No total, 55,3% dos escoceses votaram contra a independência do Reino Unido e 44,70% a favor
A Escócia rejeitou a independência no referendo de quinta-feira, segundo os resultados definitivos divulgados nesta sexta-feira, e optou por permanecer no Reino Unido após a promessa de Londres de conceder mais poderes ao governo regional.
As autoridades europeias não esconderam o alívio com o resultado, que também alivia um pouco a pressão do governo espanhol, contrário a uma consulta sobre a independência da Catalunha.
No total, 55,3% dos escoceses votaram contra a independência do Reino Unido e 44,70% a favor, segundo a apuração final.
O "não" recebeu quase 400.000 votos a mais – 2.001.926 de votos contra 1.617.989 -, em um referendo que teve uma taxa de participação recorde de 84,59% dos 4,3 milhões de eleitores registrados.
"Estou decepcionado, mas as coisas continuarão como estavam. Não vai mudar a minha vida", disse à AFP Danny Trench, de 23 anos, a caminho do trabalho em Edimburgo.
A diferença foi maior do que apontavam as pesquisas, o que confirma a tese da "maioria silenciosa" contra a independência que era citada pelos unionistas ante o fervor da campanha independentista.
"Chegou o momento para nosso Reino Unido unir-se e seguir adiante", disse o primeiro-ministro britânico conservador, David Cameron, em um discurso à nação diante da residência oficial de Downing Street.
"O debate ficou resolvido por uma geração e, talvez, como disse Alex Salmond, por toda uma vida", completou.
"O povo escocês falou e sua decisão é clara", afirmou o líder conservador.
"Decidiu manter a integridade de nossas quatro nações (Escócia, Gales, Irlanda do Norte e Inglaterra) e, assim como milhões de pessoas, estou feliz por isto", celebrou Cameron.
Cameron defendeu a decisão de conceder à Escócia a possibilidade do referendo porque o Partido Nacional Escocês venceu as eleições de 2011 com maioria absoluta e tinha a independência em seu programa.
"Amo o Reino Unido, mas também a democracia", disse Cameron.
Alguns minutos antes, Alex Salmond, chefe do Governo regional, líder dos independentistas e do partido SNP, reconheceu a derrota.
"É importante dizer que nosso referendo foi um processo acordado e consensual, e a Escócia decidiu por maioria que neste momento não será um país independente", afirmou Salmond em Edimburgo.
"Aceito o veredicto das urnas e peço a toda a Escócia que faça o mesmo e aceite o veredicto democrático do povo", completou, emocionado, o homem para quem o referendo de independência representava o combate de toda uma vida e que liderou uma campanha apaixonada a favor do ‘sim’ nos últimos meses.
Onipresente nas ruas, na imprensa, nos comícios e nas redes sociais, Salmond, de 59 anos, lutou até o último momento para tentar obter a vitória do ‘sim’ à independência.
Os independentistas esperavam uma ampla vitória em Glasgow, a cidade escocesa de maior população, onde o ‘sim’ triunfou, mas apenas por 54,5% contra 46,5%.
O debate sobre o fim ou não de 307 anos de história comum provocou paixões.
O temor do impacto econômico da separação, alimentado pela transferência a Londres da sede social de bancos como o Royal Bank of Scotland às vésperas do referendo ou a possibilidade de não poder utilizar a libra, acabou freando a opção pela independência.
"Não acredito que os escoceses querem estar no Reino Unido, mas tiveram medo de coisas como a mudança da moeda. E não os culpo. Sou brasileira e mudar de moeda é horrível, você tem uma quantidade de dinheiro e no dia seguinte tem outra", disse Andreia Rodrigues, de 38 anos, funcionária em uma cafeteria.
Começa a contagem regressiva
Na véspera do referendo, Cameron, seu aliado governamental liberal-democrata Nick Clegg e o líder da oposição trabalhista Ed Miliband se comprometeram por escrito a iniciar o processo de ampliação de poderes já nesta sexta-feira.