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Papa Francisco está pronto para ir ao Iraque

Pope Francis – General Audience 1 Sabrina Fusco – pt

© Sabrina Fusco / ALETEIA

Chiara Santomiero - publicado em 28/10/14

Patriarca de Bagdá explica a situação dramática provocada pelo extremismo islâmico e fala do comprometimento da Igreja com os que sofrem

Por ocasião do Consistório que o Papa Francisco dedicou sobretudo a dramática situação do Oriente Médio, com particular atenção à Síria e ao Iraque, Aleteia entrevistou o patriarca caldeu de Bagdá, Louis Raphael I Sako, que participou do encontro junto com outros 86 cardeais e patriarcas das Igrejas Católicas Orientais. 

Durante o Consistório, quais pedidos o senhor fez pelo apoio da sua comunidade?

Primeiramente me voltei ao Papa Francisco: ele é o papa de todos os cristãos. Aqueles que têm maior necessidade que ele são o “pequeno rebanho” no Iraque, na Síria. A nossa gente precisa da sua palavra de consolação e de encorajamento. Pedi que escrevesse uma mensagem pessoal, uma pequena carta pastoral, como fazia o apóstolo Paulo com as primeiras comunidades cristãs, para exortar os cristãos a perseverarem. 

O senhor não pediu que ele fosse visitar pessoalmente?

Claro, até mesmo por apenas um dia, uma breve visita. A sua presença nos apoiará diante do governo, diante das autoridades muçulmanas. Até mesmo as pessoas dirão: “os cristãos não estão esquecidos nem isolados”. 

O que o Papa respondeu?

“Estou pronto”. Em todo caso, nestes dias escreverá uma carta. 

Como o senhor descreveu ao Consistório a situação dos cristãos no Iraque e no Oriente Médio?

A presença cristã está ameaçada: corremos risco de desaparecer. Somos oprimidos e forçados ao êxodo. Esta forma de terrorismo do Estado Islâmico atinge todos, especialmente os cristãos. Trata-se de uma ideologia fechada, que se afirma com a violência. O povo vive em pânico, por isso a Igreja, mas também a comunidade internacional deve proteger as minorias e uma presença cristã histórica, que tem a tarefa do diálogo e mediação entre as diferentes comunidades.

No encontro durante o consistório se falou da dificuldade dos bispos, diante de uma situação assim difícil, que coloca em risco a vida, de aconselhar os cristãos a fugir ou permanecer. O que o senhor pensa?

Nós estamos ali há dois mil anos: temos uma missão e uma tarefa e se existe um futuro para a Igreja chamada Igreja caldeia, este não se encontra na diáspora, mas no Iraque. Se todas as famílias forem embora e também os padres, toda a história e o patrimônio cristão caldeu será deletado. Haverá uma ruptura com dois mil anos de história. Existe um futuro, existe um amanhã para os cristãos, mas se permanecerem unidos. Temos a coragem de dizer as coisas com clareza e reivindicar os direitos deles. Nem todos os muçulmanos são jihadistas! Encontro continuamente os responsáveis religiosos e civis, e eles querem nos ajudar. É uma situação muito triste, mas não durará. É preciso ter paciência e perseverança. O que quer dizer esperança cristã se no concreto não a vemos? É preciso ajudar os cristãos a permanecer. Essa “Paixão” passará.

Por isso enviou uma carta chamando os sacerdotes e os religiosos que saíram do Iraque sem autorização dos superiores intimando-os a retornar?

Os sacerdotes que fugiram sem nenhum documento canônico encorajam outros a saírem, até mesmo as famílias. Pediram asilo nos países ocidentais, enquanto outros permaneceram, fiéis ao seu povo. Não existe justiça nisso. Se nós não colocamos um limite, também outros irão embora, a Igreja e o país permanecerão sem cristãos. Nós temos uma vocação. Um sacerdote se doa ao Senhor e ao serviço: não deve buscar sua liberdade, sua segurança. O seu futuro é a fidelidade a Cristo e ao povo, não na América ou na Austrália. Alguns dizem que têm cidadania destes países, mas o que isso tem a ver com o sacerdócio? Como pode um sacerdote deixar seu povo e ir ser pároco nos Estados Unidos sem a permissão do seu superior?

O que acontecerá se eles não retornarem?

Serão suspensos. Nós somos pastores e devemos dar o bom exemplo à nossa gente, devemos servir ao rebanho.

A Turquia decidiu intervir de maneira direta, autorizando a passagem dos peshmerga curdos e sobre o campo tem uma coalizão internacional que opera: o senhor acha que esta é a estrada para resolver os problemas do EI?

Não penso, bombardear não resolverá o problema. Existem discursos mais desanimadores sobre a continuação das operações militares: diz-se que serão necessários dois anos ou cinco. Significa dizer às famílias refugiadas que não podem retornar a suas casas e que devem ir embora. É como dizer ao EI: vocês ainda têm tempo. Ocorrem operações por terra, mas também uma estratégia para desmontar esta ideologia e mudar os programas de educação religiosa e de história, falar de maneira mais aberta e moderada do islamismo. Isto é tarefa dos muçulmanos: cumprir uma nova leitura do islamismo e buscar uma mensagem para o povo de hoje e um sentido para a vida deles. O EI mata também os muçulmanos moderados e um islamismo fechado não tem futuro. É preciso trabalhar junto a um projeto de cidadania que deixe a religião como uma escolha pessoal. Por que colocar a religião na carteira de identidade? Hoje somos avaliados segundo a religião, e alguns são de série “A” e outros de série “B”. Não é justo. Sobre isso, já iniciamos um diálogo com as autoridades muçulmanas. O fundamentalismo é um perigo para os muçulmanos tanto quanto para os cristãos. Um desafio para todos. 

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