O Kremlin anunciou que "respeita" os resultados das eleições presidencial e legislativas realizadas neste domingo no leste separatista da Ucrânia – divulgaram agências russas de notícias.
"As eleições nas regiões de Donetsk e de Lugansk transcorreram na calma, com uma taxa de participação elevada", informou o Kremlin, citado pelas três principais agências russas.
"Respeitamos a vontade dos habitantes do sudeste (da Ucrânia)", completou Moscou.
"Os que foram eleitos receberam um mandato para resolver os problemas e restabelecer a vida normal nas regiões do leste da Ucrânia", afirmou o Ministério russo das Relações Exteriores, que convocou o diálogo entre os eleitos e o governo da Ucrânia.
Já a União Europeia considerou que a eleição organizada hoje foi ilegal, não será reconhecida e representa um "novo obstáculo" para uma solução pacífica para o conflito.
"Considero (a eleição) de hoje um novo obstáculo no caminho para a paz na Ucrânia", declarou a nova chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini, em uma nota.
Federica alega que as eleições de hoje foram "contrárias à letra e ao espírito" dos acordos concluídos em Minsk, em setembro passado, entre Kiev e os rebeldes com o apoio de países ocidentais e da Rússia.
O acordo prevê eleições em conformidade com as leis ucranianas no início de dezembro, nas zonas controladas pelos rebeldes.
A representante da diplomacia europeia declarou ainda que as eleições previstas pelos acordos de Minsk constituem "o meio legal e legítimo" de eleger autoridades locais nesses territórios da Ucrânia.
"Convoco todas as partes a trabalhar por essas eleições", insistiu.
Sem se referir à Rússia diretamente, ela destacou que a paz supõe "vontade política e boa-fé" e manifestou "a esperança de que todas as partes reafirmem seu compromisso" com o que foi acordado em Minsk.
Pesquisa dá vitória a Zakhartchenko
O "primeiro-ministro" da autoproclamada república de Donetsk (DNR), Alexandre Zakhartchenko, foi eleito "presidente" neste domingo, com 81,37% – de acordo com pesquisa de boca de urna divulgada pelo chefe da Comissão Eleitoral instalada para esse pleito por parte da DNR, Roman Liaguine.
Segundo a mesma enquete, seu partido, o "República de Donetsk", recebeu 65,11% dos votos nas eleições legislativas.
Em novo boletim, Liaguine afirmou que Zakhartchenko aparece com mais de 70% dos votos, após a apuração de mais de 50% das urnas.
Filho de mineiro, o comandante de unidades rebeldes Zakhartchenko afirmou que seu desejo é "construir um novo Estado, que se tornará legítimo depois das eleições, e recuperar os territórios do leste atualmente sob controle ucraniano".
"A Ucrânia não quer a paz, o que quer que ela diga. Claramente, ela joga um jogo duplo", criticou Zakhartchenko, após ser declarado vencedor das urnas, neste domingo.
"Até o momento, não consigo entender a política feita por Kiev. Estamos prontos para o diálogo com eles, mas esperamos, de sua parte, uma atitude normal e razoável", acrescentou.
Hoje, o presidente da Ucrânia, Petro Poroschenko, classificou a eleição separatista de "farsa realizada sob a ameaça dos tanques" e garantiu que o governo reagirá a esse desafio.
"Essa farsa realizada sob a ameaça dos tanques e das metralhadoras organizada por duas organizações terroristas na região de Donbass é um acontecimento terrível", declarou o presidente, referindo-se às repúblicas pró-russas de Donetsk e de Lugansk, segundo um comunicado.
"A Ucrânia reagirá a esse desafio de maneira adequada", prometeu.
Os combates entre separatistas pró-russos e o Exército ucraniano deixaram mais de quatro mil mortos em seis meses, segundo balanço da ONU.