Tudo isto se reflete na cultura de autoajuda que infecta hoje até mesmo o catolicismo. As pessoas que sofrem poderiam “mudar de vida” se simplesmente seguissem as instruções: os “dez passos para isto”, os “doze passos para aquilo”. O sucesso é vendido como tão fácil que os fracassados só podem ter optado por não ter sucesso.
Um talentoso amigo meu me comentou, pouco tempo atrás: “Como cristãos, podemos não esperar ‘a nossa melhor vida aqui e agora’, mas esperamos, sim, que a nossa fé nos dê algumas das melhores coisas aqui e agora. Mesmo que seja apenas em algumas áreas. É uma tentação humana universal, que acaba sendo agravada pelo clima consumista em que vivemos. Pense no complexo que existe no mundo católico sobre a castidade. Boa parte dele parece baseada numa versão velada dessa ‘teologia da sua melhor vida aqui e agora’. ‘Você quer o melhor do sexo? Então espere até depois de casado! Eu segui o passo-a-passo de Jesus para a minha vida sexual e nunca precisei me preocupar com doenças sexualmente transmissíveis! Esperei até o casamento e Jesus aprovou a nossa excelente vida sexual!’. E pontos de exclamação, muitos pontos de exclamação!”.
O fato é que Jesus escolheu como seus amigos mais íntimos o equivalente aos encanadores do século I. Era com aqueles amigos que ele conversava depois dos intensos dias de pregação e dedicação ao povo. Ele andava com prostitutas, bêbados e pequenos criminosos (os coletores de impostos), os fracassados do mundo; e também com os fariseus, que os evangelhos nos mostram que eram fracassados à sua própria maneira. Mas os primeiros sabiam que eram fracassados aos olhos do mundo. Os fariseus não sabiam.
Aquelas pessoas simplórias sabiam – e o mundo não as deixava esquecer – que eram as mais propensas a ouvir e aceitar a oferta do Salvador, que nos disse: “Aceite a minha graça. Você não vai sair sozinho dos buracos em que se mete. Você vai estragar tudo mais uma vez, e mais outra, e mais outra. Mas eu amo você e quero que você seja feliz”.
O pelagianismo é ruim para nós, pecadores. E o fracassado que sabe que é um fracassado é capaz de entregar mais facilmente a sua vida ao Grande Fracassado que morreu por todos na cruz.