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China: apesar do sobrevoo papal, perseguição aos cristãos continua

CHIESA IN CINA – pt

© Sean SPRAGUE / CIRIC

Steven W. Mosher - publicado em 25/09/14

O fato de que a China tenha permitido que sobrevoasse seu território surpreendeu a todos. Da última vez, em 1989, Pequim havia recusado

Embora tenha ido à Coreia do Sul, o Papa Francisco transmitiu via rádio uma mensagem a Xi Jinping, líder do Partido Comunista Chinês. “Entrando no espaço aéreo chinês, ofereço as minhas melhores saudações a sua excelência e a todos os seus concidadãos e invoco a bênção divina da paz”.

O fato de que a China tenha permitido que sobrevoasse seu território surpreendeu a todos. A última vez que foi feito um pedido deste tipo, em 1989, Pequim havia recusado. O avião, que também se dirigia à Coreia do Sul durante a viagem de João Paulo II, foi forçado a evitar a China em seu trajeto, fazendo um desvio longo ao norte, pela Sibéria. 

Hesitaria em dizer que este gesto seria uma “abertura diplomática à Santa Sé”.

É inquestionável que o Papa Francisco, como os seus predecessores, estejam ansiosos para visitar os 12 milhões ou mais de católicos perseguidos que vivem na China. Na viagem de retorno, Francisco disse claramente aos jornalistas que iria à China “amanhã”, se Pequim aprovasse a sua visita. 

Não parece que a eventualidade se possa verificar rapidamente. Por uma série de razões, os líderes chineses parecem ter a intenção de ver o pastor universal distante dos membros do seu rebanho chinês. Eles até impediram que grupos de peregrinos católicos chegassem à Coreia do Sul, quando o Papa esteve lá.

O problema imediato é que a Igreja Católica está atualmente lutando com as medidas restritivas mais rigorosas para o cristianismo que o país já viu nos últimos anos. Na província de Zhejiang, por exemplo, segundo a China Aid, mais de 60 Igrejas foram totalmente ou parcialmente demolidas, inclusive uma Igreja fora da cidade de Wenzhou.

Muitos bispos católicos sofreram prisão domiciliar por terem rejeitado a autoridade da Associação Patriótica (AP), uma organização instituída pelo Partido Comunista que rejeita a autoridade do Papa. O administrador apostólico, Padre Peng Weizhao, está entre os prisioneiros na província sudeste de Jiangxi, desde maio.

O bispo auxiliar de Shanghai, Thaddeus Ma, nos últimos dois anos esteve confinado em um seminário sob vigilância. O seu crime foi ter anunciado publicamente e do púlpito, durante sua Missa de ordenação em 2012, que estava abandonando a AP. A congregação saudou o seu anúncio com aplausos fervorosos, demostrando o quanto os fiéis católicos desprezam a organização.

De um certo ponto de vista, nada mudou. Durante a guerra civil chinesa a Igreja Católica era suspeita sobre os olhos do Partido Comunista Chinês. Isso derivava, em parte, do ateísmo automático do partido e pelo fato de Mao suspeitar que os católicos tivessem a lealdade dividida e estivessem sob “uma influência estrangeira”. Ele expulsou o último núncio apostólico da China em 1951, há mais de 60 anos, com acusações de espionagem. Nos dez anos sucessivos muitos sacerdotes, bispos e leigos foram condenados a longas penas. Pequim estava também irritada pela insistência da Santa Sé em querer manter relações diplomáticas com o inimigo histórico da China, a República Chinesa de Taiwan.

As relações pareciam estar caminhando em recuperação dez anos atrás. O Vaticano tinha esclarecido que estava disponível a passar as relações com Taiwan ao estado consular e a abrir uma embaixada em Pequim. Mesmo se isso ainda precisa acontecer, a oferta do Vaticano parece ter amenizado as tensões.

As duas partes tinham chegado a um acordo tácito sobre um ponto morto fundamental: a nomeação de novos bispos. Com base nos novos acordos, a Associação Patriótica teria nomeado os candidatos ao episcopado, mas estes seriam ordenados somente se o Papa, após a uma verificação dos requisitos dos candidatos, tivesse dado a própria bênção.

Quando encontrei o cardeal Joseph Zen, de Hong Kong, em 2009, ele me assegurou que “a maioria dos bispos na Igreja oficial busca e obtém a aprovação do Santo Padre para o próprio ofício”. A profunda divisão entre bispos “subterrâneos” (ordenados pelo Papa e que recusam a AP) e bispos “patriotas” (ordenados ilicitamente pela AP) parecia um ponto a se curar. O cardeal disse que defendia uma “normalização” das relações com o Governo.

Infelizmente não aconteceu. Depois que 10 bispos foram ordenados com a dupla aprovação de Pequim e da Santa Sé, o tácito acordo sobre nomeação se desfez em 2010. Naquele ano a AP ordenou ilicitamente ao episcopado uma série de candidatos sem requisitos e não aprovados. O principal entre estes era o padre Guo Jincai, do qual a aproximação ao regime foi indicada pelo fato que é membro do Congresso Popular Nacional e vice-presidente da AP. O Vaticano respondeu excomungando o sacerdote, ao qual tinham pedido repetidamente de não aceitar a “ordenação”.

Os católicos chineses permanecem cidadãos da segunda classe. Eles não são autorizados a aderir ao Partido Comunista Chinês, que é oficialmente ateu. Não podem ocupar posições governamentais de relevo e, coisa mais significativa, não podem pertencer às forças armadas. Quando perguntei a um católico chinês porque era assim, replicou brevemente: “Não confiam se carregarmos os rifles”. 

Neste momento, a perseguição parece se intensificar em várias províncias, além daquela de Zhejiang, onde as autoridades estão fechando as Igrejas. Aos cristãos de todas as fés na província próxima de Henan, foi dito que não é permitido a eles compartilhar a própria fé com quem tem menos de 18 anos, mesmo que sejam seus próprios filhos. Tentando controlar a difusão do cristianismo por parte do Partido Comunista Chinês, poderia ser uma reação aos relatórios pelos quais na China existiriam atualmente mais cristãos que comunistas.

A grande pergunta que os católicos chineses estão se fazendo é se esta nova hostilidade nas relações dos cristãos em geral e dos católicos em particular não seja um prelúdio para uma campanha nacional anticristã. O Partido Comunista Chinês usa muito uma província ou duas para “testar” uma nova política antes de aplicá-la em nível nacional. Se o que está acontecendo nas províncias de Zhejiang e Henan é um presságio para o futuro, a Igreja Católica na China, sofredora, terá muito mais motivos para sofrer nos anos que virão. E “um pastor”, como a imprensa nomeou o avião do pontífice, não aterrizará em Pequim tão cedo. 

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