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A questão mais importante não é a comunhão aos divorciados

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Inma Alvarez - publicado em 17/10/14
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O grave problema é que, dos casais que pedem o sacramento do matrimônio, nem 10% estão preparados para recebê-lo
Segundo muitos meios de comunicação, o debate do sínodo esteve, está e estará focado na comunhãodosdivorciados novamente casados. Este é o muro contra o qual baterão todas as ondas, pois, com a doutrina católica nas mãos, a Igreja não tem potestade para dar a comunhão a estas pessoas. E é assim porque o contrário significaria afirmar que o matrimônio religioso não é indissolúvel, algo que o próprio Jesus deixou atado para sempre.
 
Pois bem, a maioria das pessoas que se casa pela Igreja é consciente de ter pronunciado um voto sagrado que ata diante de Deus? Um pequeno passeio por qualquer paróquia do mundo deveria nos fazer refletir: a maior parte dos casais que a busca para casar-se não tem uma experiência de fé, nem sequer aparece na paróquia pelo resto da vida.
 
Muitos não receberam a Crisma e estão sem se confessar praticamente desde a primeira comunhão. A maior parte deles quer “regularizar” uma convivência já existente ou seguir a tradição familiar. Se perguntarmos sobre suas intenções acerca da doação de suas pessoas, a fidelidade ou a abertura à fecundidade, o mais provável é recebermos um olhar perplexo como resposta.
 
Hoje, em nossas sociedades, tão feridas do ponto de vista antropológico, um sacramento “de risco” como o casamento requer uma sólida vida de fé. Mas será que este déficit de vida cristã se soluciona com um curso de algumas semanas?
 
Para receber qualquer sacramento (exceto o Batismo dos recém-nascidos e a Unção dos Enfermos, por motivos óbvios), é preciso preparar-se durante anos, e não está claro que inclusive isso seja suficiente. O que acontece com o matrimônio, então?
 
A realidade, como comentava um catequista de cursos de noivos, é que, dos casais que pedem o sacramento, nem 10% estão preparados para recebê-lo. “Nós dizemos isso ao pároco, mas ele nem se importa”, afirma. E os dados confirmam: entre 3 e 5 anos depois, quase todos se divorciaram. Pelo contrário, é um milagre que alguns deles, depois de anos e muitas feridas, voltem a procurar a Igreja!
 
Se um casal com experiência de fé, que se casa consciente do que faz, que tem uma comunidade eclesial de referência e conta com o auxílio da graça, ainda assim passa por momentos em que tudo parece desabar e precisa se agarrar à fé inclusive heroicamente, o que farão os que constroem sua casa sobre areia?
 
A realidade é que a maioria dos que se casam pela Igreja está assinando uma hipoteca que não poderá pagar. Uma hipoteca que os fechará a volta para a comunhão no futuro, se a lei for aplicada ao pé da letra.
 
É preciso abrir os olhos: o sacramento do matrimônio não é um assunto privado entre duas pessoas, mas um bem e uma responsabilidade para a Igreja. Os sacerdotes têm o dever (que ficou claro no Direito Canônico e foi repetido por Bento XVI em um dos seus discursos à Rota Romana) de informar-se e entrevistar seriamente os noivos sobre suas intenções.
 
É preciso que haja uma pastoral sólida antes e depois do casamento. Admoestações, testemunhas, padrinhos… todos os requisitos prévios, que hoje são meras formalidades, precisam ser redescobertos, para que os noivos entendam sua razão de ser. O matrimônio cristão precisa ser entendido como algo muito sério por parte de todos, começando pelos sacerdotes.
 
E o que fazer com os que voltam depois de um fracasso? Será mesmo que a melhor resposta é dizer que deveriam ter lido o papel antes de assiná-lo? Talvez essas pessoas digam, com razão: “Por que você não nos aconselhou a não fazer isso, se sabia que não estávamos preparados?”.
 
O problema está em que herdamos uma pastoral sacramental que dá por descontada a fé dos batizados. E esta fé hoje, em muitos casos, já não existe. O convite à misericórdia com os que cometeram erros também precisa de um reconhecimento, por parte de muitas paróquias, de que os primeiros que não levaram a sério o matrimônio cristão fomos nós. E mudar o rumo o quanto antes.