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Ordenar homens casados ou viúvos onde não existem padres?

sacerdote con niño – pt

© Louis Marie MELCHIS / CIRIC

Sacerdote con niño

Terre D'America - publicado em 06/11/14

Ganham força as discussões sobre como remediar a carência de sacerdotes nas regiões mais distantes

Por Daniele Metelli

Um alerta ressoa no Brasil. Alguns bispos lamentam a insustentável carência de sacerdotes em suas dioceses e enviaram uma nota diretamente ao Papa Francisco. Quem levou a mensagem foi o bispo de origem austríaca Dom Erwin Kraütler, atualmente responsável pela prelazia do Xingu, o maior do Brasil.

Às margens de um encontro com o Papa no último mês de abril, Dom Kraütler deu uma entrevista exclusiva ao “Salzburger Nachrichten”, lamentando a dificuldade de prestas assistência espiritual em um território de 354.000 km2, com cerca de 700.000 fiéis e 800 comunidades, com somente 27 sacerdotes. Com uma triste consequência: as comunidades religiosas podem celebrar a eucaristia somente duas ou três vezes ao ano e administrar os sacramentos fundamentais do caminho cristão somente durante essas visitas. 

Na gama de possíveis soluções, o colóquio com o Papa tocou o tema espinhoso dos “viri probati”, homens de fé e virtudes comprovadas, competentes e respeitados no interior de uma determinada comunidade. Viúvos ou casados com filhos adultos, capazes de fornecer para si o próprio sustento, poderiam ser “ordenados padres” em tempos relativamente breves. Para os casados, o consentimento da mulher seria uma outra condição. Os “viri probati” seriam primeiramente chamados a um ministério circunscrito, pastores de pequenas províncias de comunidade, mas num futuro, se a experiência se revelasse à altura das necessidades como esperam os seus propagadores, o campo de ação poderia se estender como as suas responsabilidades. 

Um “cavalo de Troia” para a abolição do celibato? Não, uma preocupação pastoral para as populações distribuídas em vastos territórios, que não têm praticamente acesso aos sacramentos da Igreja ou podem recebê-los apenas ocasionalmente em suas vidas. 

O debate é antigo e envolvente. Até mesmo outras vozes eminentes, entre as quais a do cardeal Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, apesar dos seus 80 anos, é ativo na sua atividade de Vigário episcopal da região amazônica, uma das áreas mais carentes de sacerdotes. Quando era prefeito da Congregação para o Clero, Hummes tinha levado adiante a discussão sobre os “viri probati”, mas com resultados escassos. Já em 2006 tinha declarado em um jornal brasileiro que “o celibato não é um dogma, mas uma norma disciplinar da Igreja". Ele destacava que alguns apóstolos eram casados.

A aproximação entre o Papa Francisco e o cardeal Hummes poderia garantir, por sua vez, aquela que parece ser uma superação de um problema. Não podemos esquecer o quanto o Papa é sensível aos debates de natureza pastoral. Ele mesmo, em público, tinha falado do “modelo México”. Em uma diocese com carência de sacerdotes seriam mais de 300 os diáconos que colaboram nas práticas de assistência espiritual, mas sob a norma de não poder celebrar a Missa dominical para os fiéis. Estes diáconos casados, que já receberam uma primeira consagração, poderiam porém ser chamados ao sacerdócio através de uma espécie de “atualização” da consagração.

É evidente a exigência de uma reforma da Igreja em sua presença junto às comunidades distantes e aos territórios vastos e sem sacerdotes. A Igreja de hoje, sob a liderança de Francisco, parece ser sensível aos ventos de mudança, quando está em jogo o que mais importa para um cristão: testemunhar Cristo e contribuir para a construção do Reino de Deus já na Terra. Para reformar a Igreja é preciso ser corajoso, audacioso. Mas audácia não quer dizer “agir sozinho”; para Francisco, mesmo em uma matéria tão delicada como esta, o ponto de partida está ligado às Conferências episcopais regionais e nacionais. Somente assim se poderá fazer o bem da Igreja, que “vive” em caminho.

(A Aleteia entrou em contato com o cardeal Hummes para que ele comentasse essas informações, mas ele não quis se pronunciar)

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