A cultura laica está transformando a ideia de casamento em algo completamente diferente do matrimônio cristão
Com os tribunais de vários países do Ocidente redefinindo o que pode ser entendido como "casamento" hoje em dia, será que estamos chegando a um ponto em que deveríamos simplesmente deixar de lado o uso dessa palavra?
É fato que, para muita gente no mundo laico, a palavra “casamento” mudou de significado. Quando a Igreja usa a palavra “casamento”, ela claramente não se refere à mesma coisa que um crescente número de países entende por esse termo.
O Catecismo da Igreja Católica define "casamento" (ou seja, o santo matrimônio) da seguinte forma:
"A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento por Cristo Senhor" (Catecismo, 1601).
No entanto, as últimas decisões judiciais tomadas em inúmeros países indicam com clareza que, cada vez mais, a definição de casamento no mundo laico nem sequer se assemelha remotamente àquilo que o Catecismo descreve.
E esta não é a primeira redefinição do casamento que acontece no Ocidente. A redefinição vem ocorrendo em etapas.
Uma primeira e nítida etapa foi o começo da legislação em favor do divórcio. A lei já não defendia o que o Catecismo descreve como uma aliança para a vida toda: o casamento, indissolúvel nos ensinamentos que a Igreja preserva com base no Evangelho, foi redefinido como um contrato facilmente quebrável pela vontade dos cônjuges.
O dramático aumento no uso de contraceptivos e a forte queda nas taxas de natalidade, embora não sejam uma redefinição legal, acabam sendo, na prática, uma espécie de redefinição cultural do casamento, se o compararmos com o que é descrito no Catecismo. A procriação e a educação da prole fazem parte da própria natureza do matrimônio, mas a cultura ocidental passou a ver este aspecto como opcional por parte dos cônjuges. Aliás, tendo semeado ao vento e redefinindo não só o casamento, mas o próprio ato sexual, estamos agora colhendo o turbilhão, também, da profunda confusão sexual.
E a etapa mais recente desse processo de redefinição do casamento é o reconhecimento legal dos chamados "casamentos" homossexuais, o que completa a ruptura com a definição de casamento feita pelo Catecismo: uma aliança estabelecida entre si por um homem e por uma mulher.
O mundo laico foi excluindo, enfim, todos os aspectos daquilo que a Igreja entende por casamento. Não será hora, então, de aceitarmos este fato e começarmos a usar uma palavra diferente para deixar bem clara a diferença entre aquilo que o mundo entende por “casamento” e aquilo que a Igreja nos ensina sobre ele?
A meu ver, deveríamos nos referir ao casamento na Igreja exclusivamente como "santo matrimônio".
De acordo com esta proposta, a palavra “casamento” seria deixada de lado por nós e substituída por “santo matrimônio”, notando que o Catecismo da Igreja Católica se refere a este sacramento, formalmente, como "o sacramento do matrimônio".
A palavra "matrimônio" também enfatiza dois aspectos do casamento cristão: a procriação e a complementaridade heterossexual. “Matri” evoca “mãe” (do latim “mater”) e “-mônio” vem de um sufixo que indica “ação, estado ou condição”. Daí o santo matrimônio indicar o sacramento em que a mulher adere ao estado que confirma a sua abertura à maternidade, dentro de uma aliança definitiva com um homem. A definição bíblica e eclesial do santo matrimônio como heterossexual e aberto à procriação é reafirmada, assim, pelo próprio termo. Chamá-lo de “santo”, além disso, afasta com clareza a confusão laica existente hoje em torno ao termo “casamento”.