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O papa Francisco e a III Guerra Mundial

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OLIVIER MORIN

Pe. Dwight Longenecker - publicado em 16/09/14

O pontífice faz intensos apelos pelo avanço da paz

Pela segunda vez, o papa Francisco falou recentemente de uma “terceira guerra mundial”. Em seu vôo de volta da Coreia do Sul, ele tinha lamentado o aumento da violência anárquica no mundo, dizendo: "Hoje nós estamos num mundo que está em guerra em todos os lugares. Alguém me disse: ‘Padre, nós estamos na III Guerra Mundial, só que por pedaços’. E ele estava certo".

Neste centenário do início da I Guerra Mundial, o papa Francisco visitou um memorial de guerra no norte da Itália e voltou a falar de uma terceira guerra mundial: "Hoje, depois do segundo fracasso de uma guerra mundial, talvez possamos falar de uma terceira guerra mundial, uma guerra fragmentada, com crimes, massacres, destruição".

E prosseguiu: "A guerra é uma loucura! A guerra é irracional! Seu único plano é trazer destruição: ela tenta crescer destruindo…  A ganância, a intolerância, o desejo de poder. Estes motivos estão na base da decisão de se ir à guerra e são muitas vezes justificados por uma ideologia…".

A Igreja católica diz um sonoro "não!" à guerra. Nosso Senhor Jesus Cristo diz "bem-aventurados os pacificadores".

Então os cristãos devem ser pacifistas? Na Idade Média, os teólogos desenvolveram a teoria da guerra justa, mas muitos acreditam que as diretrizes contextualizadas na cultura e na tecnologia medieval são impossíveis de ser aplicadas na sociedade global e altamente tecnológica de hoje. Quando um drone capaz de disparar mísseis nas montanhas do Afeganistão é controlado por um homem sentado em frente a um computador no Estado do Arizona sob as ordens de outro homem que está em Washington, qual é o sentido de se discutirem as limitações da guerra com uma teoria medieval? Quando a guerra é fragmentada em focos isolados de violência que podem se inflamar em qualquer lugar do mundo, quais são as teorias aplicáveis sobre exércitos e guerra maciça?

Ainda no voo de volta da Coreia, Francisco admitiu que a força das armas pode ser um recurso lícito para se parar o injusto agressor, mas, mesmo assim, ele se pronunciou contra as bombas, porque elas matam civis inocentes, e ressaltou que o objetivo é impedir a injustiça, e não aniquilar o agressor. O papa enfatizou também que esse esforço deve ser realizado mediante uma coalizão internacional.

Em seu novo livro “Jesus Christ Peace Maker” ["Jesus Cristo Pacificador"], Terrence Rynne argumenta que os católicos estão se afastando da teoria da guerra justa e se tornando uma força pró-ativa no sentido de gerar e manter a paz. Se a teoria católica da guerra justa pode parecer muito antiga para os conflitos atuais, a ironia é que a Igreja católica, com o seu alcance global, é a única entidade capaz de manter contatos locais e de contar com a necessária confiança para interagir com os inimigos e trabalhar na construção da paz.

Agentes humanitários vêm descobrindo há muito tempo que a Igreja católica tem “tropas” posicionadas pelo mundo inteiro. A Igreja tem uma infraestrutura global que penetra até os níveis mais básicos. Existem relações de confiança entre os católicos e as comunidades do seu entorno, graças às obras de caridade baseadas na fé e realizadas pela Igreja. Essas mesmas estruturas podem ser usadas não só para ministrar ajuda aos feridos e desabrigados pela guerra, mas também para promover ativamente a paz e a reconciliação.

Com este espírito, o papa enviou o cardeal Fernando Filoni ao Iraque para oferecer apoio espiritual e financeiro às minorias cristã e yazidi. O papa também se reuniu com o arcebispo católico caldeu de Mossul, Amel Shimoun Nona, hoje exilado. O arcebispo Nona amplificou a sua mensagem quando advertiu aos países desenvolvidos do Ocidente que os muçulmanos não compartilham dos mesmos valores de igualdade entre todos os seres humanos, de liberdade religiosa e de tolerância. Ele avisou aos liberais ocidentais: "Se você não entenderem isso rápido, vão acabar sendo vítimas do inimigo que estão recebendo dentro da sua própria casa".

Em outro esforço de pacificação, o papa Francisco apelou aos líderes muçulmanos para denunciarem com toda a obrigatória veemência a perseguição perpetrada pelo Estado Islâmico. O Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso declarou: "A situação dos cristãos, dos yazidis e de outras minorias exige que os líderes religiosos, principalmente os líderes religiosos muçulmanos e as pessoas envolvidas no diálogo inter-religioso, tomem uma posição clara e corajosa. Todos devem ser unânimes na condenação inequívoca desses crimes e devem denunciar a manipulação da religião, usada como justificativa".

Diante de uma terceira guerra mundial que está sendo travada em milhares de episódios, o caminho a seguir não é nem o pacifismo radical nem o da resposta militar maciça. Os católicos devem estar na linha de frente ressaltando a compaixão de Cristo por aqueles que sofrem e oferecendo o perdão e a paz de Cristo para aqueles que precisam desesperadamente de reconciliação.

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