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Por que a Igreja fala da família?

Colo Parish Looks to John Paul II in Family-Focused Initiative Jeffrey Bruno – pt

Jeffrey Bruno

Anna Pelleri - publicado em 06/10/14

Entrevista com Paola Ricci Sindoni, professora de filosofia moral, que explica por que a Igreja está discutindo sobre a família no sínodo

Família e Igreja, qual relação existe entre esses dois sujeitos? Perguntamos para a doutora Paola Ricci Sindoni, professora de filosofia moral na Universidade dos Estudos de Messina e presidente de Ciência & Vida.

Muitas vezes as pessoas se perguntam por que a Igreja, feita de pessoas que não se casam, fala e coloca condições sobre o casamento e a família. Como está sintetizado no instrumentum laboris, matrimônio e família têm um papel decisivo na Igreja: “tornam presente no mundo o amor entre Cristo e a Igreja”; “a família, caminho da Igreja”; “o matrimônio baseado sobre o amor exclusivo e definitivo é o ícone da relação de Deus com o seu povo e vice-versa”. 

Que a Igreja fale de temas como a família e o casamento, do que não teria experiência direta, é legítimo. Isto é válido de um modo geral: também quem não é político pode falar de política, assim como quem não faz ciência tem o direito de exprimir-se sobre implicâncias éticas das pesquisas. Dito isso, a família representa para a Igreja não uma instituição “à parte”, mas a forma privilegiada com a qual se exprime o amor de Deus para o mundo. Não é por acaso que Deus é chamado “pai” e Jesus “filho”, sinal evidente de que o mistério do amor encontra na família a sua direta expressão. Fala-se também da família como “pequena Igreja”, indicando a reciprocidade da relação e do amor que deve reinar entre os seus componentes. Consequentemente, todos as instituições, como a Igreja, que não se fundam sobre justificações utilitárias ou políticas, exprimem a sua atenção às coisas do mundo através do convite ao amor que salva.

O amor não é somente desejo, ou sentimento, mas é um valor a se cultivar, uma disciplina a aprender, até que a Revelação de Deus, cuidada pela Igreja, ilumine esta potente célula geminal da vida social que é a família. A Igreja está dentro do mundo, não no alto, ou fora; por isso, neste momento de crise dos valores humanos, quer se fazer portadora de nova esperança social, encorajando as famílias a reverem suas razões de ser, não esquecendo os enormes problemas que atravessam. 

Por que a proposta da Igreja em relação ao casamento e a família é para todos e não somente para os crentes? 

Porque a família não é um artigo de fé. É uma realidade concreta, fundada sobre a natureza (ou seja, universal), vontade de construir as ligações afetivas, redes de afeto, de respeito, do desejo de crescer junto, de se sustentar quando as coisas não vão bem e sobretudo quando as dificuldades se tornam cansativas, como por exemplo, quando um dos seus membros adoece gravemente, ou quando um adolescente se perde. É certo que a Igreja tem uma palavra “a mais” para os crentes de sua comunidade: propõe um modelo de amor que encontra em Deus a sua realização mais “concreta”: o Pai ama tanto o mundo que envia o Filho e o Filho oferece a cada homem a perspectiva da universal fraternidade. Como se vê, a terminologia da vida família tem ligação com a vida da Igreja, não por acaso chamada “esposa” do Senhor.

Quais contribuições a religião e em particular o ensinamento da Igreja ao se discutirem os problemas das famílias?

A Igreja não é uma agência de psicólogos, ou política e não tem receitas pré-formadas para resolver a crise da família. Tem, porém, da sua parte a luz da Revelação que é capaz de delinear uma antropologia libertadora. Sua tarefa é ler criticamente a deriva niilista que nos aflige, mas sobretudo quer ser um lugar de esperança e de encorajamento, buscando – como indica o Papa Francisco – que a via pastoral, aquela que exprime aproximação aos dramas familiares e solidariedade com aqueles que vivem em dificuldade, é hoje a via eclesial privilegiada a seguir.

Um pouco depois do anúncio do Sínodo sobre a família, o debate se concentrou sobre dois temas: separados/divorciados e homossexuais, com a ideia que a Igreja “mudará a rota” (ou deveria fazê-lo), sobre estas problemáticas. Qual é o verdadeiro tema de discussão ao interno da Igreja e entre a Igreja e a sociedade sobre este aspecto?

Temo que seria redutivo reconduzir o grande trabalho que está diante dos Padres sinodais a somente duas questões. Recordamos, de fato, que também a mídia continua a insistir sobre estes dois pontos, esperando revolução de perspectiva, que o tema é a família, aquela que liga uma mulher e um homem e que é aberta a vida e que deve recuperar uma maior credibilidade social, sobretudo em ordem a sua grande tarefa educativa. Que o Sínodo enfrente também questões como a comunhão aos divorciados e as uniões civis para os homossexuais – duas questões diversas entre si – é uma possibilidade que é de competência dos pastores, os quais têm no coração todos os homens e todas as mulheres, sem distinção. 

Existem pressões internacionais para que a Igreja mude de posição sobre temas como os pares homossexuais ou o divórcio? Mesmo porque o Papa Francisco falou do lobby a propósito do homossexualismo. 

Faz tempo que os grandes Organismos internacionais, pressionados pelo lobby homossexual e não apenas, colocam na mira a Igreja, como a única agência educativa universal capaz ainda de manter firme e de defender alguns valores irrenunciáveis. É obvio que a Igreja não tem temor de eventuais pressões e continua com grande tenacidade repetindo a mensagem cristã inerente à antropologia e à ética e fala através de palavras de compreensão, misericórdia e acolhimento. Esta é a relação que continua, desde sempre, a ter com os homossexuais.

Até que ponto são legítimas as mediações dos políticos que se inspiram no cristianismo quando se trata de legislar sobre alguns temas específicos como uniões homossexuais, homofobia, adoção gay, fé e as leis que as negam?

Os políticos, inspirados de maneira cristã, não podem deixar de tomar nota sobre a necessidade de mediar casos de valores diferentes, visto que vivemos em um clima pluralista. Seriam condenados à marginalização se opondo sempre a uma atitude conflitante e de oposição. As questões são delicadas e complexas; o importante é que esses se coloquem sempre com uma atitude de diálogo e voltados a encontrar soluções legislativas que salvem a dignidade de todos os cidadãos.

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CasamentoFamíliaIgreja
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