Será que a nossa cultura deu uma guinada de 180 graus em questão de poucos anos? Ou será que os defensores do casamento homossexual foram longe demais e rápido demais?
A possibilidade de participar do debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo pode ser excessivamente otimista, dadas as circunstâncias. Afinal, será que existe mesmo algum “debate” em andamento sobre isso?
O que parece é que o “casamento" homossexual já é um fato consumado, que nem está mais em discussão. E quem se opõe a ele, dizem alguns, é gente fanática, presa ao passado.
Mas vale a pena perguntar: será mesmo que a nossa cultura deu uma guinada de 180 graus em questão de muito poucos anos? Ou será que os defensores do casamento homossexual foram longe demais e rápido demais? Será que aquela ansiedade inicial de redefinir o casamento vai arrefecer?
O tempo dirá, mas, esperando o melhor, eu acho que os católicos precisam discutir o casamento entre pessoas do mesmo sexo usando um pouco mais o coração, mesmo sem deixar a razão de lado. Vou explicar.
1. Podemos começar dizendo: "Sinto muito".
Os católicos não odeiam as pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo. Mas, com certeza, muitas vezes parece que odeiam.
Reagir mal a pessoas de cujo estilo de vida discordamos tem sido um problema frequente para nós, católicos. Já fomos acusados de odiar os divorciados, de odiar as pessoas que vivem juntas sem estarem casadas, de odiar as mulheres que fizeram abortos.
Em muitos casos, o nosso comportamento em relação a cada um desses grupos foi atroz mesmo. Em muitos outros, porém, nós conseguimos praticar a nossa maior virtude: a caridade verdadeira.
Podemos dizer, então: "Eu sinto muito que nós tenhamos sido vistos como inimigos. Nós aceitamos você com respeito e com delicadeza, tal como a Igreja nos ensina e tal como foi e é praticado pela Madre Teresa, pelo papa Francisco, por tantos católicos que consideramos exemplares. Nós queremos amar incondicionalmente e sem colocar em primeiro lugar os filtros do julgamento moral. Perdoe-nos pelas vezes em que não conseguimos".
2. Cite os nomes de liberais mundialmente reconhecidos, como Barack Obama e Hillary Clinton.
"O casamento é algo santificado entre um homem e uma mulher", disse Obama em 2004.
"O casamento é do jeito que sempre foi, entre um homem e uma mulher", disse Hillary Clinton em 2000.
Nós acreditamos 100% que essas palavras de Obama e Hillary são verdadeiras. E temos absoluta certeza de que podemos dizer essas palavras sem ódio algum, assim como elas foram ditas sem ódio por Obama e por Hillary Clinton.
O casamento é o que sempre foi e sempre será assim. O tempo não muda a verdade.
3. Não transforme esta polêmica num assunto “meramente católico”.
Todas as grandes religiões já definiram o casamento exatamente do jeito que Obama e Hillary também definiram. Todas as sociedades já o definiram da mesma forma.
Gandhi, João Paulo II, Martin Luther King Jr., o Dalai Lama, o Conselho Rabínico da América: todos eles já definiram que o casamento é entre um homem e uma mulher. E nenhum deles é fanático. Nem nós.
4. Concentre-se no jovem casal “tradicional” e nas suas dificuldades.
Pense nos pais de baixa renda que existem na sua comunidade. Pense nos amigos que você sabe que passaram por poucas e boas quando, no começo da vida conjugal, tiveram o primeiro filho. Pense naquelas velhas fotos da sua mãe e do seu pai segurando você no colo.
Todos esses casos envolvem um homem e uma mulher recém-casados e abertos ao nascimento de filhos. Eles têm que batalhar para pagar as muitas despesas decorrentes do fato de estarem dando continuidade à nossa espécie humana. As crianças nascem porque é isso o que acontece, normalmente, quando um homem e uma mulher vivem juntos de maneira natural.
A principal razão pela qual os países reconhecem o casamento como uma instituição social é justamente esta: favorecer e ajudar o jovem casal com filhos. Eles precisam de ajuda especial, de um estatuto especial, de proteção especial. Isso não tem absolutamente nada a ver com o suposto fato de que o romance deles seja "mais especial" do que o romance dos outros. Eles precisam da ajuda porque são eles que geram as crianças, dentro de um relacionamento natural, estando prontos ou não. A pressão é enorme para os jovens casais. Tanto que os casamentos despedaçados são, comprovadamente, um dos principais indicadores de pobreza em qualquer sociedade.
O romance entre casais do mesmo sexo é real? É claro que sim.
Mas o casamento nunca foi entendido como um registro de romances perante o governo. Aliás, nem devemos desejar que o governo mantenha um registro de romances! A instituição do casamento vai muito além do romance. O casamento existe para encorajar e ajudar os casais que, de forma meramente natural, tornam-se mães e pais.
5. Convide os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo a ser seus aliados na defesa da instituição do matrimônio natural.
Temos que encarar os fatos: existem pessoas inteligentes, amorosas, sinceras, que acreditam que não há problema algum com o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo.
Muito bem. Mas será que podemos, pelo menos, contar com essas pessoas para delimitar adequadamente a definição de casamento?
A maioria das pessoas acha que o casamento é uma questão de… de casal, oras. Só que os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo acham cada vez mais natural a poligamia. Mais: muita gente não concorda com a ideia de que os "casamentos abertos" sejam um modelo generalizável; no entanto, esse tipo de união é relativamente comum entre parceiros homossexuais. Acontece que esses tipos de relacionamento são exatamente isso: tipos de relacionamento. Não são, de modo algum, a definição de casamento.
Se esta “expansão” da definição de casamento continuar acontecendo sem que ninguém diga “esperem aí!”, o casamento vai rapidamente perder o sentido. Com isso, o objetivo de ajudar o casal a se consolidar e a formar uma família natural vai ficar mais distante do que nunca.
Por que não convidar os partidários do casamento homossexual a nos ajudar a definir o casamento de tal forma que o conceito seja delimitado apenas aos casais realmente comprometidos entre si e com a vinda de crianças ao mundo?
Por que não convidá-los a conversar conosco sobre a diferença que existe entre o romance e uma instituição social natural que, há milênios, tem o seu foco na geração, na proteção e na educação de crianças por parte de um casal natural composto por um pai e uma mãe?
Por que não podemos dialogar sobre isso?
Eu acho que o debate precisa de muito menos "ódio" e de muito mais "amor". De ambas as partes.