O cardeal Burke considera que o cardeal Kasper propôs um caminho nunca antes tomado em toda a história da Igreja
O cardeal Raymond Burke seria o primeiro a realçar que o Sínodo Extraordinário sobre a Família, iniciado no último domingo, tem que tratar de uma série de problemas decorrentes da ignorância quase universal e da grande confusão existente em torno do significado e do valor do casamento e da família.
Em declarações aos jornalistas em uma entrevista coletiva organizada pela Ignatius Press, editora do livro "Remaining in the Truth of Christ: Marriage and Communion in the Catholic Church" ["Permanecer na Verdade de Cristo: o casamento e a comunhão na Igreja Católica"], o cardeal explicou:
"Nós temos de admitir que, em uma sociedade totalmente secularizada, o nosso ensinamento tem sido radicalmente defeituoso nos últimos cinquenta anos. Temos que abordar estas duas coisas: a secularização radical da sociedade e as tristes lacunas da catequese". Ele, e, provavelmente, todos os especialistas e jornalistas que acompanham o tema, esperavam explorar os muitos outros tópicos e potenciais soluções levantados no “instrumentum laboris” do sínodo em andamento.
Entretanto, tem havido excessivo barulho em torno de um único ponto polêmico, fartamente explorado pela mídia: a proposta feita pelo cardeal Kasper, no consistório extraordinário de fevereiro, de desenvolver um processo que permitisse aos católicos divorciados e recasados o recebimento da Eucaristia.
Levando em conta que o silêncio não é uma opção quando se está diante de "coisas que não são verdadeiras", o cardeal Burke decidiu falar reiterada e vigorosamente em defesa da verdade. No início, ele deixou claro que a proposta de Kasper já tinha sido feita e respondida anteriormente pela Igreja:
“O pedido de Kasper já foi discutido há algumas décadas, quando foi escrita a exortação do papa João Paulo II sobre a família, a Familiaris Consortio. A questão foi amplamente discutida e a Igreja deu a sua resposta de acordo com a tradição”.
Instado a falar sobre os rumos que a conversa vem tomando, considerando-se a enorme atenção atraída pela proposta do cardeal Kasper, o cardeal Burke destacou o quanto acha extrema a posição de Kasper:
“Eu, certamente, tenho poréns muito sérios quanto ao que foi proposto pelo cardeal Kasper. Ao propor isso, ele estava pedindo um caminho que, em toda a história da Igreja, nunca foi tomado; um caminho que, de alguma forma, implica desobediência ou pelo menos não-adesão às palavras de Nosso Senhor. E ninguém questiona as palavras de Nosso Senhor no capítulo 19 do evangelho segundo Mateus. Kasper pediu um diálogo sobre a sua proposta e eu posso falar do livro ‘Remaining in the Truth of Christ’ [‘Permancer na Verdade de Cristo’]: somos nove autores que decidiram responder a vários aspectos do pedido dele no tocante ao casamento, como ele propôs na apresentação que fez durante o consistório extraordinário de 20 e 21 de fevereiro. Não quero fazer referência especificamente à minha contribuição, mas, devo dizer que, depois de ler todas as outras contribuições, elas são uma resposta eficaz que ilumina e preserva a beleza da doutrina da Igreja em relação ao casamento ao longo dos séculos e mostra que a fidelidade a esse ensinamento não foi fácil em todas as épocas. A firme convicção dos autores e, realmente, a firme convicção da Igreja é que somente ao se ater à verdade do casamento e à vivência e à prática dessa verdade é que a Igreja pode dar o contributo que ela é chamada a dar, para a felicidade, não só nesta vida, mas a felicidade eterna, dos membros individuais da sociedade e também da sociedade como um todo. Se a família não é estável e forte, a própria sociedade corre um grande perigo. Isso nós enxergamos pela nossa própria experiência”.