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Abusos sexuais e o método O’Malley

Cardinal O’Malley: cohabitation, student debt threaten marriage – pt

George Martell

La Nuova Bussola - publicado em 10/10/14

Arcebispo de Boston conta sua experiência como pastor em uma diocese quase arruinada pelos escândalos

Por Stefano Magni

Há trinta anos, nas Ilhas Virgens Britânicas, o jovem arcebispo Sean Patrick O’Malley assustou-se quando viu o pequeno hidroavião no qual deveria embarcar. Diante dele tinha uma mulher um tanto acima do peso. O piloto desceu com um caderno na mão para anotar o peso dos outros passageiros antes de decolar. Quando perguntou para a mulher quanto pesava, ela sussurrou “40 quilos”. Depois se voltou ao jovem arcebispo, que respondeu “150 quilos". "Desta maneira, no primeiro dia como arcebispo, aprendi a carregar o peso do meu rebanho”. Patrick O’Malley tem 70 anos, é arcebispo de Boston e tem um grande senso de humor. 

O rebanho que O’Malley precisa guiar em Boston não é dos mais leves. Com uma população de maioria católica, mas extremamente secularizada, e uma alta taxa de imigração. Boston é um campo de batalha pela fé. “Mais difícil que um povo que nunca conheceu a fé, é o povo que a conheceu mas se mantém ‘vacinado’ contra a Palavra”, comenta o arcebispo. O’Malley foi nomeado arcebispo de Boston em 2003, uma das sociedade mais laicas da América. Assim que chegou, definiu abertamente o aborto como um “crime contra a humanidade”. No ano passado, recusou-se a receber o premier irlandês Enda Kenny, militante pró-aborto, durante sua visita ao Boston College. 

O arcebispo, usando as redes sociais em 2012, conduziu uma batalha contra a legalização da eunatásia. A sua é uma defesa intransigente da vida humana e da dignidade, desde a concepção. Por este motivo, adotou uma estratégia de tolerância zero em relação aos abusos contra menores. Este é um dos pontos mais interessantes do seu testemunho de evangelização.

O momento foi um dos mais difíceis e duros para toda a Igreja, não apenas para a diocese de Boston, de onde partiu o escândalo: “A dor das pessoas e dos padres em toda a diocese era palpável. Sabia que meu primeiro trabalho era reconstruir a Igreja de Boston”. Em 2003, antes de tudo, tratava-se de restaurar a confiança dos fiéis. “Em janeiro de 2002, no Boston Globe, apareceu na primeira página uma das terríveis histórias de sacerdotes que abusavam de crianças, as quais se encontravam sobre a responsabilidade espiritual deles. Os católicos de Boston, assim como aqueles que pertencem a outras religiões, ficaram estarrecidos com a quantidade de padres que estavam sendo acusados e pelo fato de que pudessem continuar a exercer o seu ministério. As pessoas esperavam que os padres e a hierarquia da Igreja fizessem sempre o certo, e ficaram decepcionadas com a Igreja. Foi difícil para muitos se confiar às pessoas que são os chefes da Igreja e seguir seus ensinamentos, dado que, muitos no passado tinham abusado sobretudo da confiança. Isto se tornou o motivo da não evangelização: muitos cristãos colocaram em dúvida sua fé ou pararam de praticá-la. Muitos se sentiam embaraçados por causa de sua mera filiação à Igreja e simplesmente não sabiam mais o que responder aos amigos não crentes. A Igreja e seus membros eram ridicularizados por grande parte da cultura contemporânea”. 

Ao contrário do senso comum, que pensa em uma Igreja que apenas agora, com o Papa Francisco, teria iniciado sua luta mais séria contra a pedofilia, O’Malley nos fala da dura ação disciplinar conduzida desde o verão de 2003, ainda nos tempos de João Paulo II. A grave doença dos abusos foi curada simultaneamente de três maneiras.

Primeira: assistência às vítimas

“Para mim foi um privilégio e uma fonte de grande humildade – lembra o arcebispo – encontrar centenas de vítimas de abusos e suas famílias. Suas vozes, rostos, palavras, lágrimas, ajudaram-me a entender quão profundamente tinham sido danificados aqueles que sofreram abusos. Alguns dos momentos mais tocantes foram os encontros com as famílias que tinham perdido os seus, mortos pelo suicídio, ou overdose de drogas, após a grave perturbação decorrente dos
abusos sexuais. A nossa oração pela paz das almas daqueles defuntos permanecerá sempre na minha memória e no meu coração. Fiquei emocionado nos encontros com as vítimas dos abusos e com seus familiares, muitos dos quais perdoavam os homens que os fizeram sofrer até aquele ponto. Este é um sinal extraordinário da bondade de Deus, que vai além de qualquer medida, uma mensagem de coragem, esperança e amor”.

Segundo: punição aos culpados

“Convenci-me de que era preciso se movimentar rapidamente. Demoras processuais teriam causado mais dores às vítimas e suas famílias, além de toda a comunidade católica. Instituímos políticas e procedimentos para garantir que o mal do abuso sexual não se repetisse. Instruímos estudantes sobre como reportar abusos. Mais de 165 mil voluntários foram instruídos sobre como identificar e relatar possíveis suspeitos de abusos. Verificamos o passado pessoal de cada membro do clero. Seguimos a regra da tolerância zero, assegurando que nenhum sacerdote culpado de ter abusado de uma criança pudesse exercer o ministério”, explicou Sean Patrick O’Malley.

Terceiro: assistência a um clero abatido pelo escândalo

“Uma das consequências deste mal foi sobretudo a desmoralização do clero. Buscamos remediar isso de várias maneiras. Com encontros regulares, com a formação permanente, com a criação de um escritório para a pastoral dos sacerdotes que os ajudasse a os apoiasse em todos os problemas médicos ou vocacionais que estivessem atravessando. Os encontros são bem frequentados, os novos sacerdotes gostam de estar entre eles e com o bispo. Estamos buscando colocar junto os sacerdotes de maneira que ninguém viva sozinho – explica o arcebispo. Isto é muito útil porque permite aos padres, que muitas vezes pertencem a gerações diferentes, cuidar uns dos outros”.

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