Quando se anda pelas ruas da China, veem-se muitas pessoas usando cruzes hoje em dia. Se você perguntar, elas vão responder que são cristãs, mesmo que, na verdade, não saibam quase nada sobre a fé. Um chinês se torna membro de uma igreja doméstica frequentando-a nem que seja uma única vez. Um chinês passa a ser cristão ao ler o Evangelho de Marcos e fazer uma oração em que aceita Jesus como seu Senhor e Salvador. Estes passos são importantes, é claro. Mas se o número de protestantes na China está crescendo muito mais rápido que o número de católicos, é porque a Igreja católica exige muito mais do que isso dos seus membros.
Eu me lembro das faces radiantes das 26 crianças que receberam a Primeira Comunhão na Catedral da Imaculada Conceição. Todas elas tinham recebido vários meses de catequese, memorizado as suas orações e entendido o significado da Eucaristia. Fiquei feliz ao ver que o número de meninos e meninas era praticamente igual, o que é incomum na China, onde tantas meninas, ainda no ventre da mãe, são vítimas da política do único filho, que provoca uma desproporcional maioria de meninos.
Vários bispos católicos estão em prisão domiciliar na China por rejeitarem a autoridade da Associação Católica Patriótica Chinesa (ACP), uma organização de fachada criada pelo Partido Comunista Chinês para monitorar e controlar os católicos. Isto inclui o bispo de Xangai, dom Thaddeus Ma, que está em prisão domiciliar no Seminário de Sheshan há mais de dois anos. Dom Ma aproveitou a sua missa ordenação para anunciar que estava renunciando à ACP. Seu anúncio foi recebido pela congregação de 1.000 membros com aplausos estrondosos, o que não é surpreendente se considerarmos o desprezo dos fiéis católicos por aquela organização manipulada pelo governo.
Eu me lembro da face de um jovem padre, a quem chamaremos de José, que estava planejando ir a Roma para estudar bioética. O governo ainda acredita que ele é seminarista, disse-me ele. Na verdade, José já foi ordenado por um bispo considerado clandestino pelo governo chinês, mas está mantendo o seu sacerdócio em segredo. "Quando um bom bispo da Associação Patriótica vier à minha cidade, eu vou ser ordenado por ele. Assim, o Partido vai me reconhecer como sacerdote e não como apenas seminarista. Isso tem suas vantagens". O que José quer dizer com "bom bispo da Associação Patriótica" é que esse bispo seja reconhecido tanto por Pequim quanto por Roma. Há alguns, como o atual arcebispo de Pequim, dom Joseph Li Shan.
A conversão da China ao cristianismo tem sido um processo longo. Os cristãos nestorianos chegaram à China no século VII, mas obtiveram poucas conversões. Os jesuítas chegaram no século XVI, alimentando a esperança de que, se pudessem converter o imperador, milhões de chineses também abraçariam a fé. O grande jesuíta Matteo Ricci impressionou o imperador Wanli, da dinastia Ming, que presenteou à Igreja o terreno em que a Catedral do Norte, de Pequim, está hoje situada. Um dos sucessores do pe. Ricci chegou muito perto de converter o imperador Shunzhi, da dinastia Qing, que participou de cerca de vinte e quatro missas na mesma igreja. A história do mundo teria sido muito diferente se eles tivessem conseguido.
Hoje, quatro séculos depois, o Espírito Santo está mais uma vez em ação de maneira muito poderosa nesta terra tão antiga, despertando os corações e as mentes do povo chinês para o amor e o perdão de Deus.
A face humana desse amor e perdão pode ser vista na nave leste da Catedral do Sul, também em Pequim, onde está pendurada uma bela representação de Maria com o Menino Jesus. Ela veste o traje de uma imperatriz manchu, enquanto o Menino está vestido como o príncipe herdeiro manchu, aquele que um dia reinará sobre toda a China. Oremos!