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Qual é o melhor modelo de família hoje?

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Revista Humanitas - publicado em 29/10/14
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Que tipo de família responde mais adequadamente aos desafios atuais: autoritária? Passiva? Afetiva? Paternalista?
Que tipo de família é realmente capaz de ser um adequado agente educativo no contexto dos desafios contemporâneos? Podemos identificar alguns modelos preponderantes de família que, por suas características, são estruturalmente inadequados para alcançar o objetivo de uma educação autêntica.
 
Menciona-se primeiramente a chamada “família afetiva”, que tem como elemento decisivo das relações a dimensão afetiva, fazendo desaparecer a dimensão paterna da autoridade e, por conseguinte, reforçando de maneira desproporcional a figura materna (sentimentalismo materno), em uma oscilação permanente entre a reafirmação incondicional da segurança e o recato afetivo.
 
Nisso existe o perigo de confundir o amor familiar autêntico com uma emotividade que prejudica a tarefa educativa, encaminhada a promover na outra pessoa, em particular o filho, a maturidade de um indivíduo capaz de amar e trabalhar, de inserir-se na sociedade de construir ele mesmo sua própria família.
 
A “família autoritária”, característica de um tipo de sociedade já superado, mas ainda presente em certa medida, pode ser descrita como um complexo orgânico de funções entre as quais emerge a vontade de quem está em possessão da autoridade paterna.
 
A educação aqui concebida como a transmissão de normas que o educando deve aceitar e interiorizar porque provêm da autoridade competente (paternalismo), enquanto a virtude favorecida é sobretudo a obediência, deixando-se de lado a necessidade de uma livre verificação pessoal da proposta que nasce da tradição.
 
Parece ser igualmente inadequada para a educação a figura da “família passiva”, que se limita a oferecer aos seus membros, sobretudo aos filhos, apenas as necessidades básicas, delegando a outras instituições sociais (especialmente a escola) a tarefa educativa, para cujo desempenho a família se sente incompetente. Espera-se que os filhos escolham seus próprios caminhos e eles ficam à mercê das influências do ambiente.
 
O testemunho e o risco educativo da família
 
Diante das insuficiências que estes modelos mostram na atualidade, faz-se necessário o testemunho e a coragem de uma proposta que contribua para a autêntica liberdade dos filhos.
 
Os pais precisam saber cumprir a promessa de bem que, como fundamento da sua relação de amor e do casamento, se encontra também na origem da vida que transmitiram aos filhos e que, na medida em que estes crescem, apresenta a urgência de respostas adequadas de sentido para seu cumprimento.
 
Acima de tudo, é necessário recordar que a competência educativa não é de caráter técnico, mas humano; não é feita de metodologias, mas de uma atmosfera. Trata-se apenas de apresentar a própria vida e os motivos que a sustentam, que em particular determinam a relação de amor dos pais, da qual surge também a vida dos filhos.
 
É uma tarefa simples, mas também especialmente imponente, e só pode ser vivida à sombra de uma paternidade maior, sobre a rocha desse amor do Pai o qual tudo tem sua origem e tudo encontra significado e cumprimento.
 
É preciso ser conscientes das dificuldades atuais da educação, especialmente na transmissão da fé. Certamente, existe uma dimensão permanente em toda relação educativa e da proposta evangélica, que lhe confere um caráter dramático e ao mesmo tempo fascinante: aponta inevitavelmente à liberdade do outro, chamada a uma decisão.
 
Nem os pais, nem os educadores, nem os amigos, nem os sacerdotes, nem os catequistas podem substituir a liberdade do jovem ao qual se dirigem. A proposta cristã, longe de evitar ou mascarar este desafio, está chamada, seguindo o exemplo de Jesus com os interlocutores da sua época, a interpelar a liberdade de cada pessoa, buscando-a, despertando-a, provocando-a, talvez sustentando-a, sem pretender jamais substituí-la.

 
Este traço essencial da formação humana, que a qualifica como um autêntico “risco”, se une hoje a novas dificuldades, próprias do ambiente cultural no qual vivemos e que contribuem notavelmente para obstaculizar o processo de personalização por parte dos jovens.
 
Em particular um obstáculo insidioso é constituído por esta ditadura do relativismo que, ao não reconhecer nada como definitivo, deixa como última medida somente o próprio eu, com seus desejos.
 
Se não existe nenhuma verdade, então o homem está condenado a viver na prisão das suas interpretações; se não existem referências de ética, então estará à mercê dos seus desejos e interesses.
 
Como será possível edificar sobre estas bases uma comunidade humana na qual se respeitem e promovam a dignidade e os direitos de cada um, sobretudo dos mais fracos? Como será possível a educação em semelhante horizonte relativista? Sem a luz da verdade, cedo ou tarde o homem estará condenado a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, da validez do seu compromisso com a comunidade.
 
Ainda que a tarefa educativa da família não possa basear-se na autoridade indiscutível da tradição e não possa contar com a força persuasiva de um contexto cultural homogêneo, abre-se, no entanto, precisamente no núcleo de semelhantes dificuldades, um caminho mais árduo e originário para o seu desenvolvimento: o caminho do testemunho.
 
Com caráter central na ação educativa contemporânea, como sempre adverte o Santo Padre, revela-se a figura de quem dá testemunho, que se torna ponto de referência precisamente enquanto sabe dar razão da esperança que sustenta sua vida.
 
Aqui se revela também a grande lei da educação: só podemos ser pais se nunca deixarmos de ser filhos e de ser educados em primeiro lugar por Deus. Somente dobrando os joelhos diante do Pai, de quem toma nome toda paternidade no céu e na terra (cf. Efésios 3, 14-15), é possível realizar, sem presunção e sem desânimo, essa obra de promoção da vida, tão grande e delicada, verdadeiramente divina.
 
(Artigo publicado originalmente pela Revista Humanitas)

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