Meu processo durou três anos e ninguém ao meu redor sabia que eu estava passando por isso. As coisas ficavam cada vez mais complicadas para levar a cabo minha opção; no trabalho, eu recebia promoções, tinha cursos, viagens, enfim, nada disso me ajudava a decidir dar o salto. No entanto, eu dei esse salto, lancei-me na aventura e segui meus sonhos, aquilo que fazia meu coração vibrar.
Minha família se perguntava sobre o que eu poderia estar passando de ruim pra fazer isso; perguntaram-me se eu havia tido alguma desilusão no amor (como as pessoas pensam ou a mídia mostra). Claro que não! Era um fogo que me queimava por dentro. Foi uma etapa de luta, lágrimas, alegria.
Cheguei à vida religiosa e só durei 9 meses. A luta interna era tão grande, que decidi voltar para casa; eu ficava pensando que cada dia que passava era uma oportunidade de emprego perdida e que já não seria a mesma coisa. Então saí durante 10 meses; nesse tempo, voltei a trabalhar, recuperei muito do que deixei, ou mais ainda.
O emprego que consegui era fantástico. Deus me deixava em liberdade para decidir e não me fechava as portas. No entanto, não era a mesma coisa, minha vida parecia, de certa maneira, “vazia”, porque o “ter” e “fazer” me realizavam, mas o “ser” nem tanto. Assim, decidi voltar à vida religiosa, mas dessa vez com as mãos e o coração vazios de tudo o que pudesse me impedir de caminhar.
Agora, posso dizer que Deus é tão maravilhoso, que, na verdade, nos dá mais do que deixamos para trás. Atualmente, vivo com alegria a minha vocação, sigo o Ser a quem amo, e os dons que Ele me deu estão a serviço do seu Reino, ou seja, estudei Contabilidade Pública e, ainda que pareça inacreditável, eu a continuo exercendo. É claro que não recebo um salário espetacular monetariamente, mas em alegria e entrega, sim.
É trabalhar pelos outros, ver e descobrir que fazer bem o meu serviço dá frutos em muitas pessoas. Tudo aquilo que aprendi no trabalho me ajuda muito no trato com as pessoas, no desenvolvimento pessoal e institucional etc. E ainda por cima tive a oportunidade de cursar uma segunda faculdade.
Às vezes, temos a ideia de que, na vida religiosa ou sacerdotal, a pessoa é ignorante ou tem poucas possibilidades de desenvolvimento. Mas isso é um erro. Pelo contrário, Deus lhe permite crescer, desenvolver-se profissionalmente e ter oportunidades para isso.
Isso por falar só no aspecto profissional, mas há muitos outros âmbitos da vida sacerdotal e religiosa que também são muito interessantes.
Finalmente, como ao jovem rico, Jesus pode estar lhe dizendo: “Ainda lhe falta uma coisa: vá, venda tudo o que você tem e dê o dinheiro aos pobres, e assim terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me”, e você não se arrependerá.
Irmã Erika Jacinto Muñoz
Religiosa del Verbo Encarnado
(Artigo originalmente publicado por Vocación y Actualidad)