definitivamente a Buenos Aires um padre, nesse momento bispo auxiliar de Buenos Aires, que não escondia seu amor pelo time. Em 2008, o já arcebispo de Buenos Aires e cardeal Jorge Bergoglio visitou o clube para celebrar a Missa pelo seu centenário, e foi nomeado sócio honorário. É interessante que ele tenha aceito este reconhecimento, já que costumava recusar homenagens do tipo.
Em 2011, voltou ao clube para a primeira Missa celebrada na recentemente construída capela “Padre Lorenzo Massa”, e presidiu uma Eucaristia na qual 11 crianças receberam a Primeira Comunhão e 8 jovens, a Confirmação. Nesse dia, o clube havia decidido celebrar pela primeira vez as festas dos padroeiros, em honra de Maria Auxiliadora. Do manto de Nossa Senhora o Pe. Massa havia escolhido as cores azul e vermelho, da atual camisa do time.
“Não importamos as cores de outro lugar; nós as pedimos a Nossa Senhora”, expressou na ocasião o então cardeal Bergoglio. E pediu: “Nunca tirem Maria Auxiliadora do clube, porque Ela é sua mãe, já que o San Lorenzo nasceu no (oratório de) Santo Antônio sob a proteção de Nossa Senhora”. Nesse dia, Bergoglio, que, quando criança, havia sido batizado na basílica de Maria Auxiliadora e São Carlos, recordou que não perdeu nenhum jogo do campeonato de 1946, quando ele tinha apenas 10 anos de idade.
O impacto da eleição do Papa Francisco
Quando, em um dos seus primeiros diálogos com os fiéis, o Papa Francisco pediu “que o San Lorenzo ganhe”, começaram a dimensionar o impacto que a eleição do Pontífice teria para a imagem pública do clube. Em poucos dias, a instituição recebeu mais de 500 novos sócios.
Seja pelo poder da oração, pelo impacto da figura do Papa ou nenhuma das duas coisas, após dois meses, o San Lorenzo conseguiu a autorização para voltar ao histórico prédio de Boedo, em dezembro de 2013 ganhou o campeonato local e recentemente, o troféu mais importante do esporte latino-americano e que jamais havia conseguido: a Copa Libertadores.
Algumas pessoas que falam periodicamente com o Papa afirmam que o resultado dos jogos do San Lorenzo são uma constante em suas conversas. E, se um argentino quer arrancar um sorriso ou uma saudação do Santo Padre nas audiências, o segredo é, sem dúvida, gritar algo sobre o seu San Lorenzo.
Com os dedos levantados indicando cada gol a um torcedor do Boca, com brincadeiras com o treinador de outro time, recebendo a delegação do San Lorenzo após o triunfo do campeonato local e da copa continental, Francisco mostra, dia a dia, que o seu clube favorito continua ocupando um grande espaço no seu coração.
Em reconhecimento a este grande amor, o San Lorenzo terá sua sede no Estádio Papa Francisco.